- Correio Braziliense
Embora as atenções se concentrem na eleição do presidente da República, o resultado passa pelas disputas que ocorrerão nos estados. A distribuição do eleitorado é desigual. A massa se encontra entre as classes C e D, cujos votos têm valor idêntico, segundo a Constituição republicana, àqueles que vierem a ser depositados nas urnas por integrantes dos estratos A e B.
O Norte - Nordeste concentra a pobreza. No Sul - Sudeste, o panorama é outro. Pesquisas indicam que os pobres enxergam o PT como esperança de salvação, ideia fortalecida pela bolsa família, cabo eleitoral no qual os petistas depositam as esperanças de vitória.
Sobre Minas Gerais e São Paulo, recai a tarefa de abrir caminho a Aécio Neves para o segundo turno. Em todas as unidades da Federação, o PSDB buscará ajuda. As duas mais populosas, onde se encontram os grandes colégios eleitorais, arcarão com o ônus de lhe garantir sufrágios para compensar a baixa penetração em regiões onde prevalecem os adeptos de Lula.
Eduardo Campos surge como terceira força. Não deve ser subestimado, se conseguir introduzir sua cunha nas áreas em que se sobressai o neto de Tancredo.
É curioso observar que a capital da República, astro de primeira grandeza enquanto estava no Rio de Janeiro, não passa agora de mero coadjuvante. Governada por políticos inexpressivos, ou de má reputação, desde que a Constituição lhe restabeleceu o direito de se autodirigir, não revelou capacidade para fazer escolhas certas, tendo, hoje, pouca importância na corrida presidencial.
Aécio governou Minas e fez de Anastasia o sucessor. Com perfil de bom administrador, não galgou, porém, lugar destacado na política nacional. É, aparentemente, avesso à aproximação com o povo. São Paulo, com 30 milhões de eleitores, é administrado há longos anos pela aristocracia tucana. Entre os mais ilustres, possui Fernando Henrique e José Serra, ambos fora da disputa.
Qual a situação de Geraldo Alckmin? A pergunta tornou-se obrigatória porque, após figurar como favorito, passa a enfrentar o desconhecido. Terá adversários cuja soma de votos lhe dificultarão vencer no primeiro turno. Ademais, o prestígio se acha desgastado pela violência. O pavor de ser assaltado, agredido, despojado dos bens ou assassinado paira sobre paulistanos e paulistas. Não apenas os ricos ou da classe média, mas também os da periferia sentem medo — dentro de casa, nas ruas, em shoppings, lojas, agências bancárias e restaurantes.
Tendo ao redor secretários de perfil burocrático, o governador paulista demonstra haver esquecido-se de que depende do povão para se reeleger. Para atraí-lo, não basta dar entrevistas, asfaltar estradas, distribuir casas populares, requisitos nos quais não tem sido muito feliz, como demonstram manifestações diárias de toda espécie.
A história nos mostra administradores competentes que não souberam fazer política. O inverso também ocorre. Apesar do retumbante fracasso, Dilma Rousseff tem possibilidade de se reeleger, e abrir caminho para a eternização do petismo.
Os governadores Anastasia e Alckmin carregam a responsabilidade de impor o segundo turno e, na rodada final, derrotar o governo. Para tanto, deverão obter ajuda de Eduardo Campos. Não afasto a possibilidade de pesar sobre o governador de Pernambuco a tarefa de enfrentar Dilma duas vezes. Depende, porém, do insucesso de Aécio e do apoio vigoroso de diversos partidos.
O cenário é confuso, e o horizonte carregado. Conseguirão São Paulo e Minas oferecer ao PSDB os votos de que depende para ter mais de uma chance? Por hora, ambos os governadores cuidam de interesses próprios, esquecendo-se de que, se Aécio naufragar, talvez os arraste consigo.
Modesto observador, é esse o panorama que antevejo. Dos populares com os quais diariamente converso, com a isenção de quem não é candidato, percebo ser intenso o desejo de afastar o PT. A prefeitura, sob a administração caótica de Fernando Haddad, transformou-se no pior tormento de Dilma.
Ao contrário do que se imaginava, a corrupção, o mensalão e o escândalo da Petrobras já corroem o prestígio de Lula. Resta descobrir qual o efeito concreto da bolsa família, o diabólico cabo eleitoral remunerado pelo contribuinte. É o que nos dirão as urnas.
Advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)
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