- O Globo
A promessa de mudança da campanha "governo novo, ideias novas" se esgotou na área econômica, em que houve mudança em relação ao primeiro mandato. O novo ministro da Ciência e Tecnologia acumula declarações contra as duas áreas; o da Educação entrou em polêmica com professores e não era para melhorar a educação; a da Agricultura não viu os avanços que houve nas boas empresas do ramo.
Para que serve um segundo mandato se não é para o governante se livrar de amarras, ter ousadia e olho no futuro? Mas a presidente Dilma até agora montou um ministério de mais do mesmo: derrotados em seus estados, pessoas escolhidas pelos partidos ou opções individuais sem qualquer brilho.
O Ceará tem algumas boas experiências na educação, como por exemplo, o desempenho na Sobral de onde saíram os Gomes. Isso seria uma credencial para o ministro Cid Gomes, exceto por dois detalhes. Ele preferia outro cargo, conforme se noticiou; e numa polêmica com professores em greve disse que eles deveriam trabalhar por amor e não por dinheiro. Claro que educação exige paixão, sentido de missão, mas a proposta de que professores trabalhem sem a remuneração devida seria apenas uma frase ruim, se os Gomes não fossem conhecidos por desafinarem em declarações. Esta é uma área na qual não há tempo a perder com polêmicas vazias.
O ministro dos Esportes assumirá faltando um ano para as Olimpíadas. Há quem tema que o tempo seja exíguo demais para que George Hilton se prepare para o certame. Nesse campo, a presidente cometeu dois erros em um, porque nomear Aldo Rebelo para a Ciência e Tecnologia é realmente sem sentido.
Rebelo não é conhecido por suas posições vanguardistas em área alguma, mas em um ponto ele pode atrapalhar bastante o desempenho do país. Estamos no momento-chave das negociações de um acordo sobre mudanças climáticas e o Ministério da Ciência e Tecnologia sempre jogou um papel fundamental nas negociações e formulação da posição brasileira. O mundo assumiu o compromisso de chegar em 2015 a um novo acordo global de redução das emissões, em Paris, e estabelecer os novos objetivos de desenvolvimento sustentável que foram lançados na Rio+20.
Quem quiser ter uma noção de como Rebelo é inadequado para o cargo basta dar uma olhada em alguns parágrafos do seu relatório sobre o Código Florestal. Não pedirei ao leitor que atravesse aquele deserto de ideias novas. É pedir demais. Basta saber que nele, o ministro põe em dúvida o que é o ponto básico das convicções do IPCC - painel intergovernamental de cientistas organizado pela ONU - o de que é a ação humana que está provocando a atual onda de mudanças climáticas. A cada relatório, aumenta o grau de certeza dos cientistas. Existem vozes discordantes e elas são laterais. O Brasil parecerá exótico se desembarcar em Paris com um ministro pondo em dúvida os relatórios do IPCC que dão toda a sustentação científica para o acordo que o mundo tentará assinar. Se ele tiver voz ativa na formulação da nossa posição será um retrocesso de repercussão planetária.
O ministro da Pesca ser exatamente o filho do político que esteve envolvido em um escândalo de ranário é outro toque exótico do novo governo. A grande credencial do novo ministro da Aquicultura e Pesca, Helder Barbalho, é ter perdido a eleição para o governo do seu estado, o Pará. Claro, e a experiência familiar com as rãs.
Depois de fazer oposição ao governo Lula, principalmente na época em que o Ministério do Meio Ambiente trabalhava para reverter o ritmo do desmatamento, a senadora Kátia Abreu aproximou-se da presidente Dilma e acaba de ser indicada ministra da Agricultura. Apesar de ter sido eleita novamente para presidir a Confederação Nacional da Agricultura, está longe de ser um consenso no setor. Conhecida por suas posições extremadas, ela será um obstáculo ao avanço do setor na direção necessária de conciliação entre produção e meio ambiente. Kátia Abreu também não justifica o bordão "governo novo, ideias novas".
O velho loteamento, as escolhas controversas, a ideia amalucada de passar os nomes de ministros pelo crivo do Procurador Geral da República, tudo reduz a esperança no segundo mandato de Dilma Rousseff. Sobra a área econômica; a que mais enfrentará a oposição do PT.
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