• Planalto e Fifa alteram protocolos para evitar vaias, mas Dilma Rousseff é hostilizada no Maracanã. Com o fim dos jogos, debate sobre o torneio deve se concentrar na reforma do esporte e no saldo das obras para o Mundial
Denise Rothenburg – Correio Braziliense
A Copa da Fifa deixa os gramados para entrar na eleição. A ordem entre os oposicionistas agora, passado o Mundial, é lembrar que os problemas brasileiros ficaram amortecidos, daí, as vaias à presidente Dilma Rousseff ontem no Maracanã. Da parte do governo, entretanto, a estratégia é ressaltar o sucesso da "Copa das Copas", que conquistou os estrangeiros e deixou ao país não só uma boa imagem perante o mundo, como também uma série de obras, tentando assim minimizar as hostilidades à presidente na abertura e no encerramento do evento.
Ontem, Dilma e seus principais assessores, com a colaboração da Fifa, fizeram tudo o que estava ao alcance para evitar desgastes. A presidente, por sua vez, chegou em cima da hora do jogo, perdendo todo o início da festa de encerramento. A justificativa oficial foi a de que ela saiu tarde do Palácio Guanabara, mas o atraso evitou uma exposição presidencial antes do jogo, como ocorreu no Itaquerão durante a abertura.
Da parte da Fifa, o empurrãozinho para evitar o desgaste presidencial se deu em dois momentos. O primeiro foi fechar a cerimônia de passagem da bola ao comandante do próximo país anfitrião do Mundial, Vladimir Putin, da Rússia. Ali, todos puderam discursar longe dos olhos dos torcedores. Ao desejar sorte para os russos, Dilma tratou mais uma vez de separar a sucesso do Brasil nos gramados da organização da Copa: "Nós, brasileiros, guardaremos a emoção e satisfação de ter realizado um evento muito bem-sucedido, uma Copa que só não foi perfeita porque o hexa-campeonato não veio", disse.
A vaia mais forte à presidente veio logo depois do fim da partida, no momento em que ela entregava a taça ao capitão da seleção da Alemanha, Phillip Lahm. Os técnicos de som chegaram a aumentar o áudio para diluir a hostilidade à presidente e à própria Fifa. Dilma rapidamente passou o troféu ao jogador e se recolheu atrás da equipe, deixando a área da frente para os alemães. Ela ficou apenas três segundos com a taça em mãos. Antes desse momento, Dilma havia sido xingada, quando sua imagem foi exibida cumprimentando o técnico da Argentina, Alejandro Sabella.
Equipe rachada
Se nem todos os dribles da Fifa e da assessoria de Dilma conseguiram evitar as vaias, o sucesso da Copa — aeroportos funcionando, segurança a contento e estádios lotados sem registro de graves incidentes — não impediu arestas na equipe de campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. As divergências internas vieram por aquilo que alguns petistas consideraram "erro de avaliação": misturar o fraco desempenho da Seleção nos gramados às ações do governo.
Alguns integrantes da equipe de campanha afirmam nos bastidores que a "salada" de futebol com política resultou num post do site Muda Mais, capitaneado pelo ex-ministro de comunicação Franklin Martins, um dos coordenadores da campanha. O artigo traz críticas pesadas à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e seus cartolas. Dilma não gostou. A presidente tem feito todo o esforço para separar a logística da Copa do resultado no futebol. O post, na avaliação de muitos, traz para dentro do governo o desgaste da Seleção e, em sendo a CBF uma instituição privada, não seria de bom tom a campanha se envolver nesse tema.
Franklin, entretanto, não teria gostado de ataques ao artigo, e a relação entre ele e a presidente ficaram estremecidas. Terminada a Copa, a ordem será colocar a eleição em campo assim que terminar a reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ao longo desta semana. Depois, será hora de colocar os dois pés na campanha, especialmente, nas gravações dos programas de tevê, a maior aposta da equipe de Dilma para esta temporada eleitoral.
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