Sem a sombra de Serra, Aécio assume protagonismo no PSDB e eleva o tom do discurso contra o governo, enquanto Dilma e Campos, ex-aliados, delimitam terreno em ato oficial que os colocou juntos perante faixa importante do eleitorado: a classe operária
Aécio ataca PT e apresenta proposta de governo
Júnia Gama e Fernanda Krakovics
BRASÍLIA- Livre do obstáculo interno que era a disputa contra o ex-govemador José Serra, e com um discurso mais agressivo de candidato de oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) atacou o que chamou de "governismo de cooptação" do PT, afirmando que o PSDB é o verdadeiro partido da mudança.
No lançamento, ontem, do documento que baseará as discussões do PSDB sobre projeto de governo, evento moldado para que brilhasse sozinho, Aécio endureceu as críticas sobre a gestão petista.
— Não podemos ver a apropriação do Estado brasileiro por um grupo. É no momento em que percebo uma encruzilhada clara pela frente que o PSDB vem dizer a todos os brasileiros que encarnaremos a mudança de verdade de que o Brasil precisa, nos seus valores. Ética e política não devem ser divorciadas como estão hoje — discursou Aécio, antes de apresentar os 12 tópicos da proposta de um futuro programa de governo.
Apesar de criticar duramente o PT, o presidenciável tucano afirmou que não fará do debate um vale-tudo e que seu interesse é discutir propostas para o Brasil. Ao contrário do que esperavam alguns tucanos, o senador evitou citar diretamente o julgamento do mensalão.
— O PT, que nasceu com proposta transformadora e já teve nosso respeito, abdicou disso. Hoje tem um projeto de poder. Aí é vale-tudo, é o diabo. Para nós, a cada ataque mais violento, vamos olhar para frente e dizer que nossa responsabilidade é com o Brasil. Queremos ganhar a eleição não para o PSDB, não para nossos companheiros ocuparem cargos públicos, mas porque acreditamos na política como instrumento de transformação da vida das pessoas — afirmou.
Aécio ressaltou que o PSDB foi o responsável pela estabilização da economia e pela Lei de Responsabilidade Fiscal, e criticou a gestão petista na condução do tema. Aproveitou para alfinetar um dos programas mais caros ao governo Dilma Rousseff, o Mais Médicos, que deve ser usado como vitrine nas eleições do ano que vem.
— Nós criamos a Lei de Rèsponsabili-dade Fiscal; nossos adversários, a contabilidade criativa. Hoje, há manipulação dos dados e incompetência para tratar a inflação. E, quando perguntam sé os médicos cubanos poderão continuar trabalhando no Brasil, eu respondo que sim, eles continuarão, mas receberão os R$ 10 mil a que têm direito, porque nós não financiaremos uma ditadura com o dinheiro do Mais Médicos.
As críticas de Aécio não ficaram sem resposta de petistas. Deputados e senadores do PT afirmaram que o PSDB não está em condições de dar liçõés depois do mensalão mineiro e do suposto esquema de cobrança de propina e formação de cartel nas licitações do metrô dos governos tucanos de São Paulo.
— O PSDB não tem condições de dar lição de moral ou de ética ao PT. Ele (o PSDB) é responsável pelo mensalão original (em Minas). E o esquema de São Paulo é, sem dúvida, o maior de que se tem notícia de suspeição de desvio de dinheiro público — afirmou o senador Jorge Viana (PT-AC).
Além dos ataques ao PT, Aécio assumiu a defesa das privatizações feitas pelo governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990, afirmando que o PSDB modernizou o Brasil.
Apesar de ter ocorrido em um auditório com quase todos os assentos ocupados, o evento foi esvaziado de grandes nomes do PSDB. Além do ex-govemador José Serra, outros ausentes foram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, consultados para a formulação do documento apresentado ontem. A ideia era que Aécio brilhasse sozinho mesmo, mas para evitar o esvaziamento do evento foram enviados na semana passada e-mails de convocação de comparecimento a dezenas de assessores do PSDB na Câmara e no Senado.
Em clima de pré-campanha, Aécio voltou a atacar o PT em entrevista após o evento e afirmou que, durante o período eleitoral, é esperado que o partido recorra a "baixarias":
— A arma daqueles que estão desesperados é a baixaria, inclusive na história do PT, haja vista os dossiês que aparecem a cada época de eleições.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário