- O Globo
“Meu governo é padrão Felipão”. Dilma, no último dia 1º
Juscelino Kubistchek foi um presidente da República “pé quente”. No seu período de governo entre 1956 e 1961, o saltador Adhemar Ferreira da Silva sagrou-se bicampeão olímpico, a tenista Maria Esther Bueno celebrou o seu primeiro título no torneio de Wimbledon, o Brasil foi campeão mundial de basquete, Éder Jofre conquistou o título de campeão mundial de boxe, e a Seleção ganhou a Copa do Mundo.
O que quero dizer com isso? Nada. Lembrei de Juscelino ao ver uma fotografia onde ele acompanha pelo rádio a Copa do Mundo de 1958. A televisão ainda não transmitia os jogos. Getúlio Vargas, a quem Juscelino sucedera no cargo, costumava fazer comícios em estádios de futebol no Rio. Foi o primeiro presidente a aproximar a política dos esportes na tentativa de obter maior apoio popular.
Coube a Juscelino inaugurar o hábito de presidentes receberem em palácios a Seleção que voltasse vitoriosa de uma Copa do Mundo. Além de condecorar os jogadores, Juscelino posou para fotografias ao lado da taça batizada de Jules Rimet em homenagem a um antigo presidente da FIFA. A seleção que fosse tricampeã ficaria com a taça em definitivo. Isso levou 41 anos para acontecer.
O Brasil foi bi em 1962 durante o governo do presidente João Goulart. E tri em 1970 quando o país atravessava a fase mais violenta da ditadura militar de 1964. O então presidente, general Garrastazu Médici, frequentava o Maracanã em dias de clássicos. O Brasil crescia a taxas elevadas. A Seleção visitou Médici em Brasília. A taça Jules Rimet acabou roubada da sede da CBF em 1983. Nunca mais apareceu.
Fernando Henrique Cardoso tirou casquinha duas vezes de vitórias da Seleção. A primeira em 1994 quando se elegeu presidente e a Seleção foi tetracampeã. A segunda em 2002 quando recepcionou a Seleção pentacampeã no último ano do seu segundo governo. O atacante Vampeta deu uma cambalhota na rampa do Palácio do Planalto. Fernando Henrique levantou a atual taça ao lado de Cafú e Felipão.
Seleção derrotada jamais foi admitida no endereço mais importante da República. Nem sequer para ser consolada. É possível que uma mulher presidente tenha a sensibilidade que faltou aos seus antecessores. Quando nada porque se orgulha, e com razão, de ter ganhado a Copa travada fora dos campos. Tudo funcionou a contento. A Copa está sendo reconhecida como a melhor da História. E Dilma não joga futebol.
Logo, não pode ser culpada pelo mais vergonhoso desempenho da Seleção desde que o Brasil virou uma pátria de chuteiras.É verdade que lhe faltou a prudência demonstrada por Lula. Alguém por aí viu Lula em algum estádio? Oito novos estádios bastavam. Atraído pela ideia de dividir a taça com Dilma, Lula bancou a construção de 12. Alguém por aí viu alguma foto de Lula torcendo em casa pela Seleção? Nem isso.
Dilma foi obrigada a se expor. Poderia ter feito isso somente duas vezes – na abertura da Copa e na entrega da taça ao novo campeão. Mas caiu na tentação de tirar proveito político de uma Seleção que capengou feio desde o seu primeiro jogo. Agora, acende velas para que as próximas pesquisas de intenção de voto não lhe tragam más notícias. Aposta na capacidade do brasileiro de separar o que ela ensaiou juntar.
A verdade é que o destino foi ingrato com Dilma. Mesmo que nada perca com a Copa alguma coisa ela deixa seguramente de ganhar. Abrem-se as cortinas e começa um novo espetáculo – dessa vez o das eleições gerais.
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