Na próxima quinta-feira, o IBGE dirá se a economia brasileira encolheu no último trimestre de 2013, o que seria o segundo tombo seguido. No Planalto, a perspectiva é de que a atividade se salvou por pouco, com avanço de ao menos 0,2% entre outubro e dezembro
Victor Martins, Deco Bancillon
Os dedos estão cruzados no Palácio do Planalto. Assessores da presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição em outubro, não escondem o temor de que, na próxima quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dê uma sentença devastadora ao governo: a de que o país mergulhou em uma recessão técnica no fim de 2013, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre, depois de um encolhimento de 0,5% entre julho e setembro. Diante de tal ameaça, tanto Dilma quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão se fiando na projeção de parte do mercado financeiro, de que o país escapou do pior ao avançar 0,2% de outubro a dezembro. Integrantes da equipe econômica não descartam, porém, um tombo de 0,1%.
O sinal de alerta do Planalto acendeu depois de o Banco Central afirmar que, pelas contas dele, o Brasil entrou em recessão. O aviso só agravou o pessimismo de empresários e consumidores quanto ao modo como o governo vem conduzindo o país. Além de a atividade estar fraca, a inflação se mantém persistentemente alta, os juros subiram, encarecendo e escasseando o crédito, e o mercado de trabalho já não mostra o vigor de anos atrás. Não à toa, a popularidade da presidente Dilma está em queda. A mais recente pesquisa eleitoral do Ibope mostra que a aprovação da administração petista recuou de 43% para 39%, renovando os ânimos da oposição.
O quarto trimestre, tradicionalmente o mais forte do ano, era visto pelo governo e por especialistas como um marco da virada da economia. Mas, em vez de aceleração do crescimento, o que se constatou foi um forte encolhimento no ritmo de expansão. Na verdade, há quase uma estagnação da atividade. Dois dos principais motores do PIB, a indústria e o varejo, fraquejaram no fim do ano passado. Apenas em dezembro último, a produção nas fábricas encolheu 3,5% e o varejo recuou 0,2%. A alta dos juros básicos (Selic), de 7,25% ao ano, em abril de 2013, para 10,5% em janeiro deste ano, sem derrubar a inflação, só piora esse quadro. As famílias, superendividadas, compram cada vez menos. Sem perspectivas de aumento futuro das vendas, o empresariado mantém os investimentos congelados.
Dólar e indústria
A alta do dólar frente o real também não colaborou com os exportadores como se esperava, para ampliar a produção. Em 2013, a moeda norte-americana ficou, em média, 15% mais cara, elevação insuficiente para compensar a falta de competitividade da indústria, segmento que ainda sofre com a convulsão social que abala a Venezuela e a Argentina, dois importantes compradores de mercadorias nacionais de alto valor agregado, como carros.
Mas não é só. A retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos afeta os países emergentes, especialmente aqueles que não fizeram reformas constitucionais que modernizassem a economia. Justamente por manter o pé no atraso é que o Brasil entrou no grupo dos cinco frágeis, ao lado de Turquia, Indonésia, Índia e África do Sul. Com rombos recordes nas contas externas — quase US$ 12 bilhões em janeiro último, o pior resultado para um mês desde 1947 —, o país está nas mãos do capital especulativo, que pode fugir a qualquer momento para mercados considerados mais seguros.
“É verdade que as nações emergentes estão sofrendo com a mudança da política monetária norte-americana. Mas é verdade também que outros mercados estão se beneficiando da recuperação dos EUA”, diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. “Infelizmente, o Brasil está do lado mais fraco”, emenda. “Temos indicadores econômicos ruins, que saltam aos olhos dos investidores estrangeiros mais avessos ao risco.”
No front doméstico, o endividamento das famílias segue em níveis elevados, com 45,48% de toda a renda do ano comprometida com prestações. Ao mesmo tempo, o poder de consumo dos trabalhadores tem sido corroído pela inflação, que, em 12 meses até janeiro, acumulou alta de 5,6%. As previsões são de que, em setembro, véspera das eleições, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estoure o teto da meta de carestia, de 6,5%. É por isso, conforme as pesquisas, que 77% dos brasileiros reclamam do elevado custo de vida.
Desânimo
O quadro real desanimador já contaminou 2014. Mesmo que, no fim das contas, o PIB de 2013 tenha crescido 2% ou um pouco menos, a forte desaceleração no quarto trimestre está jogando todas as previsões para baixo. Nos cálculos do Banco BNP Paribas, o crescimento do último ano de mandato de Dilma será de apenas 1%. Para o Itaú Unibanco, não passará de 1,4% e, nas contas de Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas da Nomura Securities, ficará em 1,3%. Todas essas estimativas estão distantes dos 2,3% projetados pelo Ministério da Fazenda.
Volpon, por sinal, vê o Brasil em recessão. Na avaliação dele, o PIB do último trimestre de 2013 caiu 0,1%. “É preciso lembrar que isso é apenas uma previsão, mas foi feita em função de uma combinação de dados mais fracos que o esperado e que culminaram na queda IBC-Br, do Banco Central”, justifica. Ele ressalta ainda que nem tudo pode ser controlado pelo governo. “Felizmente, o jogo não acabou para o Brasil. Mas as desvantagens aumentaram”, frisa. Maurício Molan, economista-chefe do Banco Santander, endossa: “Para 2014, não vemos condicionantes que sugiram otimismo em relação à atividade econômica, de modo que há riscos de uma revisão para baixo na nossa projeção de crescimento”.
Fonte: Correio Braziliense
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