• Justiça encontra só R$ 48 milhões em contas de executivos; PF previa até r$ 720 milhões
Cleide Carvalho – O Globo
SÃO PAULO e CURITIBA - A Justiça Federal bloqueou R$ 47,8 milhões em contas de 14 executivos de empreiteiras e de empresas investigadas na Operação Lava-Jato. O valor foi informado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, pelo Sistema de Atendimento ao Poder Judiciário do Banco Central, ontem. Na sexta-feira passada, quando iniciou a sétima fase da operação, a Polícia Federal estimava bloquear até R$ 720 milhões nessas contas.
O maior valor, de R$ 22,615 milhões, pertence a Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix; seguido pelo saldo de R$ 10,221 milhões encontrados em contas de Ricardo Pessoa, presidente da UTC. Dois executivos estavam com contas zeradas - Valdir Lima Carreiro, da Iesa, e Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia. Carreiro foi libertado na última terça-feira, depois de cumprir prisão temporária por cinco dias. Fonseca segue preso.
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque teve R$ 3,247 milhões bloqueados. Na conta da D3TM Consultoria e Participações foram bloqueados R$ 140.140,69. Duque confirmou ter recebido depósitos da UTC na conta da D3TM e afirmou, em depoimento à Polícia Federal no último dia 17, que cobrou R$ 1,6 milhão para auxiliar a empresa num projeto, mas que ela perdeu a licitação.
De acordo com o Banco Central, também foram bloqueados R$ 8,562 milhões nas contas das empresas Technis Planejamento e Gestão em Negócio (R$ 2,001 milhões) e Hawk Eyes Administração de Bens (R$ 6,561 milhões), que seriam de Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB na diretoria Internacional da Petrobras. Na conta particular de Soares, foram bloqueados R$ 8.872,79.
Também tiveram valores bloqueados Dalton dos Santos Avancini, da Camargo Corrêa (R$ 852.375,70); Sérgio Cunha Mendes, da Mendes Junior (R$ 700.407,06); José Ricardo Nogueira Breghirolli, da OAS (R$ 691.177,12); Eduardo Hermelino Leite, da Camargo Corrêa (R$ 463.316,45); Othon Zanoide de Moraes Filho, da Queiroz Galvão (R$ 166.592,14); João Ricardo Auler, da Camargo Corrêa (R$ 101.604,14); José Aldemário Pinheiro Filho, da OAS (R$ 52.357,15); Agenor Franklin Magalhães Medeiros, da OAS (R$ 46.885,10); Walmir Pinheiro Santana, da UTC (R$ 9.302,59); e Ildefonso Colares Filho, da Queiroz Galvão (R$ 7.511,80).
As empreiteiras, alvo desta fase da operação, tiveram contratos com a Petrobras no valor de R$ 59 bilhões entre 2009 e 2013. Costa afirmou que o valor da propina era 3%, o que significa que R$ 1,77 bilhão podem ter sido desviados a agentes públicos.
No depoimento do dia 17, Duque afirmou desconhecer a cobrança de propina na Petrobras e afirmou que seu relacionamento com outros diretores era profissional. Ele confirmou manter contato com João Vaccari, tesoureiro do PT, desde que se conheceram, em 2010, e que passou a se encontrar com ele porque Vaccari é uma "pessoa agradável para o convívio".
O executivo Júlio Camargo, que assinou acordo de delação premiada, afirmou que Duque mantém contas em nome de offshore na Suíça e que fez depósitos milionários a título de propina para fechar negócios com a Petrobras. Duque disse não se lembrar do nome dessa offshore, chamada Drenos, e confirmou ter estado algumas vezes na casa de Camargo, em São Paulo, em contatos sociais.
Duque disse que assumiu a diretoria da Petrobras em 2003 e ficou nove anos no cargo. Contou que saiu em 2012 após ter pedido duas vezes "à Presidência da República" para deixar o cargo, e afirmou que Paulo Roberto Costa, ao contrário dele, não queria deixar a área de Abastecimento. Ele não soube dizer o motivo de Costa ter sido instado a pedir sua renúncia.
Perguntado se havia sido indicado por um partido, disse que não, pois essa atribuição era do Conselho de Administração e que, quando entrou, o presidente da estatal era José Eduardo Dutra.
O ex-diretor também responsabilizou Pedro Barusco, afirmando que cabia à área de Engenharia, comandada por ele, formar a comissão de licitação para as obras. Disse ainda que os gerentes das obras eram subordinados a Barusco.
Ele negou ter conhecimento de qualquer tipo de conluio envolvendo empresas para se beneficiarem de contratos na Petrobras. Júlio Camargo havia dito que foi numa reunião entre Duque e Ricardo Pessoa, da UTC, em 2004, que ficou decidido que a Petrobras passaria a fazer uma lista convidando as empresas que participariam das licitações, em troca de comissão aos políticos.
Duque confirmou ter conhecido Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, num restaurante, mas que depois disso não manteve mais qualquer contato com ele. Também negou ter recebido entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões em propinas para obras na Refinaria Presidente Vargas, no Paraná, segundo relato de Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, outro executivo da Toyo Setal que assinou acordo de delação premiada.
O ex-diretor disse que cumpriu um período sabático depois de ter saído da Petrobras e que só começou a trabalhar como consultor em 2013. ( Colaborou Germano de Oliveira )
Nenhum comentário:
Postar um comentário