• Investigações da polícia levaram a dois irmãos na região de Paris, de 32 e 34 anos, e a outro homem, de 18 anos
Andrei Netto - O Estado de S. Paulo
PARIS - Três homens armados com fuzis AK-47 invadiram ontem a redação do jornal Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas – sendo nove jornalistas. Foi o pior atentado terrorista na França nos últimos 50 anos. O ataque ocorreu às 11h20 (8h20 em Brasília), quando o prédio do jornal foi invadido aos gritos de “Allahu Akbar” (Deus é maior, em árabe).
Além dos nove jornalistas, foram assassinados um economista, que era colaborador do jornal, um porteiro do prédio e dois policiais. Outras 11 pessoas ficaram feridas. Na fuga, os atiradores afirmaram agir para “vingar o Profeta Maomé”, segundo imagens de vídeo e testemunhas.
As investigações da polícia levaram a dois irmãos na região de Paris, de 32 e 34 anos, e a outro homem, de 18 anos, de Reims, no noroeste da França. Na noite de ontem, o Ministério do Interior identificou os três autores do atentado como os irmãos Said e Chérif Kouachi, ex-membros de uma rede terrorista, e Hamyd Mourad, um morador de rua recrutado pelos dois. O mais jovem dos três suspeitos de participar do atentado se entregou ontem à noite à polícia perto da localidade de Charleville-Mézières, perto da fronteira com a Bélgica, revelou à agência AFP uma fonte ligada à investigação. Os irmãos Kouachi seguem foragidos.
Segundo a Procuradoria, responsável pela investigação, dois homens mascarados e armados ingressaram na sede do Charlie Hebdo, ameaçando funcionários. Ao obter a informação de onde seria a redação, dirigiram-se para o segundo andar. Ao invadir, não deram chance para os que estavam lá dentro.
Um dos funcionários conseguiu telefonar para a uma amiga, Inna Shevchenko, ativista do grupo Femen, pedindo que chamasse a polícia, segundo ela informou, ainda chocada com os acontecimentos.
Após a chacina, os terroristas fugiram e se defrontaram com policiais que já atendiam ao chamado. Um vídeo da agência Premières Lignes mostra dois homens que descem de um automóvel Citroën C3 e disparam contra os agentes de segurança. Um policial, ferido e caído, pede pela vida. No entanto, o atirador se aproxima, executa o policial e corre para o veículo – onde estaria o terceiro envolvido –, desaparecendo na periferia nordeste de Paris.
“Estávamos trabalhando quando ouvimos disparos. Foi uma sequência, muitos tiros em rajadas. Então, vimos um carro partindo em alta velocidade, que não consegui identificar”, disse ao Estado o comerciante Eric Meguira, de 50 anos. “Dois policiais chegaram e trocaram tiros. Vimos o tiroteio e os feridos sendo levados pelos bombeiros.”
O diretor da agência Premières Lignes, Luc Hermann, contou que vários de seus jornalistas prestaram assistência às vítimas. “Eles foram os primeiros a entrar na redação”, disse. “Por sorte, ninguém de nossa equipes foi ferido.”
Entre os mortos, estão os principais cartunistas do Charlie Hebdo: Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, Philippe Honoré, Georges Wolinski, Bernard Verlhac, que assina como Tignous, e Jean Cabut, conhecido como Cabu, o economista e colaborador do jornal Bernard Maris, o policial Ahmed Merabet, executado na rua, Michel Renaud, que era convidado da redação, o também jornalista revisor Mustapha Ourad e o agente Franck Brinsolaro. As identidades de duas vítimas ainda não haviam sido reveladas ontem à noite. Sabe-se apenas que eram o porteiro e um outro jornalista.
Ainda chocada, a cartunista Corine Rey disse que os homens falavam francês fluentemente e disseram ser da Al-Qaeda do Iêmen. O jornal era alvo recorrente de ameaças de grupos jihadistas e de extremistas desde 2006, por ter republicado charges do Profeta Maomé originalmente editadas por um veículo de imprensa dinamarquês.
Em 2011, a redação já havia sido destruída em um incêndio criminoso. Apesar de satirizar Maomé e o islamismo, o Charlie Hebdo não era um jornal islamofóbico e publicava sátiras também sobre judeus e cristãos. No DNA da publicação está a defesa radical da liberdade de expressão e do Estado secular – dissociado da religião.
Em resposta ao ataque, o Ministério do Interior aumentou o nível de alerta do Plano Vigipirata, que estabelece as diretrizes em caso de ameaça terrorista na França. Sedes de jornais, emissoras de rádio e TV estão sendo protegidas pela polícia, assim como grandes pontos turísticos, centros comerciais, escolas, prédios públicos e redes de transportes.
Medidas excepcionais de segurança também foram colocadas em prática, com 500 homens da tropa de choque mobilizados para operações especiais de vigilância e outros 3 mil agentes de segurança deslocados para o patrulhamento urbano.
Poucos minutos após o tiroteio, o presidente da França, François Hollande, foi ao local dos disparos. “Trata-se de um ato de barbárie excepcional”, disse o presidente, que convocou a população à “unidade nacional”. Ele também declarou uma “jornada de luto nacional” em homenagem às vítimas.
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