Leonencio Nossa – O Estado de S. Paulo
IPOJUCA (PE) – A presidente Dilma Rousseff reeditou ontem a estratégia do PT nas eleições de 2006 e 2010 de atrelar o PSDB à intenção de privatizar e sucatear a Petrobrás. Em visita ao Porto de Suape, em Pernambuco, e vestindo o macacão laranja da estatal, ela defendeu o trabalho da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União de investigar suspeitas de corrupção e tráfico de influência na empresa, mas acusou a oposição de atuar contra os interesses nacionais.
Foi a primeira vez que Dilma se manifestou publicamente sobre a crise envolvendo a estatal após o Estado revelar, em 19 de março, que ela deu aval à compra de parte da polêmica refinaria de Pasadena, nos EUA, a partir de um resumo técnico, nas suas palavras, “falho” e “incompleto”. Desde então, a Polícia Federal levantou mais suspeitas sobre os negócios da Petrobrás ao expor as relações do ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa com o doleiro Alberto Youssef e partidos políticos.
“Não deixarei de combater qualquer tipo de ação criminosa ou ilícita de qualquer espécie, seja ela feita por quem for, mas também não ouvirei calada a campanha dos que, por proveito político, ferem a imagem da empresa, que nosso povo construiu com tanto suor e lágrimas”, discursou ontem a pré-candidata à reeleição, ao lado da presidente da Petrobrás, Graça Foster.
À “galera”, como ela se referiu à plateia formada por militantes petistas e trabalhadores do estaleiro, Dilma disse que o governo Fernando Henrique Cardoso quis mudar o nome da Petrobrás para PetroBrax. “De forma sorrateira, começou todo um processo que fatalmente levaria (a Petrobrás) para as mãos privadas. De tão requintado esse processo, chegou-se até a propor a mudar o nome para PetroBrax, sonegando à Petrobrás a sigla que é a nossa identidade e a nossa nacionalidade, o ‘Bras’ de Brasil”, afirmou.
A ideia de transformar a Petrobrás em PetroBrax foi lançada no início da década de 2000, no governo FHC, sob justificativa de facilitar o processo de internacionalização da companhia.
Pontual. Em seu discurso, de 38 minutos, Dilma defendeu a versão de que a crise envolvendo a estatal é resultado de ações “individuais” e “pontuais”. A presidente se queixou de que a história da Petrobrás está cercada de “confusões” e “armadilhas”, citando desde as análises mais antigas, de que não havia petróleo no Brasil, até processo de tentativa de privatização da companhia.
Ela apresentou uma série de números para criticar o governo tucano. A presidente disse ainda que, atualmente, se esconde a informação de que em 2003, quando o governo do PT assumiu o Palácio do Planalto após a gestão FHC, a estatal valia menos no mercado do que vale hoje – os números usados pelos críticos do governo levam em conta a queda acentuada do valor de mercado da empresa, mas usando como referência o pico de valorização da Petrobrás de 2011.
“Manipulam dados, distorcem fatos e desconhecem deliberadamente a realidade do mercado mundial de petróleo para transformar eventuais problemas conjunturais em supostos fatos irreversíveis e definitivos”, disse a petista, numa referência à compra da refinaria de Pasadena e à conjuntura na qual foi fechado o negócio.
Dilma defendeu a presidente da Petrobrás e o presidente da subsidiária Transpetro, Sérgio Machado, que, conforme revelou ontem o Estado, foi citado quatro vezes na agenda do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal.
“Como presidenta, mas sobretudo como brasileira, eu defenderei em qualquer circunstância e com todas as minhas forças a Petrobrás”, disse Dilma.
Oposição. Após o evento em Pernambuco, pré-candidatos da oposição ao Planalto voltaram a criticar a presidente e rebateram suas declarações.
O senador Aécio Neves, que disputará o Planalto pelo PSDB, disse em Salvador que é preciso tirar a estatal “das garras” do PT. “Diziam que a gente ia privatizar a Petrobrás, mas o que eu quero é reestatizar a Petrobrás. Quero tirá-la das garras de um partido que a ocupou para fazer negócios e entregá-la, novamente, aos interesses maiores da população brasileira”, disse, durante o lançamento da chapa de oposição ao governo petista de Jaques Wagner na Bahia.
Mais tarde, em evento no Rio, voltou ao assunto. “Está na hora de a presidente da República devolver limpo o macacão da Petrobrás”, afirmou Aécio.
Já o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, pré-candidato do PSB ao Planalto, disse em Brasília, durante lançamento de sua chapa com Marina Silva, que não se pode permitir que ela vire um “caso de polícia”. Ele também atacou o valor de mercado da estatal: “Não vamos permitir que a Petrobrás se transforme em um caso de polícia, que a Eletrobrás seja desmontada enquanto sistema. Um País não pode ver a Petrobrás perder valor e achar que não houve nada de mais. Precisamos levar uma palavra de confiança na Petrobrás às universidades. Nós vamos fazer a diferença na Petrobrás”, disse Campos, referindo-se ao pico de valorização da estatal, em 2011, e ao valor aproximado atual da empresa.
Colaboraram Tiago Décimo, João Domingos, Eduardo Bresciani e Débora Bergamasco
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