• PT vê chance de virar, mas se for Marina, paciência
- Valor Econômico
Como está o humor do ex-presidente Lula, ameaçado de perder a Presidência da República, as eleições nos Estados, os milhares de cargos aparelhados pelo PT, o apoio da elite, e a capacidade de ser ouvido em qualquer tipo de discurso contra tudo e todos? É o que se pergunta quem assiste à atual luta da presidente Dilma, sua discípula, para se reeleger.
Lula não tem explosões temperamentais, pelo menos diante de testemunhas de fora. O que se registra é pior: Lula está abúlico, amuado, farto. Faz campanha com indiferença, na maior parte do tempo fica discreto. Grava programas, participa de um comício, opta pela fácil e injustificada peroração contra a imprensa, sua moeda eleitoral à falta de candidatos que o empolguem. Já estava assim antes, piorou depois da troca de Eduardo Campos, morto a 50 dias da eleição, por Marina Silva.
Lula discordava das opções da campanha petista, do marqueteiro, dos integrantes do comando, do coordenador, até que cansou, desistiu e deixou que fizessem o que bem entendessem.
Quando entrou Marina, ex-ministra do seu governo, que já passou por quatro partidos à procura de sombra para instalar seu trono, Lula recolheu-se mais ainda. Nas duas últimas semanas, quando a candidata do PSB virou fenômeno, emudeceu. O baixo astral não significa que ficará paralisado ou que tenha desistido de lutar até o fim. Vai trabalhar, até para evitar o pior.
Lula estava discreto e assim vai continuar, em que pese o risco que se avizinha da candidata do PT. Ele esteve ontem no palanque de São Bernardo, a acompanhará à Bahia, viajará depois a Pernambuco, onde Dilma já teria perdido a dianteira para Marina, gravará mais programas, e basta.
O mais sintomático desse estado de espírito é que já tem muita gente ao seu redor mostrando que todos ganharão mais com Marina do que com Dilma, a quem acusam de ter um PT só seu.
Vale acompanhar a brincadeira e o raciocínio: amigos do ex-presidente perguntam-se qual o sobrenome de Marina (Silva, como ele), de onde veio e em que governo despontou (do PT, como ele), quem está votando nela (os pobres que votaram nele), essa maioria que a vê como predestinada, aquela que governará com assistência divina (como viam o santo Lula até há pouco tempo), os que vão de seringueira agora porque já foram de metalúrgico antes.
Mas há o contraponto da disputa. Um petista diz que Marina é Lula de saias; outro que não, as saias são de Fernando Henrique. Desde ontem os discursos no partido se embaralharam. Os ricos e poderosos estariam com Marina enquanto os pobres ficariam com Dilma, mas o inverso faz parte também do argumento segundo o qual Lula ganharia em qualquer hipótese porque entrou com duas candidatas, Lula A e Lula B.
E o fato de Marina distribuir acenos a Lula para tranquilizá-lo quanto à sua intenção de não disputar a reeleição, deixando 2018 para ele, dá ao PT argumento para justificar o conforto do ex-presidente com sua eleição.
O partido, e não só Lula, se beneficiaria. A petista de coração Marina não desalojaria os petistas do governo.
A argumentação na campanha embute uma constatação verdadeira. Marina deixou o PT mas o PT não a deixou nem aos seus acólitos, o chamado grupo íntimo de colegas de Igreja e petistas de coração. Não é proibido consolar, organizar abrigo no futuro, enquanto o paciente ainda respira. A preocupação do momento é a derrota no primeiro turno.
O partido tem confiança que, no segundo turno, conquistará para Dilma os votos de rejeição a Marina depois de o eleitor conhecê-la melhor. E o partido sente, hoje, alguma reação favorável, a partir de debates, entrevistas e propaganda que, na avaliação interna, mostram Dilma mais segura e consistente, em contraponto ao que seria um discurso vazio de frases que entram e saem sem contar a história, de Marina Silva. "Com quem ela vai governar? Com Ongs?" Aliás, é de se esperar a definição do papel dessas organizações, as únicas instituições que a candidata do PSB parece respeitar, no seu governo. Mas essa já é uma outra história.
Acompanhamentos feitos pelo PT, os "trackings", já apontam uma diferença de cinco pontos a favor de Marina, que até sexta estava empatada com Dilma. Se Dilma cair aos 29%, o candidato do PSDB, Aécio Neves, encolher para 10%, o que não seria surpresa com a pressão pelo voto útil, bastaria a Marina atingir 40%, ou pouco mais, para vencer no primeiro turno.
Esse é o pesadelo do momento apesar da convicção de que a vitória de Marina seria também do PT, enquanto a derrota de Dilma seria a derrota do governo, ou seja, só dela.
Ainda tem uma conversa de consolo rondando o PT: o partido pode ficar melhor com Marina do que esteve com Dilma. Militantes estão fora das ruas, tão desanimados quanto Lula. Dilma não o conquistou, agora é o partido que não faz questão.
A JBS faz rodada de explicações prévias sobre a segunda prestação de contas de financiadores de campanha que o TSE deve divulgar até sábado. Na primeira, a empresa foi a maior doadora, com cerca de R$ 50 milhões. Os valores da segunda etapa não foram ainda confirmados mas dificilmente ficarão abaixo da primeira, deixando a JBS no pedestal do financiamento de 2014 com pelo menos R$ 100 milhões.
Condená-la por isso, acredita, equivale a matar o mensageiro. O argumento é que com 185 mil funcionários, presente em todos os Estados da federação e vários países do mundo, e relações com diferentes partidos, é empresa séria e fez doação de acordo com a lei e para todos.
Há, também, questionamentos sobre o desequilíbrio das quantias que destina ao PT e PSDB, cinco vezes maiores que ao PSB de Eduardo Campos e agora de Marina Silva. Quando as eleições começaram, o quadro era um, hoje é outro, justifica.
A empresa poderia também ter dito sem medo de impropriedade: O Brasil que resolva sua salada partidária e encontre solução sobre financiamento das eleições.
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