Polícia chegou a imobilzar cinco jornalistas, liberados em seguida
SÃO PAULO. Pelo menos 120 pessoas foram detidas durante protesto realizado neste sábado, no Centro de São Paulo, contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Nem mesmo a presença ostensiva da polícia, com mil soldados — para cerca de mil manifestantes — foi capaz de impedir atos de violência, como lixeiras e vidros de agências bancárias quebrados. Quatro ônibus levaram os detidos para quatro Distritos Policiais da cidade.
Segundo a polícia, o tumulto começou na Rua Xavier de Toledo, onde um grupo de blacks blocs passou a gritar que era chegada a “hora de barbarizar”. Os policiais usaram golpes de artes marciais e cassetetes. Os manifestantes recebiam gravatas e eram jogados no chão.
Quatro policiais e dois manifestantes ficaram feridos. Um rapaz de 25 anos sofreu um corte na testa e disse que foi atingido por um cassetete.
Pelo menos cinco profissionais de imprensa chegaram a receber golpes e foram imobilizados, mas acabaram liberados depois de se identificar. O repórter do GLOBO, Sérgio Roxo, que filmava a confusão com seu celular, foi imobilizado por um policial da “tropa ninja” da policia, com um golpe no pescoço, apesar de estar usando crachá. Um segundo policial bateu em sua mão, quebrando o celular.
O repórter Reynaldo Turollo Jr, da “Folha de S.Paulo”, recebeu uma gravata de um policial e foi arrastado. Segundo o jornal, ele não se machucou e foi liberado quando se identificou como jornalista. O mesmo aconteceu com Paulo Toledo Pizza, repórter do site “G1”. O fotógrafo do “Terra” Bruno Santos foi ferido na perna.
— Eles me arrastaram por uns 20 metros. Um policial queria me colocar junto com os detidos, mas veio um capitão, conversou comigo, pediu desculpas e me liberou — disse Roxo.
O major Larry Saraiva, do 11º Batalhão da Polícia Militar, considerou que a ação policial, baseada na imobilização por golpes de artes marciais, foi positiva. Ele confirmou que alguns jornalistas foram detidos, mas disse que todos foram liberados após a identificação.
— Os excessos devem ser combatidos. Fizemos imagens e vamos avaliar a ação — afirmou o major, ao comentar a agressão a jornalistas.
Ruas foram bloqueadas e os manifestantes foram revistados. Um rapaz de 25 anos, que se identificou como Marlus Germani, ficou ferido. Ele teve um corte na testa e afirmou que foi golpeado com cassetete. Todos os detidos foram colocados em ônibus e encaminhados a distritos policiais.
De acordo com a Polícia Militar, um manifestante abandonou uma mochila na Estação Ana Rosa do Metrô. Dentro dela estaria um coquetel molotov.
Até as 21h, grupos de manifestantes seguiam caminhando por ruas do Centro de São Paulo. Muitos abordavam pessoas e pediam que engrossassem o ato. Foi o que aconteceu na Praça Roosevelt, que concentra bares e teatros.
Um grupo com cerca de 300 jovens do black blocs fechou várias ruas do Centro enquanto caminhava no sentido das delegacias para onde foram levados os detidos. Chegaram a fechar vias importantes, como a Avenida Consolação e a Rua Augusta. No caminho para o 3° Distrito Policial fecharam também a esquina das avenidas Ipiranga e São João. Mais de cem soldados da PM acompanhavam o grupo.
Comerciantes foram brigados a fechar as portas. Não houve confronto, apenas jovens xingando os policiais. O grupo, por várias vezes, se misturou a blocos de carnaval no Centro da cidade, aumentando a confusão.
— Quem não deve nada para a polícia vai ser solto. Por enquanto, estão sendo averiguados — disse Kleber Altale, delegado seccional do Centro, que foi até o 3° Distrito Policial, na Rua Aurora, para onde foram vários manifestantes.
Depoimentos e apreensões
Vinte dos 40 manifestantes intimados a depor neste sábado na sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), 20 foram ouvidos pela polícia e liberados a seguir. Também foram cumpridos três mandados de busca e apreensão na casa de três manifestantes - um morador de Osasco, na Grande São Paulo, e dois dos bairros de Itaquera e Jardim Laranjeira, na Zona Leste da capital.
Nos endereços foram apreendidos três computadores, sprays, uma faixa contra a realização da Copa do Mundo e a Rede Globo e duas máscaras — uma de proteção contra gases e outra do V de Vingança, utilizada pelo Anonymous. Um adolescente, de 16 anos, foi levado à sede do Deic para prestar esclarecimentos, acompanhado pela mãe.
O vice-delegado geral da Polícia Civil e diretor do Deic, Wagner Giudice, afirmou que foi proposital a intimação dos manifestantes para depor num dia de manifestação. A estratégia, segundo ele, foi inspirada na polícia europeia, que costuma agir desta forma para impedir atos de violência de torcidas em dias de jogos de futebol.
Todos os intimados, segundo Giudice, foram citados, identificados ou têm alguma relação com a investigação sobre a atuação do grupo black bloc, iniciada em outubro passado. Desde a abertura do inquérito 300 pessoas foram ouvidas, mas até agora ninguém foi indiciado.
Os manifestantes ouvidos neste sábado tiveram de responder a algumas perguntas, entre as quais se sabiam manusear arma de fogo, se conheciam táticas de camuflagem, se já participaram dr alguma manifestação e se faziam parte de algum grupo praticante da tática black bloc. Em seguida, foram liberadas.
Algumas pessoas convocadas a depor disseram, ao chegar à sede do Deic, que nunca tinham participado de manifestações. Foi o caso do vendedor Edmilson Silva Santos, de 39 anos, que compareceu à sede do Deic veio acompanhado da mulher e do filho e disse estar constrangido.
— Trabalho das 13h às 23h e nunca participei de manifestação. É constrangedor receber algo assim em casa. Não tiveram o trabalho nem de colocar num envelope (a intimação) — afirmou o vendedor.
A estudante Karen Alves, de 19 anos, e o irmão dela, Anderson Alves, de 23, também foram intimados. Alves confirmou que é ativista há cinco anos, mas que não comparece a protestos desde outubro passado.
— Eles devem ter visto um vídeo que fiz para um trabalho de faculdade sobre os protestos e me chamaram. Acredito que o objetivo é esvaziar o protesto de hoje, que eu nem pretendo comparecer
— afirmou Alves, referindo-se ao protesto marcado para 17h deste sábado na Praça da República contra a realização da Copa do Mundo no Brasil.
Karen disse que nunca foi a nenhuma manifestação e que pode ter sido chamada pelo fato de dividir o computador com o irmão:
— Acho que fui chamada porque usávamos o mesmo IP (computador). Não há outro motivo — disse Karen.
Fonte: O Globo
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