Afagos e recados
Dilma e o governador Eduardo Campos trocaram elogios e recados. Ele disse que talvez seja a última vez que a recebe; Dilma, diante das críticas ao baixo crescimento, afirmou: "O Brasil é do tamanho que quisermos."
Dilma e Campos trocam afagos e indiretas em novo encontro
Letícia Lins
IPOJUCA (PE)- A cerimônia era oficial, mas não houve como evitar o clima de campanha, A presidente Dilma Rousseff esteve em Pernambuco para vistoriar as obras da refinaria Abreu e Lima, e participar da cerimônia de conclusão de uma plataforma de petróleo no Estaleiro Atlântico Sul, ambos em Ipojuca, a 51 quilômetros de Recife. Também anunciou recursos para intervenções em mobilidade urbana na Região Metropolitana. Candidata à reeleição, ela passou mais de meia hora entre os operários das duas empresas, distribuindo abraços, beijos e autógrafos. Pré candidato à sucessão presidencial — e provável adversário da petista em 2014 —, o governador Eduardo Campos (PSB) acompanhou discretamente a movimentação da petista, mas chegou ao local da cerimônia acenando efusivamente para os operários e fazendo o V da vitória, normalmente utilizando no fervor dos comícios e das caminhadas na caça ao voto. Dilma e Campos até trocaram elogios, mas não deixaram de dar os seus recados, nas entrelinhas dos discursos.
Logo ao chegar à Refinaria Abreu e Lima, a presidente caminhou pelo canteiro de obras, guardando certa distância do socialista, que nos últimos meses vem endurecendo o discurso contra a política econômica do governo. No final da manhã, ela deu um recado para o socialista, sem citar o nome dele.
— Quero dizer para vocês que nosso país é do tamanho que quisermos para ele. E vocês quiseram, ao construir essa refinaria, um país imenso, um país que vai cumprir todo o seu potencial — afirmou Dilma, anunciando que desceria do palanque para "autografar as camisetas de vocês" A presidente não só assinou nas roupas dos operários, como permitiu que eles o fizessem, também, na sua, um uniforme da Petrobras. Ao chegar ao estaleiro, em sua segunda visita, fez novo corpo a corpo com os trabalhadores e foi saudada pelo governador, que não disfarçou a intenção de disputar o pleito em 2014.
— Talvez seja essa a última vez que tenho a satisfação de recebê-la como governador em território pernambucano. Quero trazer aqui nossas palavras que sempre foram de boas-vindas. Construímos uma relação aq, longo da caminhada, que não foi fácil. Uma caminhada para ajudar a melhorar a vida do povo brasileiro. Temos consciência de que para alguns, esse seria um momento que poderia ser entendido como um encontro de quadros políticos que amanhã poderão, legitimamente, viver uma disputa democrática — disse Campos, referindo-se à sucessão presidencial do ano que vem.
O socialista ressaltou, no entanto, que era outro o significado do encontro de ontem.
— Esse é um encontro entre uma presidente democraticamente eleita e um governador que foi reeleito pelo seu povo, e que sabe separar o interesse público da disputa política — afirmou Campos.
O governador não deixou de citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ajudou "a construir o Brasil de hoje" Mesmo sem estar presente, foi Lula quem colheu os aplausos mais calorosos dos operários, a cada citação do seu nome.
Ao falar, Dilma elogiou a postura de Campos, com quem viveu um clima tenso em sua visita anterior a Pernambuco, ainda no primeiro semestre, em Serra Talhada, a 418 quilômetros de Recife. Na ocasião, o socialista ensaiava os primeiros passos para sua pré-candidatura. Ontem, foi a primeira vez que Dilma se encontrou com ele, após o PSB ter desembarcado do governo federal. Mesmo assim, ambos trocaram amabilidades.
— Queria agradecer a relação fraterna e o alto nível das relações que sempre pautaram a nossa convivência — disse Dilma, referindo-se a Campos.
Mas a presidente reservou elogios públicos para os seus grandes aliados do momento no estado, os senadores Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro Neto (PTB). Em cerimônias anteriores, era sempre o governador que colhia esse tipo de comentário, tanto nos tempos de Lula quanto nos primeiros anos da gestão Dilma.
Fonte: O Globo
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