Malgrado esforços, enormes, do comitê reeleitoral da presidente e do alto comando do PT, as ações como agentes do Estado (não do governo) do juiz Sérgio Moro e da Polícia Federal, de par com o trabalho da mídia de repercuti-las e desdobrá-las (com investigações próprias, ingrediente essencial da liberdade de imprensa), já evidenciaram vultosos desvios de recursos com negociatas e pagamentos de propinas a políticos, vinculados a projetos e compras da Petrobras, de 2004 em diante.
Escândalo que as autoridades que realizam a “operação Lava Jato” atribuem a uma “organização criminosa” centrada na empresa e associam a desvios semelhantes apurados (ou em fase de apuração) em outras operações do gênero. E cuja escala os presidenciáveis Aécio Neves e Marina Silva, pertinentemente, classificam como muito maior que o mensalão do PT.
A sociedade cobra que todos que acabarem julgados (com o pleno uso do direito de defesa) como participantes e beneficiários do megaescândalo sejam efetiva e exemplarmente punidos.
Mas acima desses atores de graves ilícitos há um fator que não os justifica mas explica a escalada de corrupção a que o país tem assistido. Trata-se do gigantismo estatal, combinado com progressivo aparelhamento partidário do conjunto dos órgãos da administração direta e indireta da União. Que passou, a partir do segundo mandato de Lula e sobretudo com o alto grau de intervencionismo do governo Dilma Rousseff, a condicionar crescentemente as relações do poder público com a iniciativa privada. Desde aquelas ligadas ao fornecimento ou a parcerias em torno de serviços, em especial de grande porte, até as de acesso a financiamento de bancos federais e a benefícios de desonerações fiscais seletivas.
Quase tudo, nessas relações, incluindo o papel exercido por integrantes da chamada base governista, sobretudo de petistas, como facilitadores de negócios e contratos. Papel que o lulopetismo busca reforçar com a insistência numa proposta vendida falsamente como democrática mas que a rigor objetiva limitar o pluralismo político e restringir ainda a autonomia da iniciativa privada: o financiamento público de campanhas eleitorais. Proposta que é irmã gêmea da do “controle social” dos meios de comunicação. Ambas baseadas nas perspectivas de um segundo mandato de Dilma e de uma volta de Lula em 2018.
“Onda da razão”, de Aécio. E o voto útil em Marina.
A nova pesquisa do Ibope, divulgada ontem à noite e a do Datafolha, com fechamento previsto para quinta-feira, indicarão o fôlego – suficiente ou insuficiente – para recolocar Aécio Neves na disputa do 1º turno, propiciando-lhe, ou não, chegar nas pesquisas seguintes a um empate técnico com a concorrente do PSB.
Na primeira hipótese, traduzindo em termos eleitorais o revigoramento político de sua candidatura como “verdadeira alternativa” ao petismo, conseguido por ele de uma semana para cá. Tradução que começou com a retomada de parte das intenções de votos perdidas para Marina Silva, em Minas, São Paulo, no Centro-Oeste e sobretudo nos estados da região Sul. Mas numa escala que precisará ser bastante ampliada para compensar índices muito baixos, e decrescentes, no Norte, no conjunto do Nordeste e também no Rio. Já na segunda hipótese – de que as pesquisas desta semana mantenham a taxa nacional do presidenciável do PSDB em torno dos 20% - ele terá de enfrentar o recomeço da pressão política, com efeitos eleitorais negativos, pelo voto útil em favor de Marina. Pressão que, neste cenário, será maior se os novos levantamentos mostrarem crescimento da candidata governista.
A interrupção do crescimento de Aécio – registrada na pesquisa do Ibope e em duas outras divulgadas ontem, e com provável confirmação pelo Datafolha de amanhã – tem, agora, a apenas dez dias do 1º turno, o efeito de uma forte ducha de água gelada ao movimento para recolocá-lo na disputa como finalista dessa fase.
Jarbas de Holanda é jornalista
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