sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Igor Gielow - O mal intrínseco

- Folha de S. Paulo

A CNBB diz que o escândalo da Petrobras insinua a corrupção como um "mal sem fim". Leitores de Santo Agostinho como se supõe, os bispos escorregaram: sabem que isso não é "sensação", como escreveram em nota, e sim uma realidade inerente à condição humana.

Mais influente teólogo do cristianismo, um convertido do dualismo radical da religião maniqueísta, Agostinho estabeleceu em sua ortodoxia o conceito de que o mal era intrínseco ao livre arbítrio. Os homens, pois, não eram apenas vítimas dele.

De forma mais pedestre e aplicada ao Brasil de hoje, o advogado do lobista Fernando Baiano foi ao ponto ao cunhar o frase lapidar do escândalo até aqui: "Se não fizer acerto [com políticos], [o empreiteiro] não coloca um paralelepípedo no chão".

Pois é, como aparentemente seu cliente sabe bem. Baiano deverá depor nesta sexta (21) em Curitiba, e a extensão do dano do escândalo ao maior sócio da coalizão governista, o PMDB, depende de ele confirmar a designação de agente do partido.

Caciques peemedebistas como o atual presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o mais forte postulante à cadeira em 2015, Eduardo Cunha, negam. Outros líderes permanecem cautelosos, espreitando os sites de notícia e as mensagens criptografadas em seus celulares.

Baiano pode ou não complicar a vida de muita gente. Se tiver culpa, pode ser pego nas respostas, porque as autoridades têm acesso a informações multifacetadas, o que fica claro pelo método dos interrogatórios.

As defesas estão descoordenadas, e perderam a capacidade de Márcio Thomaz Bastos na sua pior hora.

O mal, no caso em forma de corrupção, nunca desaparecerá. Mas com a Lava Jato há uma janela para que se torne um pouco menos banal --mas aqui longe do conceito da filósofa Hannah Arendt, segundo o qual tal banalidade deriva de uma atitude mecânica que praticamente inocenta os perpetuadores da maldade.

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