• Dilma alega que, por ser presidente, não pode comentar julgamento do mensalão
Luiza Dame e Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA - Confrontada com os casos de corrupção no governo envolvendo caciques petistas, a presidente Dilma Rousseff fugiu ontem da resposta, afirmando que não comentaria o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o mensalão. Manteve essa atitude, mesmo quando lembrada que a pergunta se referia ao comportamento do seu partido em relação aos petistas condenados. Ela também admitiu que a situação da Saúde no país não é aceitável. Candidata do PT à reeleição, Dilma foi a terceira entrevistada da série com presidenciáveis do "Jornal Nacional", da "TV Globo".
- Sou presidente da República e não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal Federal, por um motivo muito simples: a Constituição exige dos demais chefes de Poder que respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos - disse a presidente, sendo interrompida pelo apresentador William Bonner, que perguntava sobre a postura do PT, e não sobre o julgamento do mensalão no STF.
O jornalista perguntou a Dilma se o PT não era condescendente com os mensaleiros condenados pelo STF, ao tratá-los com vítimas de uma injustiça e como guerreiros.
- Tenho as minhas opiniões pessoais. Enquanto eu for presidente, não externo opinião a respeito de julgamento do Supremo. E não é a primeira vez que eu respondo isso. Durante o processo inteiro, não manifestei nenhuma opinião sobre o julgamento. Respeito o julgamento - disse Dilma, sendo interrompida pelo jornalista, que perguntava novamente sobre a postura do PT. - Eu não vou tomar posição que me coloque em confronto, conflito. Aceitando ou não, eu respeito a decisão da Suprema Corte. Isso não é uma questão subjetiva. Para exercer o cargo, eu tenho de fazer isso.
Dilma: estruturação dos órgãos de controle
Antes de chegar a esse ponto, a presidente disse que os três governos petista - o seu e os dois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - foram os que mais combateram a corrupção, estruturando os órgãos de fiscalização, como a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU).
- Tivemos uma relação muito respeitosa com o Ministério Público. Nenhum procurador-geral da República foi chamado, no meu governo e no do presidente Lula, de engavetador-geral da República, porque escolhemos com absoluta isenção os procuradores - disse, referindo-se ao apelido do chefe do Ministério Público nos governos tucanos.
A presidente defendeu seu auxiliares afastados por denúncia de corrupção, dizendo que "nem todas as denúncias de escândalo resultaram na constatação de que a pessoa tinha que ser punida, e muitos foram posteriormente inocentados". Segundo Dilma, que concedeu a entrevista no Palácio da Alvorada, alguns saíram do governo porque "é muito difícil resistir à pressão da família ou à apresentação da pessoas como tendo cometido um crime".
Dilma não concordou com a análise de que, ao fazer uma troca de ministros por pessoas do mesmo partido partido, está trocando "seis por meia dúzia", como disse Bonner. Ela lembrou que foi criticada por ter trocado César Borges por Paulo Sérgio Passos, ambos do PR. Borges foi dos Transportes para Portos, e Passos entrou no seu lugar.
- São pessoas que escolhi nas quais confio. Os partidos podem fazer exigências, mas considero que ambos são pessoas íntegras e competentes. São pessoas da minha confiança. Troquei porque tinha confiança nessas pessoas.
O bloco sobre corrupção foi interrompido pela jornalista Patrícia Poeta, que fez uma pergunta sobre Saúde. A jornalista lembrou que o setor está entre as principais preocupações dos brasileiros e perguntou se, em doze anos de governo petista, não seria possível deixar a Saúde nos trilhos. Dilma fez uma explanação sobre as etapas do Mais Médicos - um dos carros-chefe do seu governo. Patrícia perguntou então se Dilma considera "minimamente razoável" a situação da Saúde, uma vez que as pessoas enfrentem filas e são atendidas em macas.
- Não acho (minimamente razoável). Até porque o Brasil precisa também de uma reforma federativa, porque há responsabilidades federais, estaduais e municipais. Assumimos, no caso do Mais Médicos, como uma responsabilidade federal, porque temos mais recursos. Mas resolvemos o problema dos 50 milhões de brasileiros (que passaram a ter atendimento) e dos 14 mil médicos. Temos de melhorar a Saúde, não tenho dúvida - disse.
Dilma foi interrompida para falar da economia brasileira. Confrontada sobre o índice da inflação, no teto da meta, a baixa projeção de crescimento do país este ano e os dados do superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública), Dilma manteve o discurso de que o país enfrentou a crise internacional sem desempregar e arrochar salários.
- Primeiro, enfrentamos a crise, pela primeira vez no Brasil, não desempregando, não arrochando os salários, não aumentando tributos. Pelo contrário, diminuímos, desoneramos a folha (de salários das empresas), reduzimos a incidência de tributos sobre a cesta básica. Enfrentamos a crise também sem demitir. E qual era o padrão anterior? - disse Dilma, mostrando irritação com números negativos apontados pelos entrevistadores:
- Não sei de onde são os seus dados. Temos duas coisas: melhoria prevista no segundo semestre. Tem uma coisa em economia que são os índices antecedentes e os índices que evidenciam como está a situação atual. Todos esses índices indicam uma recuperação no segundo semestre vis-à-vis o primeiro semestre. Se não olhar para o retrovisor e o que está acontecendo hoje, ela está a zero por cento. Estamos superando a dificuldade de superar uma crise sem demitir, gerando emprego e renda.
No minuto final, Dilma pediu que todos acreditem no Brasil e não sejam pessimistas, acusação que sempre faz à oposição.
- Fui eleita para dar continuidade ao governo Lula. Ao mesmo tempo, preparamos o Brasil para um novo ciclo de crescimento: moderno, mais produtivo, mais competitivo. Criamos as condições para o Brasil dar um salto (...) Eu acredito no Brasil. Mais do que nunca, todos nós precisamos acreditar no Brasil e diminuir o pessimismo - encerrou a presidente, lembrando a frase de Eduardo Campos na mesma sabatina do JN, um dia antes de morrer em acidente aéreo: "Não vamos desistir do Brasil".
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