Raymundo Costa
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff e o PMDB estabeleceram uma trégua, pelo menos até o fim deste mês, quando voltam a conversar sobre a reforma ministerial. Nos termos acordados, os pemedebistas param de fazer pressão por mais cargos, enquanto a presidente avalia a reivindicação do partido por mais espaços no governo. A aliança eleitoral não está ameaçada, mas a frustração do PMDB com a reforma pode ter reflexos, sobretudo, nas votações de interesse do governo federal no Senado.
O PMDB entrou nas negociações da reforma ministerial de Dilma com cinco ministros, esperava sair com seis e descobriu, na semana passada, que poderia ficar com quatro, ou seja, com um a menos. Isso porque o PTB entrou nas cogitações para o Ministério do Turismo, atualmente na cota pemedebista, e a presidente descartou a hipótese de oferecer um sexto ministério ao partido. Filiado recentemente, o empresário Josué Gomes da Silva, do grupo Coteminas, é cogitado para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, mas o PMDB considera a indicação, se for confirmada, da "cota pessoal" da presidente.
O principal foco de insatisfação é a bancada do Senado, que em 2013 mais ajudou que atrapalhou o governo no Congresso. O PMDB queixa-se de que a presidente deixou correr solta a notícia de que o senador Vital do Rêgo (PB) seria nomeado para o Ministério da Integração Nacional, no lugar de Fernando Bezerra Coelho, do PSB, partido que entregou seus cargos no governo e deve lançar candidato contra Dilma nas eleições.
A indicação de "Vitalzinho", como é mais conhecido, é da bancada de senadores, mas tem o aval do presidente da Casa, Renan Calheiros, que se considera credor do atual governo. Um exemplo: Renan votou a polêmica MP dos Portos em menos de doze horas após a medida ter passado na Câmara, impedindo que ela vencesse e perdesse a validade. Renan tem o poder de segurar como destravar a pauta.
A questão dos senadores é pior porque envolve também o líder da bancada, Eunício Oliveira. O senador é candidato ao governo do Ceará e esperava contar com o apoio de uma coligação entre o Pros, partido do governador Cid Gomes, o PT e o PMDB. Ciro Gomes, no entanto, veta qualquer aliança com o PMDB. Chamado de "chefe da quadrilha" por Ciro, o vice-presidente Michel Temer não seria obstáculo ao entendimento cearense, mas agora não esconde sua insatisfação com a manutenção de Francisco Teixeira, que é ligado a Cid, na Integração Nacional.
Diante da insatisfação dos senadores que ameaçam se rebelar, Dilma conversou com Temer e Renan, anteontem, e prometeu avaliar a reivindicação pemedebista. A chave é o Senado, mas é improvável que o PMDB saia da reforma ministerial com mais que os cinco ministérios atuais - Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Secretaria da Aviação Civil. Outro problema parlamentar pode surgir na Câmara. Dilma não gostou nada do perfil dos indicados pelos deputados para Turismo e Agricultura. Apesar disso e das disputas nos Estados entre PMDB e PT, é praticamente zero a chance de a reforma azedar a aliança eleitoral.
A nomeação de Josué, filho do falecido vice-presidente José Alencar, é uma questão mais específica. Na realidade, Josué é uma indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas para ser nomeado, o empresário precisa se afastar do comando de suas empresas, como ocorreu com o ex-ministro Luiz Fernando Furlan - o ministro do Desenvolvimento preside o conselho do BNDES.
Fontes do PMDB dizem que Josué não está inclinado a deixar a administração direta da Coteminas, no momento. Auxiliares da presidente, nos últimos dias, também começaram a falar que talvez a melhor solução fosse Josué disputar o Senado por Minas Gerais - perderia para o atual governador Antônio Anastasia, considerado pule de dez pelos partidos, mas faria algo em torno de 2 milhões de votos, credenciando-se a entrar no próximo governo com o aval pleno do PMDB, onde atualmente é considerado "cristão novo".
Fonte: Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário