• Se Dilma não mudar, seu dia mais feliz nos próximos 4 anos terá sido o dia seguinte ao anúncio de sua vitória
- Folha de S. Paulo
Com seu mandato renovado, a presidenta Dilma precisa agora definir de maneira transparente as diretrizes para a política econômica.
Embora a economia brasileira venha ganhando músculos privados nestes últimos anos, afastando-se gradativamente do modelo de décadas passadas, sua dinâmica é ainda fortemente influenciada pelas ações do governo. Por isso vivemos hoje uma verdadeira "paradeira" nas decisões de empresas e consumidores, todos esperando as definições de Brasília para escolher o caminho a trilhar no futuro.
Dois modelos de política econômica dominam as discussões entre analistas e agentes econômicos. No primeiro deles, a presidenta, ao fazer uma leitura correta do mandato que recebeu nas urnas, entende que ganhou as eleições apoiada nos brasileiros que vivem do Estado benfeitor e perdeu o apoio dos brasileiros que dependem de seu trabalho e de seu esforço pessoal.
Mais ainda, que sua grande arma para convencer uma parte da chamada nova classe média a ficar de seu lado --o baixo índice de desemprego que ainda existe no Brasil-- pode se transformar rapidamente em um foco de insatisfação popular.
Isso porque sabemos que o desemprego baixo é a última etapa de um ciclo de crescimento econômico a ser atingida pela perda de dinamismo da economia.
Antes de aumentar a taxa de desemprego, o mercado de trabalho mostra outros sinais de fraqueza, como a redução da geração de postos de trabalho, o que já vem ocorrendo há muitos meses. E, a continuar o marasmo por que passa a economia, as estatísticas de desemprego serão afetadas e muitos que votaram na presidente vão se sentir enganados.
Por isso, para Dilma, é fundamental que o crescimento econômico seja retomado nos próximos meses e que a confiança de empresários e consumidores volte para níveis compatíveis com um ambiente de negócios positivo.
Mas essa alternativa exigirá da presidenta uma mudança radical na sua forma de governar e, principalmente, no núcleo duro de suas convicções econômicas. Com o ciclo de crescimento pelo consumo encerrado, todos concordam que será pelo investimento que a economia poderá voltar a crescer a taxas mais elevadas, necessárias, como vimos, para estabilizar o nível de emprego.
Ora, com as finanças públicas comprometidas com o gasto social e tendo poucos instrumentos para aumentar os investimentos públicos por total falta de eficiência do sistema, o governo ficará fora desse jogo e dependerá totalmente de que o setor privado lidere esse movimento.
E isso só vai acontecer se a agenda macroeconômica do governo coincidir com a que o setor privado considera como a correta para a situação brasileira hoje. Portanto, cabe à presidenta Dilma Rousseff a decisão de contar ou não com ele, do seu lado, na busca da retomada do crescimento econômico no Brasil.
Um dos indicadores prévios que o mercado vem usando para avaliar se foi esse ou não o caminho escolhido tem sido o nome do novo ministro da economia. Há analistas e empresários que acreditam ainda na repetição do modelo escolhido por Lula em 2003. A conferir.
Outra possibilidade --e que me parece ser a mais provável-- é a de, previamente à escolha do ministro da Fazenda, o Planalto emitir sinais claros de que aceita uma agenda econômica, no segundo mandato de Dilma, próxima à do setor privado. Primeiros sinais desse caminho começam a aparecer na imprensa com declarações vazadas de que o governo vai perseguir novamente um superavit fiscal primário de 2,5% do PIB, se não em 2015, pelo baixo crescimento do PIB, certamente nos anos restantes do mandato presidencial.
Mas talvez o sinal mais forte, de que essa barragem de princípios macro mais sólidos será a estratégia do governo para mudar as expectativas, veio do Copom, na quarta, ao aumentar, de forma totalmente inesperada por analistas e mercados, a Selic.
Seja por meio da escolha de um nome realmente com credibilidade --intelectual e administrativa-- para a Fazenda, seja previamente anunciando uma agenda de compromissos na condução da economia em seu segundo mandato, Dilma precisa mudar sua forma de governar. Se não fizer isso, o dia mais feliz de sua vida nos próximos quatro anos terá sido o dia seguinte ao anúncio de sua vitória nas urnas.
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