Custo do megawatt dobra e vai a R$ 822
Bruno Rosa, Ramona Ordoñez
RIO - O consumidor vai pagar caro pelo calor do último mês e pelo baixo volume de chuvas. Além dos gastos com a geração das usinas térmicas, que custam mais que a energia das hidrelétricas, os brasileiros ainda vão arcar com as despesas das distribuidoras com a compra de energia no mercado livre. O preço para o início de fevereiro é o maior desde setembro, quando mudou a forma de calcular o valor da energia. Para primeira semana de fevereiro, atingiu R$ 822,83, o teto estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em janeiro esse valor era quase a metade: R$ 466. Com isso, as contas de luz podem subir até 10% na data anual do reajuste.
De acordo com estimativa da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), se todos esses custos permanecerem no atual patamar, as distribuidoras poderão pedir à Aneel, que autoriza os reajustes, repasse do custo mais alto nas contas de luz.
As distribuidoras têm de recorrer ao mercado livre, pois não vêm conseguindo obter toda a energia necessária para atender à demanda nos leilões feitos pelo governo federal. Atualmente, elas precisam comprar 3,3 mil megawatts (MW) médios adicionais e, assim, acabam tendo que arcar com preços elevados.
A Abraceel diz ainda que, se os valores no mercado livre se mantiverem nesse patamar durante todo o mês de fevereiro, o gasto extra das distribuidoras chegará a R$ 1,6 bilhão. Segundo especialistas, o preço no mercado livre é balizado principalmente pela expectativa de chuvas e pelo nível dos reservatórios. No último dia 30, diz o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as hidrelétricas da Região Sul chegaram a 58,6% de sua capacidade, número menor que no dia anterior, de 59,4%. Entre as regiões Sudeste e Centro-Oeste, o nível caiu de 40,8% para 40,6%. No Nordeste, o volume ficou igual, em 42,5%. Só na região Norte houve alta: de 59,6% para 60%.
— As distribuidoras estão descontratadas. Nos leilões feitos pelo governo, os empreendimentos (como hidrelétricas e usinas eólicas) vêm atrasando e a energia não entra no sistema. Por isso, elas têm que recorrer ao mercado livre. E esse custo vai chegar ao consumidor do mercado cativo. Estima-se alta em torno de 10% nas contas para 2014 — disse Reginaldo de Medeiros, presidente da Abraceel.
A conta mais alta pode chegar aos consumidores do Rio em novembro, quando acontece o reajuste da Light. O da Ampla, que opera em Niterói e outros municípios do Estado do Rio, é em março. Em Minas, o reajuste da Cemig é em abril, assim como o da CPFL, em São Paulo. Na paulista Eletropaulo, a revisão acontece em julho.
Governo estuda novo socorro
Fonte da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), diz que o governo estuda uma solução para evitar um impacto nas contas de luz. Uma das hipóteses é um novo socorro via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com recursos do Tesouro Nacional:
— Em dezembro, o governo fez leilão adicional e cortou pela metade a necessidade das distribuidoras.
Para Cristopher Alexander, presidente da comercializadora Comerc Energia, as distribuidoras são as maiores prejudicadas:
— Há risco de inadimplência no setor. As distribuidoras poderão repassar esses custos, mas o Tesouro pode socorrer essas companhias.
Hoje, a maior parte das indústrias de grande porte que recorrem ao mercado livre assina contratos de longo prazo, que variam de três a cinco anos, para evitar as oscilações do mercado. Acredita-se que algumas indústrias, para aproveitar os preços, poderão reduzir atividades e “vender” o excedente no mercado livre.
— Algumas empresas podem usar óleo combustível em seus processos e contribuir com o setor elétrico liberando energia, liquidada a R$ 822 o MWh — disse Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais e de Energia de Consumidores Livres (Abrace).
Fonte: O Globo
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