Eduardo Campos pisa com cuidado; sabe que é sobre os sonháticos e seus melindres que caminha. De onde toda cautela é necessária para que uma aliança recebida como um lance genial, capaz de mudar o cenário eleitoral, não se transforme num transtorno.
Em suma: o PSB trabalha para evitar que vire limão a limonada de outubro, quando Marina Silva não conseguiu o registro da Rede Sustentabilidade e decidiu se filiar ao partido do governador de Pernambuco.
O que se relata em seguida não foi dito por Eduardo Campos nem representa a posição oficial da direção do PSB. É o que se ouve entre parlamentares, dirigentes, candidatos nos Estados e até entre gente próxima ao governador. Campos diz em rede social que a hora é de olhar para frente e deixar o passado passar.
Tradução: o que está feito está feito, os problemas são do jogo e a ordem é contorná-los.
Otimismo à parte, o cenário real entre os correligionários do governador é de uma ponta de decepção. Não chega a haver arrependimento. Analisada em retrospectiva, a filiação de Marina naquele momento (madrugada de 4 para 5 de outubro) ainda é vista como uma boa cartada.
Mas as expectativas até agora não foram correspondidas. Por exemplo: o PSB acreditava que a adesão da ex-senadora provocasse uma considerável melhora nos índices de intenções de voto nas pesquisas, ao menos 15% na virada do ano. Isso não aconteceu, Eduardo Campos continua abaixo dos dois dígitos.
Uma inquietação começa a se disseminar entre parlamentares e dirigentes: será que apenas dois candidatos de oposição (Campos e Aécio Neves) serão suficientes para impedir a presidente Dilma Rousseff de ganhar no primeiro turno? Não teria sido melhor que Marina concorresse a presidente por outro partido, dividisse o eleitorado e ficasse fora da etapa final por falta de estrutura partidária e tempo de propaganda na televisão?
Ocorre que o que não tem remédio, como se sabe, remediado está. Portanto, a questão que se impõe é a redução dos danos. Prioridade: anunciar o quanto antes que Marina Silva será - conforme o combinado entre ela e o governador na já célebre madrugada - candidata a vice. A intenção é que o gesto provoque a esperada melhoria nas pesquisas.
Uma dúvida: há chance de Marina romper o acordo e não disputar cargo algum se para isso foi que se filiou dentro do prazo legal para candidatos?
Por esquisito que possa parecer, há certo temor de que, sabe-se lá por quais circunstâncias, a senadora venha a tomar essa decisão. De onde o PSB pisa em ovos com ela e com as diversas correntes abrigadas na Rede, procurando não contrariá-la muito.
Na verdade, Marina e companhia criaram menos problemas do que gostariam os adversários. Deram um chega para lá no pessoal do agronegócio - prejuízo ainda não de todo recuperado - e querem escolher os candidatos a governador no Rio de Janeiro e em São Paulo.
No Rio a situação é mais fácil de resolver, mas em São Paulo a candidatura própria implicaria o rompimento de aliança com o governador Geraldo Alckmin. O assunto ainda está em aberto, mas, se for esse o preço para Marina anunciar que aceita a vice, o PSB acha que vale a pena pagar.
Autoria. O PSB atribui ao ex-presidente Lula o ataque a Eduardo Campos, chamado de "tolo" e "playboy mimado". O partido acha que em breve ele vai desautorizar a manifestação. Por ser um mestre na arte de morder e assoprar.
Em destaque. Cotada para a vaga de vice se Aécio Neves optar por uma mulher, a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie deve coordenar o grupo que trata de assuntos relativos à Justiça e Segurança Pública na campanha do tucano.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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