- O Estado de S. Paulo
Reza a prudência que não se fale de corda em casa de enforcado. Mas a campanha da presidente Dilma Rousseff pelo visto no horário eleitoral de ontem resolveu deixar a cautela de lado para entrar de sola no tema das relações entre os Poderes Executivo e Legislativo.
Um terreno especialmente pantanoso tanto para o PT quanto para Dilma, cujos métodos na arte de conquistar amigos e influenciar pessoas no Parlamento não os credenciam como os melhores professores na matéria e deixam uma avenida de flanco aberto para o contra-ataque.
Ao que parece a urgência do ataque falou mais alto. O fato de o telhado ser de vidro pesou menos que a urgência de ressaltar a incapacidade da candidata do PSB, Marina Silva, de governar, caso seja eleita, devido à falta de apoio parlamentar.
A ideia foi exposta de maneira simplista, como convém às mistificações: com 33 deputados (hoje, antes da eleição) e a necessidade de no mínimo 129 para aprovar um projeto de lei, Marina forçosamente terá de fazer acordos.
"Será que ela tem jeito para negociar?". É a pergunta que fica no ar antes de a propaganda mostrar imagens de Jânio Quadros e do impeachment de Fernando Collor para concluir: "A gente sabe como isso acabou".
Sim, sabemos. Jânio afastado depois de ver frustrado seu plano de retorno quando o Congresso deu por efetivada sua renúncia. Collor deposto por deixar que seu tesoureiro Paulo Cesar Farias comandasse um esquema de arrecadação de propinas e hoje senador integrante da base de apoio do governo.
O questionamento sobre a disposição de Marina para fazer acordos não deixa de ser pertinente. A outra pergunta a respeito da habilidade dela para negociar da mesma forma é apropriada.
O problema é que vindas do PT de histórico acumulado nos últimos 12 anos, as questões permitem revides muito óbvios. Em relação à primeira: o que seria disposição para fazer apoios? Comprá-los, conforme ficou demonstrado no processo do mensalão que levou à cadeia parte da antiga cúpula do partido?
Não precisaria ser Marina, qualquer candidato responderia que é possível negociar sem transformar a política em negócio nem fazer do Congresso um Poder inteiramente submisso. Entre outros motivos porque é verdade. Nem sempre as coisas foram como vinham sendo nos últimos anos.
No tocante à segunda indagação sobre o "jeito" da candidata para negociar, pode ser que não tenha e que, se eleita, venha a se revelar inflexível. Mas, por ora, em matéria de intransigência é da presidente Dilma Rousseff o posto de rainha reivindicado para si com honras de Estado.
Reverso. Se há um mês os tucanos torciam para que Eduardo Campos mantivesse nas pesquisas ao menos um patamar suficiente para assegurar o segundo turno, agora são os petistas que temem uma redução maior dos índices de Aécio Neves.
Um fantasma assombra o Planalto: a possibilidade de Marina ganhar a eleição em primeiro turno.
Frutos do mar. O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, preso em Curitiba, desistiu do pedido de habeas corpus que o advogado Nélio Machado havia impetrado no tribunal federal da 4.ª região, em Porto Alegre, antes de deixar a causa em decorrência da decisão de Costa de fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público (MP).
A desistência é sinal claro de que as negociações com o MP estão em andamento, a despeito de a nova advogada da causa, Beatriz Catta Preta, ter dito que isso ainda dependia de uma decisão de seu cliente.
A negociação é delicada. Os procuradores querem nomes de políticos que se beneficiaram de contratos superfaturados com a Petrobrás. Não se contentarão com bagres. Estão atrás dos peixes grandes. De preferência, um tubarão.
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