Aécio Neves pode até ser eleito presidente da República em outubro de 2014. Tudo pode. Mas sua campanha parece bem desconectada do momento pelo qual passa o eleitorado brasileiro.
Política é forma e conteúdo. O tucano tratou ontem de conteúdo. Listou 12 diretrizes do seu eventual programa de governo. Ética, meritocracia, educação, saúde, segurança pública, meio ambiente, credibilidade na economia e por aí vai. Nada ficou de fora, inclusive o desejo irrefreável de ocupar espaço no noticiário televisivo --o que os marqueteiros chamam de mídia espontânea.
Mas quantos votos o tucano ganhou com esse evento? Esse é o ponto. Em junho deste ano abriu-se uma espécie de "porta da esperança" para quem desejava desafiar as forças no poder. Os brasileiros foram às ruas. Protestaram mostrando uma insatisfação difusa, embora com um recorte muito claro: ninguém aguenta mais assistir a políticos engravatados falando sobre saúde e educação a partir de uma sala com ar-condicionado em Brasília.
Na política do século 21, a necessidade mais primária é conectar-se diretamente aos eleitores. Aparecer no "Jornal Nacional" é importante. Para chegar à Presidência da República pode ser pouco.
Também é postiço criar perfis pessoais em redes sociais e mandar assessores no seu lugar para dialogar com os internautas. Os milhares de eleitores conectados percebem. Quem não interage se isola.
Ontem, Aécio falou de suas 12 diretrizes para 2014 a partir de um palco cenográfico num auditório no Congresso. Nas cadeiras, apenas jornalistas, assessores e políticos. Em frente a um fundo de tom azul, ele foi fotografado em várias posições. Numa delas, abria os braços para a plateia. Manjada, ortodoxa (e antiga), a imagem até tem sua plasticidade. Só que talvez seja insuficiente para conectar o tucano aos votos que hoje não tem.
Fonte: Folha de S. Paulo
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