• Presidente faz passagem simbólica do Mundial em cerimônia fechada e não assiste à festa de encerramento no estádio, mas é novamente alvo de protestos; mesmo assim, Planalto vê com alívio as manifestações, consideradas mais brandas do que na abertura
Jamil Chade e Silvio Barsetti - O Estado de S. Paulo
RIO - Apesar de todo o aparato da Fifa e do Palácio do Planalto para evitar mal-estar e constrangimento na festa de entrega de medalhas e do troféu para os jogadores da Alemanha, a presidente Dilma Rousseff foi hostilizada cinco vezes durante e após a decisão da Copa do Mundo, ontem à tarde, no Maracanã. Dilma também foi alvo de protestos quando entregou a taça de campeão ao capitão da seleção alemã, Philipp Lahm.
A “blindagem” da presidente, candidata à reeleição, foi organizada após as ofensas que recebeu por parte da torcida no jogo de abertura, na Arena Corinthians, em São Paulo. Dilma desistiu de ir aos demais jogos da Copa e existia até mesmo uma dúvida se ela entregaria o troféu. Ontem, mesmo com uma boa parte das cadeiras do estádio ocupada por estrangeiros, as vaias voltaram.
A cerimônia simbólica de passagem para a Rússia do comando da realização da Copa de 2018 foi feita de forma privada entre a petista, o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A entidade divulgou fotos e um comunicado, mas sem qualquer presença da imprensa ou do público.
Dilma não viu a cerimônia de encerramento da Copa no Maracanã, realizada antes da partida, e não fez o papel de anfitriã na tribuna de honra do estádio, onde estavam Putin e a chanceler alemã, Angela Merkel, além de outros chefes de Estado. Os dois acompanharam por 18 minutos a apresentação de dançarinos que mostravam aspectos da diversidade musical do País. Blatter ficou ao lado de Putin e Merkel, e dirigentes da entidade lamentavam discretamente a demora da presidente.
Dilma entrou na tribuna quando faltavam 10 minutos para o início da decisão, no jogo em que a Alemanha venceu a Argentina por 1 a 0, na prorrogação.
A presidente brasileira ocupou uma cadeira distante da primeira fila e ficou sentada entre Blatter e Merkel. Ao lado do cartola estava Putin. Toda a cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também foi colocada bem distante de Dilma.
Os telões do estádio, como já estava combinado, não mostraram a chegada nem nenhuma imagem da petista durante todo o jogo. Durante o segundo tempo da partida, houve as primeiras manifestações contra a presidente, que foi alvo novamente de xingamentos, a exemplo do já havia ocorrido na abertura do Mundial, no Itaquerão. Após o apito final, ela foi vaiada quando sua imagem apareceu nos telões, durante as premiações aos melhores da Copa e à seleção campeã.
Numa atitude que não passou de protocolar, Dilma ficou com o troféu em mãos por apenas três segundos e foi colocada atrás dos atletas alemães. Mas foi o bastante para a volta das ofensas.
Toda vez que Dilma era vista nos telões, uma música alta se misturava às vaias.
Durante o jogo, a presidente evitou ao máximo contato com os dirigentes da CBF José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, que também ocupavam a área reservada. Antes, durante e após a decisão, ela preferiu manter contato com os ex-jogadores Cafu, Bebeto e Dunga e a atacante da seleção feminina Marta. O assunto das conversas era um só: como reformular o futebol brasileiro a partir de agora?
Se de um lado a presidente brasileira evitava exposição, a chanceler alemã Angela Merkel passou boa parte do jogo se exibindo, dando entrevistas e acenando a todos os alemães no estádio.
Alívio. No Palácio do Planalto, porém, a manifestação da torcida ontem no Maracanã foi recebida com alívio. A avaliação é de que as hostilidades, já esperadas, em nada se assemelharam ao que aconteceu no jogo de abertura do Mundial.
Na cerimônia reservada de passagem do comando da organização da Copa para Putin, Dilma exaltou a organização do torneio. “Só não foi perfeita porque o hexacampeonato não veio”, disse a presidente, em discurso. / Colaboraram Tânia Monteiro e Lisandra Paraguassu
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