- O Globo
A reviravolta da reviravolta da bancada do PTB, que se rebelou contra a decisão da Executiva Nacional de apoiar a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República e declarou voto em Dilma Rousseff, é mais uma faceta dessa farsa em que se transformou o jogo partidário brasileiro.
Ferido com o mesmo ferro com que feriu a presidente, o candidato do PSDB, assim como a incumbente em vários casos, vai somar o tempo de propaganda eleitoral do PTB, mas não terá a máquina do partido a trabalhar por ele nos estados.
Deve estar arrependido da frase que disparou no auge das traições partidárias, quando estimulou membros da base aliada a “sugarem” o mais que possam o governo federal para depois se juntarem à oposição.
Estimular esse tipo de atitude não corresponde à proposta que o tucano promete apresentar ao eleitorado, de mudança de nossos hábitos e costumes políticos. Se for para deixar tudo como está, para que mudanças?
Ao apresentar o seu programa de governo, Aécio terá oportunidade e espaço para se desfazer desse equívoco, comprometendo-se com uma reforma política que dê ao país alguma estabilidade e previsibilidade na organização partidária.
O caso do PR é exemplar do que não se deveria fazer em uma política séria, e do que se deve fazer em uma política rasteira que vigora em Brasília.
A humilhação a que foi submetida a presidente Dilma, tendo que engolir goela abaixo a recondução do grupo do PR que havia sido varrido do Ministério dos Transportes por suspeita de corrupção, e ainda ter que ceder com relação à direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão que estava no centro das denúncias de corrupção na gestão anterior, foi um requinte de maldade extra na vingança do PR, que assim vendeu caro seu apoio à reeleição.
O general de Exército Jorge Ernesto Pinto Fraxe, que pediu afastamento “por razões pessoais”, assumira o cargo de diretor-geral do Dnit em setembro de 2011 em substituição a Luiz Antônio Pagot, que deixou o órgão em meio a denúncias de corrupção que atingiram toda a diretoria e levaram à saída do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.
Sobre o general, contam as más línguas em Brasília uma piada que se transformou em exemplo de como a gestão no governo Dilma (não) funciona. Para parar a roubalheira no Dnit, a presidente deu carta branca ao general, que realmente estancou os problemas de superfaturamento nas obras públicas com uma decisão draconiana: não aprovava nenhum projeto, por menor que fosse. As obras não andavam, mas também não havia corrupção.
O ex-governador de Pernambuco, atual candidato à Presidência pelo PSB, reclamava muito da administração do general Fraxe, denunciando que as obras no Nordeste estavam todas paradas.
A retomada do Dnit pelo mesmo grupo do PR que havia sido enxotado de lá pela “faxineira ética”, personagem que por alguns meses Dilma representou, é um retrocesso institucional dos grandes, que reduz os partidos políticos a meros instrumentos de vantagens pessoais de grupos, e faz com que obras viárias necessárias ao país se transformem em dutos de trocas de interesses públicos em privados.
A Copa e a política
O sucesso da Copa do Mundo anda subindo à cabeça de quem não deveria. O presidente da FIFA, Joseph Blatter, resolveu gozar a cara dos opositores perguntando “onde está a ira social” prometida. O ex-presidente Lula, no mais hilário pronunciamento de todos, disse que a Inglaterra foi desclassificada porque não estava acostumada a jogar em gramados tão bons quanto os do Brasil, logo os gramados, um dos pontos negativos dos novos estádios de futebol.
E todo o governo e seu aparato midiático não esconde a euforia com o desenrolar do campeonato, claramente esperando dividendos eleitorais pela derrota dos pessimistas, como alardeia Dilma dia sim, dia não.
A pesquisa do Datafolha que sai hoje de manhã pode dar um alento aos governistas, diante do ambiente desanuviado que o país vive no momento. Mas, se não houver mudanças na popularidade da presidente, aí a coisa estará pior do que imaginam.
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