• A presidente enfrenta problemas para conciliar os interesses do PT e dos aliados e fechar a equipe para o segundo mandato
- Época
Na última quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff participava de uma reunião do Mercosul, na Argentina, quando foi questionada pela colega Cristina Kirchner: "Não vai anunciar o gabinete (ministerial) amanhã?". Dilma respondeu: "Não, estou formando. É muito difícil. Você não sabe como é difícil no Brasil." As duas sorriram, e Cristina desejou "boa sorte" a Dilma. Só foi possível acompanhar o diálogo porque os microfones estavam ligados, e as duas presidentes não sabiam.
O episódio constrangedor apenas confirma aquilo que muitos brasileiros já suspeitavam. Dilma ganhou um segundo mandato à frente do Palácio do Planalto, apoiada numa formidável coligação que lhe garantiu quase 12 minutos de propaganda na TV, muito mais tempo que todos os seus adversários. Essa coligação, imensa e heterogênea, foi montada com o loteamento dos ministérios (39, no total), da direção das estatais e até das agências reguladoras.
Reeleita, Dilma está agora encalacrada entre os interesses do PT, do PMDB e de seus demais parceiros eleitorais. Todos disputam palmo a palmo o espaço na Esplanada e esperam, feito crianças ao pé da árvore de Natal, seus presentes de final de ano.
Por causa da maneira como os governos do PT formam suas coalizões, a composição da nova equipe de governo, numa situação normal, já geraria tensões. Para piorar, o escândalo de corrupção na maior estatal brasileira, a Petrobras, ameaça envolver parlamentares da próxima legislatura e se aproximar ainda mais do Palácio do Planalto. Isso obriga Dilma a construir uma base sólida no Congresso para se blindar, no limite, de um eventual pedido de impeachment. Aproveitando a vulnerabilidade do Planalto e do PT, os parceiros, em particular o PMDB, aumentaram o preço do apoio ao governo. Mesmo com a presença do ex-presidente Lula em reuniões em Brasília, Dilma tem dificuldades para fechar uma equação. Ela nunca escondeu de ninguém sua ojeriza pelas negociações com os partidos aliados.
Há boas razões para duvidar que Dilma encontrará uma fórmula satisfatória (leia a entrevista do cientista político Carlos Pereira, na página 58). Isso poderá pôr o país diante de um cenário preocupante. Além da crise na Petrobras e de todas as suas consequências danosas para a atividade econômica, o Brasil está numa situação bastante complexa. Em boa parte, por causa dos equívocos da gestão da economia por Dilma I, reconhecidos por Dilma II quando indicou Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Para tentar pôr as contas públicas em ordem, o governo anunciou que promoverá um ajuste fiscal nos próximos anos. Isso implicará sacrifícios razoáveis. O receituário para superar essas dificuldades é conhecido e, se for bem aplicado, poderá levar o país de volta à rota do crescimento econômico. Ele depende de uma boa gestão da política. Sem ela, os problemas do país aumentarão.
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