Encontro deixou peemedebistas céticos
O líder da rebelião na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ) foi alijado das conversas
Maria Lima, Isabel Braga
BRASÍLIA - Com o aprofundamento da crise entre PT e PMDB, cujas lideranças bateram boca publicamente durante toda a semana passada, a presidente Dilma Rousseff se reuniu, no início da noite de ontem, com o vice-presidente da República e presidente licenciado do principal partido aliado, Michel Temer, no Palácio da Alvorada, para tentar uma saída. Mas os peemedebistas insatisfeitos estavam céticos quanto a um acordo. Nem mesmo o presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), e os presidentes da Câmara e do Senado — Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL) — participaram do encontro no Alvorada, com Dilma e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O líder da rebelião na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), retornou ao país ontem à noite, mas foi alijado das conversas. Avisou, no entanto, que é uma estratégia errada tentar isolá-lo.
Justamente nessa estratégia de minar os focos de rebelião na Câmara, o comando da campanha de Dilma vai investir no atendimento individual de lideranças do PMDB no Senado, para não deixar que a crise ultrapasse os limites da Câmara. Hoje, Mercadante deve se reunir com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), um dos mais irritados com o isolamento imposto pelo PT à sua candidatura ao governo do Ceará. O partido resolveu apoiar o nome escolhido pelo governador Cid Gomes contra Eunício.
Ontem, o presidente do PMDB da Bahia, Lucio Vieira Lima, mostrou ainda mais irritação pelo fato de Dilma não ter chamado o presidente do partido, Valdir Raupp, para o encontro.
— O presidente do PT, Rui Falcão, vai para dentro do Alvorada tirar foto rindo e depois esculachar o PMDB. E o presidente do PMDB, Valdir Raupp, fica de castigo do lado de fora. E Lula ainda vai pedir socorro a ele para salvar a aliança, achando que está tudo beleza?
Como Dilma e o PT não pretendem recuar e apoiar candidatos peemedebistas em estados como Rio de Janeiro e Ceará, Temer devia dizer ontem à presidente que o PMDB vai liberar as alianças nos estados, mas com o compromisso de apoiar nacionalmente sua reeleição. Esse, no entanto, é um desafio do vice-presidente da República, que terá que garantir maioria na convenção nacional do partido, em junho. O Palácio do Planalto e dirigentes do PT minimizam a ameaça do PMDB de cruzar os braços nos estados dizendo que o que importa é o tempo de televisão no horário eleitoral gratuito, que é garantido pela aliança formal em âmbito nacional.
Temer também devia informá-la, se o convite formal fosse feito, que o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) não vai aceitar o Ministério do Turismo, já que essa pasta é da cota do partido na Câmara. O senador queria o Ministério da Integração Nacional, mas Dilma pretende deixar a pasta com um afilhado do governador do Ceará, Cid Gomes (PROS).
Antes da conversa com Dilma e o ministro Aloizio Mercadante, Temer se reuniu, no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência da República, com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE); o presidente em exercício da sigla, senador Valdir Raupp (RO); e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Peemeebistas se recolhem
Durante o dia de ontem, os peemedebistas se recolheram. Pivô da crise atual, o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ) parou de polemizar no Twitter: “Bom dia a todos. Nada de comentários hoje, por enquanto, só para avisar a quem me procurar que estarei fora do ar até as 22h”, escreveu Cunha no microblog.
O presidente em exercício do PMDB também foi cauteloso:
— Ele (Temer) vai ouvir — disse Raupp.
Ao participar, na manhã de ontem, de solenidade em homenagem aos 172 anos de emancipação política de sua cidade natal, Tietê (143 km de São Paulo), Temer desautorizou Cunha, sem citá-lo nominalmente, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”:
— Não é A, nem B, ou C, nem sou eu quem vai dizer se o partido vai para um lado ou para o outro. É a convenção nacional que decide para onde vai o PMDB — disse Temer.
Ainda de acordo com o jornal paulista, o vice-presidente afirmou que a maioria do partido quer a manutenção da aliança:
— Tem dois terços que pensam em manter o casamento, mas a convenção é que decide. A estratégia é dialogar, é conversando que se entende.
O presidente da Câmara disse que Temer se reuniu antes com os peemedebistas para ter um visão das insatisfações na Câmara e Senado:
— Eu separo o joio do trigo. Uma coisa é a relação com o PT, bancada, disputas regionais. Outra é a reeleição da Dilma. Estamos no governo estes anos todos. Seria uma mudança muito radical. Não vejo clima. As pessoas falam por ela (Dilma), ficam atiçando. Mas o que tem que ter é comportamento correto com o PT e também com o PMDB. A reeleição da presidente Dilma está em outro patamar — disse Henrique Alves.
Embora Temer diga que a maioria do partido quer manter a aliança, não é só na Câmara que a bancada está em pé de guerra contra a aliança com o PT. Senadores também estão muito irritados com a estratégia "hegemonista" do PT de tentar atropelar o PMDB e eleger a maior bancada nas duas casas, para reduzir poder do partido. E a reunião com a cúpula com Dilma ao invés de acalmar, está irritando ainda mais os descontentes.
Além de Eunicio, que já ameaça se juntar ao bloco de Oposição liderado por Aloysio Nunes para decidir o que incluir na pauta de votações, os senadores Roberto Requião (PR) e Waldemir Moka (MS), estão insatisfeitos com a aliança com o PT e querem rediscutir o tema.
— Esta é uma reunião absurda, onde vão discutir favores em véspera de eleição que depois não vão cumprir. Vão discutir o preço do aluguel do PMDB? Eu fico envergonhado com isso. Eu nunca fui convidado pela Dilma para ir com ela no Paraná. Na hora de distribuir caminhãozinho, maquininha, espelhinho, ela só chama a Gleisi. Estão fazendo aquela política sórdida do PT. E se me chamassem também não iria — desabafou Requião antes da reunião.
Ele disse que o PT deu uma guinada para "o capital" e será difícil refazer a aliança com o partido para as próximas eleições:
— Será uma aliança em torno de que? de cargos? Qual seria o programa do PT para renovar essa aliança? Vão refazer todo o pacto da política econômica? O trem bala? Os portos que não fizeram?
Fonte: O Globo
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