quarta-feira, 21 de maio de 2014

Aécio: “O Brasil precisa de um governo que fuja da demagogia”

• Vamos apresentar um projeto para o Brasil, programático

• Aparelhamento absurdo da máquina pública possa ser substituído pela meritocracia

CURITIBA (PR) – O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, concedeu entrevista coletiva nesta segunda-feira (19), em Curitiba (PR). Ele respondeu a perguntas sobre o encontro de lideranças políticas, a homenagem a José Richa, a pesquisa em Londrina, Lula, eleições e PSB. A seguir, trechos da entrevista do senador.

Sobre homenagem a José Richa
Quero agradecer, em especial, ao governador Beto Richa por me receber mais uma vez aqui em Curitiba para um evento que, para mim, tem um significado que traz uma dimensão muito além da dimensão política que é participar de uma homenagem ao ex-governador José Richa. Me lembro – antes apenas de responder sua pergunta – que quando cheguei na Assembleia Constituinte, era uma disputa enorme para ver quem conseguia se sentar ao lado de José Richa, ali na parte final, à esquerda do plenário. Era a cadeira que menos ficava vazia. Richa, com sua tranquilidade, serenidade e a sua extraordinária dimensão de homem público, foi uma referência, e creio nisso, para toda uma geração de homens públicos na qual me incluo. 

Portanto fiz questão de estar aqui hoje para abraçar o Beto (Richa), a família e todos os paranaenses que permitiram, ao longo da história, que o Brasil tivesse oportunidade de desfrutar da qualidade, do idealismo, da competência do governador José Richa. Quando em 82 demos o primeiro e mais consistente passo para a reconciliação do Brasil com a democracia e o fim da ditadura foi a eleição de José Richa no Paraná, ao lado da eleição de (Franco) Montoro em São Paulo, de Tancredo Neves – meu avô – em Minas Gerais, e de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, além de algumas outras, mas essas principalmente, que criaram o primeiro grande momento de fortalecimento das forças de oposição. Portanto José Richa teve um papel essencial em todo o processo de redemocratização do Brasil e me orgulho muito de ter podido ser um dos seus discípulos durante todo período da Assembleia Nacional Constituinte. Portanto, essa homenagem, que se faz hoje a José Richa, é uma homenagem que vai muito além das fronteiras do estado. É uma homenagem todos aqueles que acreditam na política como instrumento de transformação efetiva da vida das pessoas, todos aqueles, hoje, se sentem, de alguma forma, homenageados. Tenho certeza que vamos construir ainda belas páginas da história da boa política paranaense e brasileira, honrando a história de José Richa, de Tancredo, dentre tantos outros.

Sobre tom da campanha
Temos um projeto para o Brasil. Costumo dizer que o PSDB não tem a alternativa, a opção, de apresentar uma proposta diferente dessa que está aí. É nossa responsabilidade e vamos cumpri-la. Vamos apresentar um projeto para o Brasil, programático, onde o aparelhamento absurdo da máquina pública possa ser substituído pela meritocracia, onde essa gestão que assusta investidores possa ser substituída por um cenário de estabilidade, de respeitos às regras, de fortalecimento das agencias reguladoras, onde o investimento possa voltar a vir para o Brasil, onde essa visão anacrônica e ideologizada da nossa política externa, que não tem nos levado a lugar algum, possa ser substituída por uma visão mais pragmática em defesa dos interesses reais do Brasil, com parcerias com outras nações do mundo. Enfim, temos um modelo diferente para apresentar aos brasileiros. Na condução da economia, na gestão do estado, e nos avanços dos indicadores sociais. E, portanto a nossa campanha será uma campanha focada em um novo Brasil. Se os nossos adversários, ao final de 12 anos, só têm a oferecer aos brasileiros o medo, a desesperança, vamos apresentar a coragem para fazer mudanças e trazer de novo esperança aos lares dos brasileiros.

Sobre pesquisa realizada em Londrina
Fico extremamente feliz com esses indicadores, até porque a campanha, na verdade, só se inicia, eu acho que em primeiro lugar a companhia do Beto deve estar me identificando lá com o governo do Beto Richa – e acho que a partir do momento em que as nossas propostas vão tendo uma capilaridade maior, as pessoas vão tomando conhecimento delas, eu acho que a tendência é de crescimento. Eu tenho andado por todo o Brasil, nessa última semana fui a vários estados do Nordeste, fui a estados da região Sudeste e há claramente um sentimento hoje de mudança e um sentimento crescente no Brasil. Cada vez mais o PSDB e os nossos aliados se consolidam como a mudança verdadeira, a mudança corajosa e a mudança real que o Brasil precisa viver. Portanto, acredito que em outras partes do Brasil, inclusive do estado, há sim uma tendência de fortalecimento daqueles que querem interromper esse ciclo que aí está e iniciar um novo ciclo onde a ética, onde a eficiência pode caminhar juntas. Cada momento que as pessoas tomarem conhecimento das nossas propostas, acho que existe uma tendência de crescimento. E ainda chama atenção pelo baixo nível de conhecimento que existe ainda em relação a nossa candidatura, sobretudo se comparada à candidatura da atual presidente da República. Fico muito feliz. Agradeço essa homenagem pela população de Londrina e já estamos marcando inclusive uma vista breve a Londrina para agradecer essas manifestações assim como a outras regiões do Estado.

Sobre indicação de vice na chapa do PSDB
Em primeiro lugar eu fico muito feliz de ver que existem nomes dessa dimensão, dessa importância, que de alguma forma se coloca como alternativas a composição da chapa. Eu tenho dito e reintegro aqui hoje, em Curitiba, de que essa decisão é uma decisão colegiada. Ela não será uma opção individual do candidato e tão pouco do PSDB. Temos outras forças políticas que se somam a nós. Estamos conversando com todas elas. Essa é uma decisão que pretendo que esteja tomada até o início do mês de junho, provavelmente dia 10 de junho, já que a nossa convenção nacional será dia 14 e eu aproveito para convidar todos os companheiros que aqui estão, já falei com Beto pessoalmente que certamente estará lá inclusive falando em nome dos governadores do PSDB. Será dia 14 de junho em São Paulo. Então, temos nomes muito qualificados. A decisão será uma decisão natural. Faço apenas um registro em relação ao comportamento absolutamente correto, altivo, de enorme responsabilidade política do companheiro José Serra. Tenho sim conversado com ele. Ele tem se disposto a nos ajudar, inclusive na formatação de determinadas propostas do nosso programa de governo e ele estará nesse jogo político do nosso lado, isso que é irrelevante. 

Portanto, estou muito feliz de que ao final desse processo ver o PSDB unido e mais do que isso, usando um termo que o Beto usou rapidamente quando conversávamos logo que cheguei, o partido está determinado a construir um belíssimo resultado tanto no Paraná quanto no Brasil. O partido está motivado e isso é muito importante para chegarmos ao segundo turno e vencermos as eleições

Sobre declaração do ex-presidente Lula sobre regulação para a mídia
É incrível que o Partido dos Trabalhadores e o partido que lutava pela democracia seja hoje o partido que quer trazer a agenda da censura novamente para a discussão. Isso é inconcebível. Defendemos a democracia lá atrás, citei aqui José Richa. Poderia falar das nossas origens, mas foram tantos brasileiros. Exatamente para que houvesse entre outras coisas absoluta liberdade de imprensa. Isso para nós é absolutamente inegociável. Onde tiver um candidato, um parlamentar, um governador, um presidente do PSDB, haverá um defensor intransigente da democracia, da independência dos poderes e, sobretudo, da liberdade de imprensa. Esse é um valor inalienável aqueles que acreditam que a democracia é um bem de todos. Aqueles que acham que a democracia só serve quanto instrumento da sua manutenção no poder, aí lamentavelmente trazem esse tipo de discussão. Combateremos isso e tenho certeza que o Brasil não retrocederá no que diz respeito a suas liberdades.

