Petistas e empresários próximos ao ex-presidente Lula estão por trás dos boatos de que ele pode ser o candidato do partido no lugar de Dilma Rousseff
Daniel Pereira
A presidente Dilma Rousseff é a favorita na próxima corrida eleitoral. Segundo pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), ela seria reeleita hoje no primeiro turno, com 43,7% dos votos, caso enfrentasse o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador Eduardo Campos (PSB), que aparecem, respectivamente, com 17% e 9,9%. Além da liderança nas intenções de voto, Dilma tem a seu favor o controle da poderosa máquina federal, com suas benesses bilionárias, e a possibilidade de montar a maior coligação desde a redemocratização, o que pode lhe garantir o dobro do tempo na propaganda eleitoral em relação a seus rivais. Na área econômica, a presidente também conta com bom desempenho em indicadores diretamente ligados ao bolso e ao humor dos eleitores, como emprego, renda e consumo familiar. Apesar de tais credenciais, a candidatura de Dilma é alvo de uma “guerra psicológica” — guerra essa travada não por expoentes da iniciativa privada interessados em sabotar a economia nacional, como ela pregou na TV, mas por setores do próprio PT.
Com o apoio de empresários e banqueiros, um grupo de petistas retomou nos bastidores um jogo de pressão destinado a rifar Dilma do páreo, substituindo-a pelo ex-presidente Lula. É a segunda ofensiva recente nesse sentido. A primeira ocorreu logo após as manifestações de rua de junho do ano passado, quando a popularidade da presidente despencou. Agora, o movimento “volta, Lula” pega carona nos problemas surgidos, neste início de ano, nas searas política e econômica. A conspirata é comandada por petistas e autoridades do governo passado que perderam espaço na gestão atual. Eles são habitués do Instituto Lula, apelidado cirurgicamente de “o gabinete das sombras”, e alegam que o PT, ao contrário do que se esperava, não se apossou do poder no mandato em curso. Pior: setores e estrelas do partido perderam feudos na administração, foram ignorados pela presidente e não receberam apoio nem mesmo em temas caros à legenda — entre eles o processo do mensalão. Essas queixas são antigas e nunca foram capazes de sustentar uma sabotagem à presidente. A diferença agora é que petistas também vislumbram a possibilidade de derrota de Dilma na sucessão. Para eles, só Lula é capaz de manter o PT no poder sem que haja riscos para o partido.
Os conspiradores dizem contar com a adesão de empresários e banqueiros de ponta conhecidos pelas estreitas relações pessoais com o ex-presidente Lula. Os aliados dos petistas insurgentes reclamam do intervencionismo da presidente, da falta de planejamento de médio e longo prazos, da precariedade da infraestrutura e da desconfiança que Dilma nutre pelos investidores. Ou seja: da inexistência de um ambiente favorável à execução de projetos. Dilma seria um fator de inibição, enquanto Lula abriria frentes de negócio. “Por que sofrer mais quatro anos?”, perguntou recentemente um influente empreiteiro a um grupo de petistas. O ex-presidente ouve os apelos dos conspiradores com frequência. Como resposta-padrão, afirma que Dilma será a candidata, aprenderá com as críticas e corrigirá rumos. Nada mais previsível. A saída de Dilma da disputa presidencial seria uma operação potencialmente traumática. Aos olhos dos eleitores, a gestora eficiente poderia ser reduzida a mera propaganda enganosa usada para manter o PT no poder.
“O Lula diz ‘não’ a uma nova candidatura, mas não é um "não" convincente. É aquele ‘não’ de vamos observar o cenário”, conta um petista. Os conspiradores apostam que os obstáculos à frente de Dilma minarão a sua candidatura. Na semana passada, oito partidos governistas montaram um bloco independente na Câmara, com 261 deputados, cuja meta é reeleger seus integrantes, e não necessariamente a presidente. Essa tropa votará para afagar suas bases, com aumentos salariais, por exemplo, concorde o governo ou não. A negociação do chamado “blocão” ocorreu num jantar que reuniu parlamentares do PMDB, PR, PP, PSD, PTB, PDT, PSC e PROS — todos partidos com que Dilma espera contar em sua coligação. Na saída do evento, os peemedebistas Henrique Alves, presidente da Câmara, e Eduardo Cunha, líder da bancada, se encontraram no elevador, por obra do acaso, com o deputado André Vargas, que recebia quarenta colegas do PT em outro jantar no mesmo prédio. Vargas convidou os peemedebistas a participar um pouco do convescote. Deu-se um diálogo revelador. “Vocês estavam falando mal de quem?”, perguntou Cunha. “Da mesma pessoa que vocês”, respondeu Vargas.
Dilma sabe da campanha pela volta de Lula. Não o responsabiliza diretamente por isso, mas cobrou explicações dele. Foi numa reunião, em 14 de novembro, no Palácio da Alvorada, da qual também participou o marqueteiro João Santana. No encontro, Dilma deixou claro que não abria mão da candidatura. Já Santana tranquilizou Lula, garantindo que a reeleição estava muito bem encaminhada e que seria pequeno o risco de o PT perder o poder. Lula concordou que era preciso afinar a sintonia dele e do PT com a sucessora e disse que, dali em diante, todo e qualquer gesto seria combinado entre as partes. Os termos da conversa foram transmitidos à soldadesca, que recolheu as armas, mas só temporariamente. O lobby pela candidatura do ex-presidente está na rua com vigor. Talvez por isso a ministra do Planejamento, a petista Miriam Belchior, tenha saudado na quinta-feira, numa entrevista, a “presidenta Lula”. O ato falho não deixa dúvida: a sombra do criador paira, ameaçadora, sobre a Praça dos Três Poderes.
Fonte: Revista Veja
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