- O Estado de S. Paulo
Que pena das empreiteiras! Não porque as maletas carry-on levadas por seus executivos para dentro da carceragem da Polícia Federal mostraram-se pequenas para o mês em que lá estão. Dá pena das empresas. Não faz tanto tempo, grandes construtoras reinavam em dois rankings públicos e notórios: os dos doadores de campanha e dos recebedores de governos em geral. Não mais.
Sempre suspeitou-se que a supremacia conjunta em ambos não fosse mera coincidência. Tampouco seria obra do acaso empreiteiros e operadores de caixa de políticos terem escritórios no mesmo prédio. Comodidade, talvez. Assim, trânsito, só no elevador. Mas esse tempo parece condenado ao passado. Mudaram os operadores, os prédios e, pelas posições nos rankings, o próprio sistema.
Lavanderia suíça abrindo identidade de correntista, doleiro alcagueta, juiz que entende de leis e de aritmética. Tem até banco devolvendo dinheiro mal lavado. "Onde vamos parar?", devem se perguntar empreiteiros do antigo regime. "No Supremo", responderão seus advogados - ignorando propositalmente o aspecto filosófico da questão. Filosofar não conta horas faturadas.
Na lista dos maiores doadores eleitorais de 2014, as empreiteiras foram sobrepujadas em dezenas de milhões de reais pelo que os mais ressentidos chamariam de açougue com complexo de grandeza. É só despeito, porque a JBS/Friboi é muito mais do que um frigorífico gigante. Tem fábricas e rebanhos bovinos e de funcionários espalhados pelo mundo. A carne não é fraca, não.
A recém-eleita bancada do churrasco no Congresso não encontra força equivalente em nenhum partido, empresa ou igreja. Nem em tamanho, nem em diversidade ou, mais importante, em influência. Só na Câmara, a JBS compartilha com as empreiteiras cerca de uma centena de deputados cujas campanhas ajudou a financiar, mas bancou quase 80 outros que não fazem parte da bancada do concreto.
Perder a primazia nas doações de campanha para um recém-chegado que já foi sentar na janelinha seria menos humilhante para as pobres empreiteiras ricas não tivessem elas perdido a liderança em outro ranking - ainda mais importante, porque trata de entradas, não de saídas: o de desembolsos federais.
Em 2010, 4 das 5 empresas que mais receberam pagamentos diretos da União eram empreiteiras - com Delta, SPA Engenharia e Andrade Gutierrez nas três primeiras posições. Era a regra. No ano passado, Odebrecht e Camargo Corrêa ficaram nas top 5. Mas já em 2013 esse padrão começou a mudar, como ficaria claro este ano.
Até outubro de 2014, cerca de 650 mil empresas haviam recebido diretamente dos cofres do governo central. Mas algumas receberam muito mais do que outras. O Itaú lidera o ranking, com R$ 1,1 bilhão em financiamentos e empréstimos variados. A seguir vem a tradicional Embraer, com R$ 1,06 bi, graças ao novo cargueiro militar KC-390. A novidade, porém, começa no 3.º lugar.
A Anhanguera Educacional já recebeu R$ 847 milhões - basicamente do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O aluno faz uma faculdade privada, assume empréstimo junto ao Fies, mas quem paga é o governo, diretamente para a universidade, sem risco de calote. E se o estudante ficar inadimplente? A União ficará a ver navios. É quase o ideal do capitalismo sem risco. Vivendo e aprendendo.
Em 4.º lugar aparece outra surpresa: Caterpillar, com R$ 826 milhões. Motivo? O "Minha Máquina Minha Vida", programa que distribuiu escavadeiras,
motoniveladoras e caminhões para prefeituras do interior do Brasil inteiro ao longo dos últimos meses. Em 5.º lugar, outra beneficiária do mesmo programa, a CNH Latin America, que vende motoniveladoras: R$ 819 milhões.
E as empreiteiras? A Odebrecht ficou em 6.º lugar, e a Construtora Centro Minas, em 10.º. Um vexame. Especialmente porque as beneficiárias do Fies e do "Minha Máquina" não doaram para campanhas em 2014. Não precisaram. Seria pleonasmo vicioso.
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