Sobre medidas impopulares
O Brasil precisa de um governo que fuja da demagogia. O Brasil precisa de um governo que faça aquilo que seja necessário sem olhar as curvas de popularidade. Quanto a medidas impopulares, elas já foram tomadas pelo atual governo. Vamos tomar medidas que corrijam as medidas, como por exemplo, aquelas que nos levaram hoje a ter o recrudescimento da inflação. Não há nada mais impopular, nada mais perverso, danoso para o cidadão brasileiro, sobretudo de baixa renda, do que o retorno da inflação, do que o baixo nível de investimentos, do que um crescimento pífio que será o pior dentre todos os países da América do Sul e da América Latina em toda última década. Esse é o crescimento do Brasil. Essa perda crescente de credibilidade do país. Afugenta investimentos, afugenta empregos.

A indústria no Brasil hoje tem uma participação no PIB que tinha na época, em que o ilustre mineiro presidia o Brasil Juscelino Kubitschek. Temos hoje a mesma participação da indústria na formação do PIB que tínhamos na década de 50, em torno de 13%. Essas são as medidas que precisaríamos corrigir, mas faremos isso com absoluta serenidade. Faremos isso com absoluta transparência. É óbvio que existem aí preços represados, que nós precisamos ao longo do tempo são regras claras.

O Brasil não pode mais continuar tendo sua política fiscal maquiada como vem tendo. Vou citar apenas um dado aqui para aqueles, talvez os de economia que estejam aqui estejam mais atentos a essa questão. Tivemos, no ano passado, um superávit primário de 1,9% do PIB. Nesse 1,9%, que já foi o mais baixo de todo o ciclo de governo do PT, portanto já mostrando uma incapacidade do governo de fazer essa economia, ele foi formado em metade por recursos do REFIS, cerca de 20 bilhões, campo de Libra da Petrobras, em torno de 15 bilhões, e o adiamento de gastos que deveriam ter ocorrido no ano passado para esse ano em torno de mais 0,3% desse conjunto.

Então tivemos, na verdade, um superávit em que 60% foram maquiados. Foram de receitas não correntes. Isso mostra a fragilidade fiscal na qual hoje estamos inseridos, ao qual estamos submetidos. E ninguém se engana mais. O Brasil está hoje, a verdade é essa, no final da fila. Tenho conversado com investidores de todo o mundo, tenho feito palestras fora do Brasil, e, infelizmente, o sentimento que se tem hoje em relação ao Brasil é de risco. Um país que não cumpre contratos, um país que intervém de forma absolutamente estabanada em setores vitais da economia, como o setor elétrico, por exemplo. Um país que desorganizou todo o seu processo de regulação, colocando as agências reguladoras no pacote das distribuições de espaços, em busca de apoio político. Então, reorganizar isso é necessário. Temos que fazer isso com absoluta serenidade. Mas podem estar certos: o governo do PSDB não será o governo da demagogia.

Sobre Eduardo Campos
Nossa estratégia é muito clara. E ela não se altera em razão de pesquisas ou o que quer que seja. Queremos apresentar ao Brasil uma alternativa a isso que está aí. Em todos os campos vamos estar prontos para a discussão. Seja na economia, onde fracassaram, seja na gestão do Estado, na demonização das privatizações durante 10 anos, e isso gerou um atraso enorme ao Brasil… o velho Tancredo costumava dizer que o ativo mais valioso da política é o tempo. E que o tempo perdido você não recupera. Você pode, nos anos que estão por vir, tomar outras medidas, mas aquelas que deixaram de ser tomadas em determinado momento, aquele tempo já foi.

E é isso que aconteceu com o Brasil. Se nós hoje temos gargalos, inclusive aqui na região, em Paranaguá, em rodovias, ferrovias que não chegam, é porque durante 10 anos eles demonizaram a participação do setor privado de forma envergonhada – agora ao final se curvam a essa necessidade, mas fazem isso de forma improvisada, sem absolutamente nenhum planejamento. E nos indicadores sociais, o governo fracassou.

Estamos voltando a ter analfabetismo no Brasil. Olha que coisa absolutamente inacreditável. Na saúde, a situação é trágica a cada ano, e o governo federal vem a cada ano gastando menos do que gastava. Quando eles assumiram o governo, 54% de tudo o que se investia em saúde pública era da União; hoje é apenas 45%. Na segurança, é uma outra tragédia, e aí sim é a omissão é criminosa. Hoje, 87% de tudo o que se gasta em segurança pública no Brasil vem dos cofres estaduais e municipais, e o Beto sabe do que estou dizendo. A solidariedade do governo é praticamente nenhuma. Nem em relação às fronteiras. Aqui no Paraná seja talvez o exemplo melhor. O Beto fez um esforço enorme para criar aí uma patrulha, para criar dentro da Polícia Militar o batalhão de fronteira, e por quê? Porque o controle das nossas fronteiras, que deveria ser responsabilidade da União, não vem tendo apoio da União. Tráfico de drogas, tráfico de armas, responsabilidade da União. E a União não participa da forma como deveria participar desse esforço. O Brasil não tem um plano nacional de segurança.

Os recursos de fundo de segurança, fundo penitenciário, são contingenciados sucessivamente a cada ano. Portanto, é contra isso que nós estamos nos movimentando. Em relação às diferenças ao Eduardo, é claro que nós temos diferenças. Se não tivéssemos, estaríamos no mesmo partido, apoiando a mesma candidatura. E é bom que essas diferenças sejam debatidas. Olha, eu não temo as nossas diferenças, tampouco eu temo as nossas convergências, quando elas são boas pro país.

Sobre aliança com o PSB no Paraná
Ninguém vai contra a realidade. Em Minas Gerais, não é diferente do que acontece no Paraná. O PSB participa do meu governo desde que eu me elegi na primeira vez, em 2002. Continua participando até hoje. A secretária de Educação de Minas Gerais é do PSB, uma grande secretária. Tem outra secretaria importante na área de esportes, que cuida inclusive da realização da Copa, é do PSB. Eu, assim como o Beto, Beto e eu apoiamos candidatos do PSB para a prefeitura da capital dos nossos estados. Então, o que vai acontecer é que as figuras do PSB obviamente trabalharão para o seu candidato, o que é muito natural. Vejo isso com absoluta tranquilidade. Nós, do PSDB, trabalharemos para o PSDB.

Sobre Copa do Mundo e eleições
De forma alguma. Isso valia lá atrás. Hoje não. Vamos torcer para o Brasil ganhar a Copa do Mundo, trazer a alegria para a nossa gente, e vamos mudar o Brasil. Vamos encerrar esse ciclo de governo que está aí. Eu acho que essas duas coisas são absolutamente compatíveis. Eu acredito muito nesse time que está aí, obviamente, ninguém é favorito como já foi no passado, quatro ou cinco seleções estão em condições de disputar o título, pelo menos quatro ou cinco, Alemanha, Argentina, Espanha, talvez a Holanda, mais ou menos nessa ordem, sempre com alguma surpresa… você viu que eu conheço futebol, não é? Mas esses são os times, e o Brasil está entre eles. Vou torcer para ganhar.

Agora, o que é lamentável sobre Copa do Mundo é que tudo aquilo que foi prometido ou grande parte daquilo que foi prometido como o grande legado, obras de infraestrutura, de mobilidade, nas redes hospitalares e educação. Nada disso aconteceu. Ficou tudo no meio do caminho. Por que? Porque hoje no Brasil temos um governo que promete muito e entrega muito pouco. Tivemos manifestações, em junho do passado, com demandas em todas as áreas, de transporte, de mobilidade, transporte público, de melhoria na educação, na saúde, de ética na política.

Não vejo que nenhuma dessas demandas tenha sido adequadamente atendida por esse governo. Exatamente pela incapacidade de gestão que tem demonstrado em todas as áreas. O Brasil é um grande cemitério de obras inacabadas com sobrepreços em todas as áreas. Essa, sim, é uma responsabilidade que o governo haverá de responder. Portanto, vamos lutar para vencer em campo e para vencer as eleições. As duas coisas vão ser muito boas para o Brasil.

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