quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Aécio acusa Marina de plagiar FH sobre direitos humanos

• Candidato do PSDB chama adversária de "metamorfose ambulante" em evento em SP

Silvia Amorim e Maria Lima – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou ontem a candidata do PSB, Marina Silva, de copiar trecho do Plano Nacional de Direitos Humanos do governo de Fernando Henrique Cardoso, de 2002, para usar no programa de governo dela, apresentado na semana passada. A acusação de Aécio aconteceu em meio a ataques à ex-senadora, a quem chamou de "metamorfose ambulante".

- Eu já vi incoerências muito grandes entre a prática da candidata e o seu discurso atualizado. Mas me surpreendi ao perceber que o capítulo dos Direitos Humanos do programa de governo da candidata Marina é uma cópia fiel do PNDH feito no governo Fernando Henrique. Não se teve o cuidado sequer de alterar palavras - disse Aécio, que, no final de semana, já havia acusado Marina de plagiar pontos do programa na área econômica.

Neca Setúbal e Maurício Rands, do comando da campanha de Marina, não foram encontrados para comentar a acusação feita por Aécio.

Para tentar conter o clima de pessimismo entre aliados e rumores de que renunciaria, Aécio convocou ontem lideranças do partido, em São Paulo, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique, para reafirmar sua candidatura. Sem a presença do coordenador-geral da campanha, senador José Agripino Maia (DEM), que anteontem fez declarações que deflagraram o mal-estar, Aécio disse que "vai lutar até o último instante" e atacou Marina Silva, a quem chamou de "metamorfose ambulante".

A referência à adversária arrancou risos dos tucanos que o acompanhavam no pronunciamento. Aécio estava criticando a campanha da presidente Dilma Rousseff pela decisão de, agora, às vésperas do primeiro turno, tirar da gaveta, no Congresso, um projeto que concede benefícios tributários a templos religiosos:

- O improviso não é o melhor conselheiro. De um lado, temos um governo que reage aos índices das pesquisas alterando as suas convicções, com um certo desespero, o que não é bom. Do outro lado, o que vejo é uma candidatura que mais se assemelha a uma metamorfose ambulante, que altera suas convicções ao sabor das circunstâncias.

Sem citar Aécio Neves, Marina Silva acusou o candidato tucano de agir com "certa insegurança" por ter anunciado que colocaria o ex-presidente do Banco Central Armírio Fraga no Ministério da Fazenda em seu eventual governo.

- Eu acho muito temerário esse negócio de você andar de salto alto nomeando ministro antes de ser eleita - disse a candidata, indagada em sabatina ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo", sobre quem seriam os seus ministros.

Aécio nega renúncia e diz que luta até o fim
Com aliados por todo o país já descrentes na chegada ao segundo turno, Aécio usou ontem as câmeras para transmitir entusiasmo e confiança:

- Quero afirmar que tenho plena confiança de que iremos ao segundo turno e venceremos essas eleições. Vou lutar até o último instante.

Pesquisas divulgadas ontem mostraram o tucano em terceiro lugar no Rio e em São Paulo. Aécio já ouviu de aliados que a campanha estaria perdida. Segundo eles, a reação do mineiro foi o silêncio. Nas redes sociais cresceram os rumores de que o tucano renunciaria à candidatura para dar apoio a Marina e reduzir as chances de segundo turno. Aécio desconversou e usou ironia:

- Eu? Renúncia? Eu espero é que a presidente não renuncie, porque eu gostaria muito de enfrentá-la no segundo turno.

Aécio fez ataques ao governo Dilma, mas as críticas mais duras ficaram reservadas a Marina. Ele voltou a expor o que considera contradições da adversária, citando os tempos em que a ex-senadora era filiada do PT e foi contra o Plano Real e a cultura de soja transgênica pelo agronegócio. Fernando Henrique reforçou:

- Por que foi possível domar a inflação, criar instituições, valorizar a democracia? Porque tinha uma equipe e capacidade de juntar um time. Não se governa sozinho.

O candidato a vice na chapa de Aécio, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), disse que o boato sobre a renúncia "é desonesto e de uma canalhice sem tamanho. Uma felonia."

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