Em qual campo político poderíamos classificar PT, PSDB e PSB? Direita ou Esquerda? Sem qualquer dúvida essas agremiações partidárias têm origem e referencial na Esquerda conforme as denominações dessas siglas. Portanto, causa estranheza que falemos de polarizações no cenário político da sucessão presidencial entre campos ideológicos. Por outro lado, nesses 20 anos de gestão pós-Real (PSDB e PT sob o comando de amplas coalizações) a Esquerda ficou “raquítica” na formulação de políticas democráticas. Houve, na verdade, duas fases marcantes nessas duas décadas: a luta pela estabilidade econômica que foi seguida pela melhor distribuição da renda social. Não podemos negar avanços na economia e no social. Contudo, há um mal-estar na representatividade política diante de um presidencialismo de coalização no qual é um contrapeso no aprofundamento da democracia. Assim, as manifestações de junho de 2013 emergiram na negação de tudo que representasse uma política partidária, ou seja, a negação sem proposição que levou ao gradual esvaziamento das ruas.
Na atual sucessão presidencial, os “marqueteiros” assumiram mais uma vez o comando das campanhas o que desqualificou ainda mais o debate político sobre temas relevantes para a sociedade. Em que medida os questionamentos sobre a autonomia do Banco Central seria relevantes para enfrentar os problemas na Saúde Pública? Eis a questão. As demandas da população: Saúde, Segurança e Educação foram redesenhadas em uma campanha de propagação de uma sensação de incomodo. Como se tudo seria apagado por uma “borracha” em um Programa escrito em lápis. Porém, não há um Programa que diferencie os nomes principais que disputam as duas vagas para o Segundo Turno. O silêncio em relação a representatividade da política é muito característico. Não se trata de afirmar que vetará determinadas siglas, mas demonstrar em quais pontos programáticos há aproximações e diferenciações diante da necessidade de ganhar uma estabilidade governamental sem prolongar a prática do “aparelhamento” do Estado.
A coalização governista está cada vez mais distante da vocação de um partido que represente os trabalhadores. Trata-se de um Movimento Pelo Social com bases numa “fauna política” diversificada de forças políticas sem compromisso com grandes bandeiras. Se houver um compromisso de aprofundamento democrático, a base política do continuísmo se desfaz em uma sequência de desgastes até um revés numa votação de uma Medida Provisória periférica coagir o Mandatário do Executivo a ceder mais espaços políticos no Governo Federal. Nesse sentido, a base política do “lulismo” está sempre se autorreproduzindo na ocupação do “centro político”. Os sinais de insatisfação que constatamos nos eleitores da oposição refletem que não será segundo mandado tranquilo de Dilma em caso de vitória. Seria necessário uma refundação da política para que o mundo político seja reformado em nome de uma melhor qualidade na participação democrática. Entretanto, os sinais da economia indicam que a esquerda não sairia do labirinto do “tripé econômico”.
O PSDB realiza um luta política autocentrada pela sua manutenção na Grande Política nacional. Não está claro ao eleitor médio o que seria uma “Nova Economia” diante de tudo que representaram nos anos de FHC. Uma nova política industrial implicaria uma contradição com o setor de Agronegócios. Na verdade, eles lutam voto a voto para não serem pulverizados diante da possível derrota no estado de Minas Gerais. O “calcanhar de Áquiles” da candidatura da Coligação Muda Brasil está na possível derrota do PSDB no governo estadual mineiro. Não chegar ao Segundo Turno e não ampliar sua bancada no Congresso Nacional é o pior dos cenários para a social-democracia brasileira. Esses, em primeiro lugar, precisam passar pela refundação para trazer aos eleitores mais que o “antipetismo”.
A candidatura própria do PSB se beneficiou pelo acidente em percurso da campanha eleitoral que levou ao desaparecimento do seu então Presidente nacional e grande articulador político: Eduardo Campos. A visibilidade política da Marina Silva após o “13 de agosto” é proporcional a grau de responsabilidade política desse partido que se denomina socialista com compromissos políticos da valorização da democracia e das conquistas sociais dos trabalhadores. A migração das intenções de votos da base do “lulismo” foi revertida pela publicidade eleitoral enquanto que o eleitor “antipetista” clássico reencontrou Aécio Neves nessa reta final da campanha. Diante dessa realidade política, ainda percebemos que falta uma Grande Política que demonstre condições de lutar por mudanças. Agora é momento de refazer com a herança política das principais siglas que fazem parte da coligação. A ética da responsabilidade deve prevalecer se deseja se mantiver competitivo no cenário nacional.
A esquerda não governa sozinha em nenhuma parte do mundo, muito menos no Brasil. Gradualmente a sociedade brasileira avançou nos indicadores econômicos e sociais, mas a democracia política está sob hegemonia de uma política marcada pelas “máquinas eleitorais” e pelo clientelismo. Faltou um debate sobre os rumos da representatividade política em nosso país uma vez que os marqueteiros hegemonizaram o duelo eleitoral. Desejamos que isso não ocorra nos próximos 21 dias de intervalo para o Turno eleitoral decisivo.
Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRRJ.
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