Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Cenário ainda considerado mais provável por lideranças do Senado, a reeleição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência da Casa, em fevereiro, começa a ser questionada com maior intensidade, dentro e fora do seu partido. Ex-governador e ex-presidente do PMDB, Luiz Henrique (SC) está sendo estimulado a se candidatar - e não descarta. O líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP), defende que o PMDB consulte os demais partidos. E a ideia de a oposição lançar um nome foi tratada entre os presidentes do DEM, José Agripino (RN), e do PSDB, Aécio Neves (MG).
"O processo não foi deflagrado ainda e, por enquanto, estou na expectativa. Existe, por parte de companheiros de todos os partidos, é verdade, uma forte inclinação pelo meu nome. Recebi sinalizações de líderes e companheiros da grande maioria dos partidos", afirmou Luiz Henrique ao Valor. "Em qualquer hipótese, a oposição caminha para ter um candidato. Eu e Aécio já conversamos", disse Agripino.
"Vai ser um ano tenso [2015]. A situação econômica vai se agravar e, em consequência, a social também. O cenário político é de grande incerteza em função da Operação Lava-Jato [da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção na Petrobras ]. O ideal é que a gente tenha uma Mesa Diretora com grande apoio interno. Para isso, acho importante que o PMDB faça sondagem nos outros partidos, para ver qual dos seus membros terá mais condições de congregar a Casa", ponderou Aloysio.
A ala do PMDB mais ligada a Renan diz que, se ele não disputar a reeleição - por decisão própria ou obstáculos políticos-, o candidato natural é o atual líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), principalmente pela função que ocupa. A avaliação do grupo é que Eunício teria os votos da maioria da bancada, embora Luiz Henrique possa ter mais apoio em outros partidos.
A suposta citação de Renan como beneficiado pelo esquema de corrupção na Petrobras, que teria sido feita pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em depoimento dado por acordo de delação premiada com o Ministério Público, é considerada insuficiente para comprometer sua reeleição. Primeiro, por não haver provas. Segundo, porque falta mais de um mês para a eleição da Mesa Diretora. Até lá, tudo pode mudar.
Mas predomina, nos bastidores do Senado, receio de novas revelações da Operação Lava-Jato comprometendo Renan, a ponto de ele desistir de concorrer à reeleição. Já há quem defenda, na direção do PMDB, que a melhor posição para o alagoano seria a presidência do partido. Manteria força e prestígio, sem ficar tão vulnerável a pressões externas. Para isso, no entanto, o vice-presidente da República, Michel Temer, não seria reconduzido.
A aliados próximos, Renan não demonstra preocupação com eventuais denúncias. Há dois anos, na véspera de ser eleito para o atual mandato de presidente do Senado, o então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou denúncia contra ele pelos crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso. Isso foi visto entre os senadores como ato político, para tentar impedir sua eleição, e acabou tendo efeito contrário sobre alguns senadores.
Politicamente frio e habilidoso, o senador de Alagoas tem, hoje, mais força do que naquela época, pela proximidade conquistada com a presidente Dilma Rousseff, especialmente após as manifestações de rua, de 2013. E pelo empenho em agradar à sua bancada e aos senadores de outros partidos. Se não for seriamente atingido por denúncias até o final de janeiro, é favorito a permanecer no cargo.
Os encontros e os telefonemas trocados entre Renan e Dilma têm sido frequentes. Recentemente, a presidente teve de aceitar a indicação do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) para o Tribunal de Contas da União (TCU), embora defendesse a indicação da ministra Ideli Salvatti para a vaga. Mas Renan avisou-a que a ex-senadora petista teria dificuldade de ser aprovada na Casa e a presidente cedeu. Em outros tempos, a presidente provavelmente nem negociaria, avaliam pemedebistas.
O alerta de Renan sobre o risco de derrota de Ideli ocorreu logo depois de o Congresso rejeitar o decreto presidencial que tratava de conselhos populares. O presidente do Senado também havia avisado a presidente de que esse seria o desfecho. Sugeriu que ela enviasse um projeto de lei, para ser discutido no Legislativo. Ela insistiu e saiu derrotada.
Atualmente, nos entendimentos pela composição do ministério, Renan foi claro, em conversa com a presidente, ao dizer que o PMDB do Senado quer mais espaço no governo do que a bancada da Câmara. Dilma chamou-o para consultá-lo sobre proposta que Temer levara a ela para que o PMDB do Senado tivesse dois ministérios; o da Câmara, outros dois; e o próprio vice teria dois em sua cota pessoal.
Renan rejeitou. Disse que a bancada de senadores tem 25% dos votos na Casa, enquanto a de deputados tem apenas 11% da Câmara e ainda vota dividida. Ainda não houve definição. Ele luta por três ministérios para a bancada do Senado, incluindo nessa cota Kátia Abreu (TO) na Agricultura - opção de Dilma. Os nomes cotados são os do líder do governo na Casa, Eduardo Braga (AM), e o de Eunício. Ainda não houve definição.
Dilma mostra preocupação com a agressividade da oposição a partir do próximo ano. Contou a Renan ter assistido à sessão do Congresso destinada à votação do projeto que permitiu ao governo não cumprir a meta do superávit primário. Terminou de madrugada. Disse ter ficado impressionada com a "virulência" da oposição. Isso aumenta a dependência do governo do presidente do Senado.
Com habilidade para distribuir espaços de poder no Senado, Renan enfraqueceu o grupo de pemedebistas que, no início de 2013, se dizia independente. Hoje, ainda existem resistências, mas sem articulação organizada. Desde já, Renan tem feito gestões para atender às preferências dos senadores eleitos, que tomarão posse em fevereiro, por gabinetes e apartamentos. Patrocinou trocas, para tentar atender a todos.
O PMDB, por ter maior número de senadores, indica o candidato oficial a presidente da Casa, mas o nome tem de ser votado no plenário. A oposição costuma lançar alguém para marcar posição. O PMDB tem outros nomes considerados para o cargo, como Waldemir Moka (MT), que tem bom trânsito em todos os partidos. Mas nenhum deles - Moka, Luiz Henrique ou Eunício - tem a intenção de disputar com Renan. São colocados como alternativa a eventual saída de Renan do jogo.
Um nome forte do partido, cotado para as vagas mais importantes, é o de Romero Jucá (RR). Assim como a definição dos ministros do PMDB do Senado, a sucessão na Mesa tem implicações na divisão dos demais cargos do partido, como lideranças e presidências de comissões. Mas o quebra-cabeça só deve ser decidido na segunda quinzena de janeiro.
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