Sérgio Roxo – O Globo
Próximos nas propostas para recuperar a economia, os dois principais candidatos oposicionistas da eleição presidencial devem deixar claras suas diferenças ao abordarem os oito anos de Lula. Neste período de pré-campanha, enquanto Eduardo Campos (PSB) adotou o discurso de que os problemas começaram com Dilma Rousseff, o tucano Aécio Neves tem atacado, sem pudores, a gestão de Lula.
Por trás da estratégia adotada, está o passado. Enquanto o tucano sempre foi adversário nos 12 anos do PT no poder, Campos ocupou o Ministério da Ciência e Tecnologia no primeiro mandato de Lula e depois se beneficiou do dinheiro federal em seu estado.
No PSB, é dado como certo que não haverá críticas a Lula. Campos diz reservadamente que o vê como um pai na política. Em discursos e no programa eleitoral na TV este mês, a estratégia de poupar Lula é nítida.
— Nossa questão não é poupar ninguém. Mas há uma grande diferença entre o governo do Lula e da Dilma. O país parou de melhorar, a inflação voltou — afirma Beto Albuquerque (PSB-RS), líder do partido na Câmara.
O principal objetivo será convencer o eleitor de que Campos pode retomar os números do governo do ex-presidente, com aceleração do crescimento.
— Se o Eduardo for eleito, o Lula sabe que as conquistas e o legado dele estarão preservados — diz o presidente do diretório paulista do PSB, deputado federal Márcio França.
Para Albuquerque, as diferenças entre os dois governos podem ser provadas: em 2010, as pesquisas mostravam que a maioria da população não queria mudança, e hoje 70% querem.
Aécio já declarou que não se importa de enfrentar Lula ou Dilma na disputa de outubro.
— Para nós, o modelo Lula e Dilma é o mesmo. E é isso que queremos mostrar. É o aparelhamento, o abuso ético — diz o presidente do diretório do PSDB de SP, deputado Duarte Nogueira.
Os tucanos acreditam que a grande diferença em relação a Dilma é que Lula foi beneficiado por um cenário econômico externo mais favorável.
— O Lula é cozinheiro de despensa cheia — afirma Nogueira.
Mas Aécio deve centrar o foco no programa de TV no governo Dilma, porque reconhece que a gestão do ex-presidente é bem aceita pela população.
Analistas creem que o sucesso dos discursos sobre o governo Lula dependerão muito da estratégia de comunicação a ser adotada por Aécio e Campos. Neste quesito, o pré-candidato do PSB tem missão mais espinhosa.
— Campos disputa com Aécio o voto de quem é anti-PT e ao mesmo tempo tenta conquistar quem votou no PT no passado, mas não é petista de carteirinha — diz Fernando Antonio Azevedo, professor da pós-graduação em Ciência Política da UFSCar.
José Álvaro Moisés, professor de Ciência Política da USP, avalia que Campos conseguirá explicar seu distanciamento:
— Ele foi progressivamente se afastando do governo. Não está cuspindo no prato em que comeu.
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