As pesquisas divulgadas ontem à noite pela Globo – do Datafolha e do Ibope – reforçam a possibilidade, ou a tendência mais recente (a ser confirmada ou esvaziada por outras que o serão ao longo da semana) de que Aécio Neves consiga até domingo empatar e ultrapassar Marina Silva como finalista da oposição para o confronto final com a governista Dilma Rousseff. Os dois levantamentos registram redução da superioridade de Marina sobre Aécio, respectivamente, para cinco pontos das intenções de voto dela, de 25% para 20%, e de seis pontos, de 25% para 19%. Com mais uma queda da candidata do PSB, ao passo que o tucano ganha dois pontos na primeira, e mantém o percentual no segundo. Por seu turno, Dilma estabiliza as suas em 40% e em 39%, após avanços em pesquisas anteriores. Nas projeções do 2º turno, esta amplia para 8% a vantagem em relação a Marina, de 49% a 41%, no Datafolha e para 4%, de 42% a 38%, no Ibope. Enquanto a taxa correspondente de Aécio eleva-se para 41%, igual à de Marina (contra 50% de Dilma). E numa disputa entre os dois cai para 38% a 34% a vantagem anterior bem maior em favor dela.
A presença de Aécio no 2º turno poderá ter implicações políticas e eleitorais de caráter contraditório. No primeiro plano, porque ele tem condições bem melhores que as de Marina – densa experiência político-administrativa, consistência pessoal e de qualificada equipe de apoio e forte respaldo partidário – para enfrentamento da candidata governista e do petismo num embate em que o equilíbrio do horário gratuito reduzirá a vantagem da concorrente no uso, intenso, que persistirá, da máquina federal. Tais condições poderão evidenciar-se no tête-a-tête na televisão. No qual certamente será bem mais difícil, do que tem sido até agora, evitar o debate sobre os resultados da política econômica e dos seus efeitos sociais negativos, que passam a acentuar-se; das causas e consequências da crise energética; dos escândalos de corrupção na Petrobras, nos fundos de pensão, em outros órgãos e empresas da União; do atraso dos projetos de infraestrutura; dos custos para o país do terceiro-mundismo da política externa.
Já no plano eleitoral, a troca de Marina por Aécio terá, ou teria, que enfrentar um risco de peso: o de que parcela significativa, mesmo que minoritária, dos eleitores de Marina, até pela origem petista de parte dela, opte por Dilma no turno final. Com efeitos que dependerão da escala dessa parcela. E condicionados, também, pela postura que Marina assumirá, ou assumiria, no cenário de perda de qualidade de fina-lista. Mas escala sem dúvida maior que a de eleitores de Aécio que deixariam de dar um voto útil a Marina. E devendo ser levado em conta que, graças à grande dimensão do assistencialismo e ao vale-tudo praticado na campanha reeleitoral (sem nenhum limite ético ou compromisso com a verdade), Dilma vai chegando a esta fase da disputa com melhora de avaliação e aprovação popular de seu governo.
Quanto à outra possibilidade de mudança do cenário eleitoral, a de uma vitória de Dilma Rousseff no 1º turno (gerada pelo crescimento de suas intenções de voto no Datafolha da última sexta-feira) cabe assinalar que ela tem grau praticamente zero de concretizar-se. Pois a candidata do PT não logrará atingir a soma dos votos dos dois grandes adversários e do conjunto dos chamados candidatos nanicos. Por isso, foi pouco racional – ou “exagerada” segundo os analistas econômicos – a reação na segunda-feira do mercado financeiro a tal pesquisa. Reação traduzida em uma queda de até 11% nas ações das estatais, que levou o Ibovespa ao maior recuo em três anos. Quadro negativo que se desdobrou em alta da cotação do dólar, para quase R$ 2,50, a maior desde 2008, e que prossegue nos dias seguintes. Esta indicativa da crescente piora da crise fiscal do país e da estagnação da economia.
Jarbas de Holanda é jornalista
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