• Governo promete plano fiscal em breve, mas crise na energia também precisa de programa de urgência
- Folha de S. Paulo
Não vai ser de pronto que os economistas de Dilma 2 vão lavar toda a louça suja e arrumar a cozinha do governo Dilma 1.
Também não é de modo algum razoável esperar um plano para lidar com problemas imensos como a desordem financeira do setor elétrico ou a desordem geral da Petrobras.
Isto posto, é tão urgente dar um destino racional a tais problemas quanto indicar que se vai logo dar uma solução à pindaíba do governo. A gente fica, no entanto, cismada de ouvir o rumor de que o governo estuda aplicar outro remendão no buraco das contas das empresas de distribuição de energia elétrica (as que vendem a eletricidade para o consumidor final).
Trata-se de um arranjo talvez inevitável, de emergência, que envolveria empréstimos de bancos públicos para as distribuidoras, um esparadrapo necessário até que as empresas recebam o dinheiro que virá do reajuste futuro das tarifas, encarecido, de resto, pela gambiarra.
A energia elétrica está muito cara porque falta água nas hidrelétricas e a eletricidade tem sido produzida por usinas térmicas, de custo maior. Também está cara porque as empresas distribuidoras têm de comprá-la no mercado de curto prazo, pois o governo criou confusão no mercado de longo prazo. Como não podem repassar, sem mais, o custo para o consumidor final, aparecem rombos.
Um empréstimo arranjado com bancos públicos e privados, em 2014, tapou temporariamente o buraco. Agora, a banca privada reluta em participar. Pode ressurgir então a estratégia de Dilma 1: empurra-se o problema com a barriga e fantasias, com ajuda da banca estatal.
Dar jeito no ora confuso mercado de energia, nos subsídios sem fundo, no programa falido de antecipação de entrega de concessões, nas obras atrasadas e em tantos desarranjos vai tomar tempo. Mas trata-se de uma crise que está engrossando. Assim como vai ficando grosso o caldo entornado da Petrobras.
A crise da petroleira se derrama sobre um monte de empresas, não apenas nas empreiteiras da propina. Desarranja e começa a paralisar os negócios de infraestrutura, asfixia empresas e deve causar desemprego. Nem é preciso mencionar o descrédito que a malversação da petroleira já causou no crédito dela mesma e no do país; no impacto que teve na confiança de que os investimentos possam voltar a crescer, do que o país carece desesperadamente.
Je suis Charlie
Os "mercados" não reagiram ao massacre de dez colegas jornalistas e dois policiais, ontem em Paris. Vez e outra, a demência terrorista parece "elevar o risco geopolítico". Ontem, não.
As Bolsas importantes do mundo viraram o ano trôpegas, o petróleo caiu de novo, soube-se ontem que houve deflação na eurozona em 2014. Mas esta última notícia também não caiu mal.
Para os povos dos mercados, a deflação europeia reforça a hipótese de que o Banco Central Europeu vá despejar dinheiro na praça, barateando o jogo da finança, nas Bolsas em particular, que assim podem continuar inflando, alegremente, inclusive na Europa do desemprego e da estagnação.
"Je suis Charlie" ("Sou Charlie"). "On s"en fout" ("Dane-se").
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