• Com dificuldades de crédito, construtora deixa cerca de 500 operários da Transposição do São Francisco sem receber 2ª parcela do 13º salário
Renée Pereira - O Estado de S. Paulo
Os funcionários da construtora Mendes Júnior, nas obras de Transposição do Rio São Francisco, já começaram a sentir os efeitos da operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção nos contratos da Petrobrás. Sem crédito na praça e sem receber da estatal, a construtora não fez o pagamento da segunda parcela do 13.º salário, previsto para 20 de dezembro, para os cerca de 500 empregados que continuam na obra.
De férias coletivas desde o dia 18, os funcionários voltaram ao trabalho na segunda-feira e continuam parados. "No escritório da empresa (em Salgueiro-PE), dizem que não há dinheiro nem para comprar combustível para colocar nos veículos e equipamentos da obra. Por isso, os funcionários ficam de braços cruzados sem saber o que fazer", afirma o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral no Estado de Pernambuco (Sintepav), Luciano Silva.
Além de entrar com uma ação na Justiça reivindicando o pagamento do 13.º salário e por dano moral coletivo, o sindicato fará hoje uma mobilização na BR-232 para protestar contra a situação. "A empresa disse que fará o depósito hoje, quando vence também o salário dos funcionários. Mas ela está falando isso todos os dias", diz Silva.
Segundo ele, nos últimos meses, a Mendes Júnior demitiu quase 2.500 pessoas no canteiro de obras do lote 8, que deverá ser concluído apenas em 2016. "Tem muita coisa para fazer nesse trecho." Procurada, a Mendes Júnior não respondeu ao pedido de entrevista.
Fontes do setor de construção, que preferem não se identificar, afirmam que a situação da empresa, como a de outras construtoras envolvidas no escândalo de corrupção, é bastante delicada, com risco até de ter de pedir recuperação judicial. Só na Mendes Júnior Engenharia, o valor de debêntures previsto no balanço de 2013 somava R$ 1,91 bilhão.
Na época, o grupo tinha 40 projetos em andamento, como a Transposição do São Francisco, Rodoanel Norte de São Paulo e o Porto de Santana (AP). Não é a primeira vez que a Mendes Júnior passa por maus bocados. No início da década de 90, com dívidas e sem poder disputar licitações por causa de uma pendência com a Chesf, a empresa quase quebrou. Só em 1998 a companhia começou a engrenar com novos contratos para a construção de rodovias, hidrelétricas e na área de petróleo e gás.
Na opinião de especialistas, o risco é que as obras de outras áreas tocadas pelas construtoras envolvidas na Lava Jato sejam atingidas. Com caixa debilitado, as empresas vão passar por momentos complicados, sem dinheiro até para fazer a rescisão dos funcionários, afirma um executivo do setor.
Rebaixamento. Outra empresa que corre o risco de entrar em recuperação judicial é a OAS, alerta a agência de classificação de risco Fitch Rating. Ontem, pela segunda vez em menos de uma semana, a agência rebaixou a nota de crédito da empresa. Desta vez, de C para RD, o que significa que a empresa está inadimplente, mas legalmente ainda não entrou em processo de recuperação judicial.
A revisão ocorreu porque a empresa não fez o pagamento de principal e juros relacionados à nona emissão de debêntures, de R$ 103 milhões, com vencimento em 5 de janeiro. Ela também não pagou US$ 16 milhões de juros de um título de US$ 400 milhões com vencimento em 2021.
Em observação. A Fitch colocou em observação negativa o rating da 70ª série da primeira emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) da RB Capital. Os papéis foram emitidos em outubro de 2013 no valor de R$ 66,99 milhões e são atrelados a um financiamento imobiliário garantido por um contrato que "obriga a Odebrecht Participações e Investimentos (OPI) e a Odebrecht S.A. (OSA) a aportarem os recursos necessários para cumprir os pagamentos devidos".
Segundo a agência, a devedora do financiamento, a Centrad Participações S.A., é uma sociedade de propósito específico controlada pela Odebrecht Participações (95% das ações) e pela Construtora Norberto Odebrecht (CNO). As empresas do grupo Odebrecht integram, com a Via Engenharia S.A., o consórcio vencedor da parceria público-privada para construção, operação e manutenção de um centro administrativo localizado em Taguatinga, no Distrito Federal.
Segundo a Fitch, a colocação do rating em observação se baseia na avaliação da capacidade de crédito da Odebrecht S.A., que foi afetada pela colocação do rating da CNO em observação negativa, no fim do ano. O contrato obriga a Odebrecht, em última instância, a aportar recursos para qualquer pagamento devido no âmbito do financiamento imobiliário até três dias úteis antes da data prevista.
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