- Folha de S. Paulo
Numa das falas mais célebres do "Júlio César" de Shakespeare, um adivinho avisa o imperador romano: "Cuidado com os idos de março". Se o bruxo reencarnasse hoje em Brasília, deveria alertar os parlamentares: "Cuidado com os idos de fevereiro".
No início do mês que vem, o Ministério Público Federal pedirá a abertura de inquéritos e ações penais contra os políticos citados na Operação Lava Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras. A ofensiva coincidirá com a eleição dos presidentes das duas casas do Congresso.
O favorito para comandar a Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acaba de aparecer entre os futuros alvos de investigação. Se tiverem juízo, os deputados e partidos que o apoiam devem considerar a ideia de pular do barco e escolher outro candidato.
O petrolão será o assunto mais importante da cena política em 2015. Já se sabe que o esquema envolveu dezenas de parlamentares. Quando as denúncias começarem a chegar ao Supremo Tribunal Federal, nas próximas semanas, a abertura de processos de cassação será inevitável.
Em campanha para conquistar os colegas, Cunha vinha repetindo que suspeita de ilícito penal não é sinônimo de quebra de decoro. No dialeto do Congresso, isso quer dizer que os parlamentares envolvidos no escândalo poderiam contar com sua ajuda para preservar o mandato.
Enquanto o peemedebista conseguia se manter fora do escândalo, sua candidatura parecia útil a quem tentará salvar a própria pele. Agora, passou a representar um risco para todos os deputados.
Um presidente sob suspeita levará a Câmara para o centro da crise. Terá a autoridade comprometida e precisará dedicar mais tempo à sua defesa do que à preservação da Casa, sob pressão popular por punições.
Os deputados têm a opção de ignorar o adivinho e manter as juras de apoio a Cunha. Mas podem acabar como César, apunhalados na nossa Roma do Cerrado.
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