• A presidenta, a primeira oradora do evento que reuniu 140 líderes mundiais, negou ter feito um discurso de campanha e disse que o Brasil é respeitado lá fora pelos seus feitos
Redação, com Reuters - Brasil Econômico
Diante de uma plateia de mais de140 chefes de Estado e de governo, a presidenta Dilma Rousseff usou 23 minutos de seu discurso de meia hora na 69ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ontem de manhã em Nova York, para fazer uma ampla defesa de seu governo e o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ressaltando as conquistas sociais do país nos últimos anos, como o combate à fome e à miséria, ao desemprego, à homofobia e à violência contra a mulher. Desde 1947, na primeira sessão especial da Assembleia Geral da ONU, o então chanceler Oswaldo Aranha inaugurou a tradição de ser um brasileiro o primeiro orador do foro internacional. A presidenta celebrou a saída do Brasil do Mapa da Fome, anunciada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Isso foi, segundo ela, resultado de uma política econômica que criou 21 milhões de empregos e valorizou o salário, aumentando em71% seu poder de compra nos últimos 12 anos. "Com isso, reduzimos a desigualdade", comemorou. Dilma lembrou que 36 milhões de brasileiros deixaram a miséria desde 2003, 22 milhões só no seu governo. A presidenta, candidata à reeleição, negou, após a sua fala, que tenha usado o discurso como evento de campanha eleitoral. "Eu falo que o Brasil reduziu a desigualdade, aumentou a renda e ampliou o emprego em todos os discursos. Isso é um valor que o mundo reconhece. Como chefe de governo tenho imenso orgulho disso e acho que parte do respeito que o Brasil tem no plano internacional decorre do fato de a gente ter feito isso",justificou-se.Em seu discurso, ela afirmou que "o mesmo empenho que temos em combater a violência contra as mulheres e os negros, os afro-brasileiros, temos contra a homofobia".
Dilma se referiu à decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Assuntos ligados aos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros) entraram no debate eleitoral após o PSB ter divulgado revisão do capítulo do programa de governo de sua candidata, Marina Silva, sobre direitos dos homossexuais. Marina tem se defendido dizendo que a mudança foi para corrigir uma "falha de editoração". Mas parte do movimento LGBT considerou a alteração do programa um retrocesso. Além de ressaltar conquistas nas áreas sociais, como saúde e educação, a presidenta afirmou que o Brasil não descuidou da solidez fiscal e da estabilidade monetária, protegendo-se da "volatilidade externa".
Dilma, no entanto, reconheceu que as dificuldades persistentes em todas as regiões do mundo "impactam negativamente" o crescimento do Brasil. "Ainda que tenhamos conseguido resistir às consequências mais danosas da crise global, ela também nos atingiu deforma mais aguda nos últimos anos", disse. A presidenta voltou a criticar ontem duramente o uso da força no lugar da diplomacia, como havia feito na cúpula do Clima realizada na terça-feira, também em Nova York. "A cada intervenção militar, não caminhamos para a paz, mas sim assistimos ao acirramento desses conflitos. Verifica-se uma trágica multiplicação do número de vítimas civis e de dramas humanitários. Não podemos aceitar que essas manifestações de barbárie permaneçam ferindo nossos valores éticos, morais e civilizatórios", protestou.
"O uso da força é incapaz de eliminar as causas profundas dos conflitos. Isso está claro na persistência da questão palestina, no massacre sistemático do povo sírio, na prática de desestruturação nacional do Iraque, na grave insegurança na Líbia, nos conflitos de Israel e nos embates na Ucrânia", completou. Dilma fez ainda um novo apelo pela ampliação do direito a voto dos países em desenvolvimento em instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Ela classificou como "inaceitável" a demora nessa mudança. "É imperioso pôr fim ao descompasso entre a crescente importância dos países em desenvolvimento na economia mundial e sua insuficiente participação nos processos decisórios das instituições financeiras internacionais, como FMI e o Banco Mundial", afirmou.
A presidenta defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU e criticou a sua incapacidade de encontrar soluções para os vários conflitos no mundo. "Todos entendemos os graves riscos da paralisia e da inação do Conselho de Segurança da ONU. Um conselho mais representativo poderia ser também mais eficaz", afirmou. O Conselho tem cinco membros permanentes: Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia e China. O Brasil e outros países defendem a sua reforma para que ele represente melhor o novo cenário global, incluindo outros países.
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