O quadro econômico mostra-se muito mais precário do que o Planalto esperava. E é bem possível que se deteriore ainda mais
Faltam menos de nove meses. Mas as duas primeiras semanas do ano já foram suficientes para que o governo se desse conta de que ainda tem pela frente longa e difícil travessia até as eleições.
O quadro econômico mostra-se muito mais precário do que o Planalto esperava. E é bem possível que se deteriore ainda mais ao longo do ano. A perspectiva de crescimento da economia continua medíocre. A margem de manobra para manipulação da inflação e das contas públicas estreita-se a cada dia. E o governo agora caminha em gelo fino, assustado com a possibilidade de ter de lidar com os desdobramentos de um rebaixamento do risco soberano do país em pleno ano eleitoral, em meio à contração da liquidez internacional.
Não obstante a vigorosa repressão de preços administrados, a taxa de variação do IPCA terminou o ano encostada em 6%, depois de ter registrado a maior inflação de dezembro dos últimos 11 anos. Já não há mais dúvida de que o Banco Central vai de fato se permitir atravessar todo um mandato presidencial com a inflação substancialmente acima da meta.
Permanecem as preocupações com a evolução das contas públicas. A política fiscal continua claramente expansionista. E a disparatada ideia do ministro da Fazenda de antecipar a divulgação do resultado fiscal de 2013, para acalmar os mercados, acabou tendo o efeito inverso. Serviu tão somente para deixar claro que o governo já nem tenta fingir que tem um discurso minimamente coerente sobre a condução da política fiscal.
É inacreditável que, a esta altura dos acontecimentos, ainda se alegue que o que falta é explicar ao distinto público que a deterioração das contas públicas é simples consequência da necessidade de conciliar as demandas sociais com a queda de receita tributária. E que não há razões para preocupação com a evolução da dívida bruta porque, em contraste com que o que foi prometido e não cumprido no ano passado, o governo deverá afinal reduzir as transferências do Tesouro ao BNDES, em 2014, iniciando o que agora vem sendo pomposamente rotulado de “taperingdo BNDES”.
Mas a verdade é que nem mesmo o próprio Planalto acredita nesse discurso descosido. O governo tem plena consciência de o quão precário é o quadro econômico do País e da vulnerabilidade que isso representa para o projeto da reeleição. Sem possibilidade de assegurar redução crível dessa precariedade em tempo hábil, a presidente, em seu pronunciamento de fim de ano à Nação, preferiu apelar para a denúncia à “guerra psicológica” que instila “desconfiança injustificada” nas perspectivas da economia.
A indisfarçável insegurança do Planalto com a situação econômica do país tem sido fonte de grande tensão na coalizão governista. E, nesse clima tenso, o PT vem claramente enfrentando dificuldades para manter a frieza necessária para conduzir uma campanha eleitoral complexa que, com alta probabilidade, só terá desfecho no segundo turno. Basta ter em mente as desastradas diatribes apócrifas contra Eduardo Campos e Marina Silva publicadas na página oficial do partido no Facebook, na semana passada.
Mas não é só da economia que poderão advir dificuldades inesperadas. Fazer o amplo arco da base governista avançar no mesmo compasso, em movimento harmônico, nos próximos meses, será um grande desafio. E a presidente agora se dá conta de que marchar ao lado de certas falanges pode acabar sendo proibitivamente oneroso, como bem ilustra o tétrico e desgastante circo de horrores com que o governo teve se envolver na capital maranhense neste início de ano.
Na sexta-feira passada, os principais jornais do país estamparam imagens emblemáticas do ministro da Justiça, ao lado da governadora do Maranhão, em São Luís, contorcendo-se para tentar sair bem numa foto em que visivelmente não queria estar. Queixo apoiado no punho, em pose que lembrava “O pensador”, de Rodin, o ministro parecia se indagar que cálculo político ainda justificaria manter o projeto da reeleição atrelado a forças tão escancaradamente associadas à vanguarda do atraso no país.
Rogério Furquim Werneck, economista e professor da PUC-Rio
Fonte: O Globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário