- Folha de S. Paulo
A Copa acabou e com ela o sonho de sermos hexa dentro de casa. Ganhou a Alemanha, prêmio ao planejamento, ao melhor time. Agora, como dizem dez entre dez brasileiros, tudo volta ao normal.
Gostaria que acontecesse exatamente o contrário. Prefiro a anormalidade da Copa do Mundo, que deveria ser nosso estado natural e, para alguns setores e pessoas, é.
Durante 32 dias, o Brasil encantou estrangeiros e brasileiros. Tudo funcionou bem melhor do que antes. Aeroportos, segurança, estádios, recepção, tudo num ritmo que não deixou nada a desejar.
Claro que houve incidentes, um viaduto caiu, a segurança falhou em alguns jogos, filas em estádios, mas, no balanço geral, o país ganhou com estilo o jogo fora das arenas.
Ou seja, quando queremos e precisamos, sabemos fazer bem. Agimos como um bom anfitrião. Que pinta a casa, reforma o quarto de hóspede, reforça a geladeira e melhora o astral para receber aquela visita tão esperada, que vem de longe e que queremos tanto que volte.
Aí, fica a pergunta. Por que não deixar a casa arrumada para seus habitantes diários e não só para visitantes ocasionais? Que tal tratar o vizinho da mesma forma que encantou os turistas estrangeiros?
Que tal nossos governantes dedicarem, todo santo dia, o mesmo zelo pelos serviços públicos demonstrado durante a Copa para dizer ao mundo que, sim, somos capazes?
Esse é o desafio. Tornar o "padrão Copa" vivido nas últimas semanas em algo normal, símbolo brasileiro para todos brasileiros. Acabar com os soluços de excelência provocados por eventos extraordinários.
Para isso, temos de aprender com nossos erros e não ficarmos embriagados com o sucesso momentâneo. No final, tudo funcionou bem, mas no sufoco, aos trancos e barrancos.
Aí está a queda do viaduto de Belo Horizonte como exemplo negativo da correria. Na Olimpíada do Rio, tudo pode ser melhor. Sem sofrimento.
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