• Dos sete deputados da sigla que vão para o Executivo, apenas dois têm como suplente outro petista
• Bloco formado por PSB, PV, PPS e SD terá mesmo número de deputados (67) que PMDB e mais que o PT
Raphael Di Cunto
A composição do secretariado nos Estados vai tirar do PT o simbólico posto de maior bancada da Câmara dos Deputados a partir de fevereiro. Dos sete deputados convidados para exercer funções nos governos petistas ou no ministério da presidente Dilma Rousseff, apenas dois têm como suplente outro petista. Insatisfeito com a reforma ministerial, o PMDB voltará a ostentar a posição de maior sigla da Casa quatro anos depois de perder o posto.
Os petistas também serão ultrapassados pelo bloco formado por PSB, PPS, SD e PV, que contará com 67 deputados, mesmo número que terá o PMDB. O grupo reúne partidos de oposição, como PPS e SD, e os "independentes" PSB e PV, que tiveram candidatos próprios à Presidência da República. Os quatro prometem marchar unidos na nova legislatura, mas já estão divididos na decisão sobre quem apoiar para a presidência da Câmara.
A redução dos deputados do PT não deve mudar a disputa pela presidência da Casa, onde o candidato do partido, Arlindo Chinaglia (SP), mede forças com o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e com Júlio Delgado (PSB-MG). Muitos dos nomeados para o Executivo já sinalizaram com a possibilidade de pedir demissão para votarem na disputa e depois retornarem a suas funções.
A mudança no tamanho dos partidos também não afeta a divisão de cargos de liderança e do comando das comissões da Câmara porque o cálculo é feito com base na bancada da posse, mas pode ter influência nas votações. A taxa de fidelidade dos petistas ao governo foi de 91% no ano passado, contra 54% dos pemedebistas, que continuam divididos sobre o apoio ao Planalto.
A diminuição do PT ocorreu por causa da escolha de deputados eleitos para atuarem como secretários dos governos petistas de Minas Gerais, Bahia e Piauí e no ministério de Dilma - Patrus Ananias (MG) foi para o Desenvolvimento Agrário e Pepe Vargas (RS) para as Relações Institucionais. Como as coligações incorporaram o maior número possível de partidos para fortalecer as chapas majoritárias, nem sempre o suplente é da mesma legenda do titular do mandato.
Foi o que ocorreu com o PT, que terá a bancada reduzida dos 69 deputados federais eleitos em outubro para 64 em fevereiro, quando o novo Congresso toma posse. Já a maior bancada do Senado Federal, o PMDB será beneficiado por essa mesma regra e ultrapassará os petistas. Quatro pemedebistas foram chamados para fazer parte dos governos estaduais ou ministérios, mas cinco suplentes do partido vão assumir o mandato. A legenda chegará a 67 deputados.
Dos sete deputados da sigla que vão para o Executivo, apenas dois têm como suplente outro petista
Desde 2011, com a eleição da presidente Dilma Rousseff, o PT é o maior partido da Câmara dos Deputados, posto que o PMDB tinha lhe tomado na legislatura anterior. Contudo, as duas siglas perderam força na eleição de outubro: o PT fez 17 deputados a menos que a bancada atual e o PMDB, sete. Juntas, as duas bancadas têm pouco mais de um quarto da Casa.
Se a notícia não é boa para os petistas, pelo menos o governo pode comemorar que a nomeação de deputados para os Estados não alterará significativamente a força da oposição, embora o bloco PSB, PV, SD e PPS rivalize o posto de maior bancada enquanto outros agrupamentos não se formarem. Os oito partidos de oposição ou independentes ganharão apenas um deputado a mais, que se somará à atual bancada, de 160 parlamentares.
A base aliada perde um deputado e vai para 328 - em cálculo que considera apenas os partidos com representantes nos ministérios. A diferença ocorre porque o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), nomeou a esposa, a deputada Rejane Dias (PT), para o cargo de secretária de Educação. O suplente é José Maia Filho, do Solidariedade, partido aliado ao PT no Piauí, mas que faz oposição à legenda no plano federal.
Dentro da oposição, o PSB é a legenda que mais perde. A nomeação de Danilo Cabral e Felipe Carreras pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), reduzirá a bancada em duas cadeiras, que serão ocupadas por deputados do PP e SD. Os tucanos serão desfalcados de apenas um deputado e o DEM ganhará dois.
Já no campo governista, o mais favorecido numericamente é o PCdoB, com a posse de três suplentes. Mas quem sai melhor do cenário pós-nomeações é o PP, que ampliará a distância para o PSD como terceira maior bancada da base, com seis deputados a mais. A posição dará aos pepistas mais força para reivindicar cargos no governo depois de verem justamente o PSD lhes desalojar do Ministério das Cidades após nove anos no controle da Pasta.
O levantamento do Valor foi feito com base em informações dos governos estaduais sobre os nomes já divulgados e na lista de suplentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apenas o governador reeleito do Amazonas, José Mello (Pros), ainda não definiu todo seu secretariado, o que deve ocorrer ao longo de janeiro.
Ao todo, 23 deputados foram escolhidos para compor os governos nos Estados e quatro viraram ministros de Dilma - além dos petistas, George Hilton (PRB-MG) foi para o Esporte e Edinho Araújo (PMDB-SP) foi para os Portos. O número representa 4,5% da Câmara. Esses parlamentares têm o direito de optar pelo salário como deputado, de R$ 33,9 mil, ou do posto que ocuparão, que é geralmente menor.
Bloco formado por PSB, PV, PPS e SD terá mesmo número de deputados (67) que PMDB e mais que o PT
O número de deputados federais escolhidos para funções no Executivo é menor do que em 2011, quando 43 se licenciaram do mandato logo no primeiro dia para atuarem como ministros ou secretários de Estado. Uma explicação para a diferença é que muitos optaram por não concorrerem à reeleição este ano com o objetivo de permanecerem em funções no governo.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com os atuais deputados tucanos Edson Aparecido e Júlio Semeghini. Dois dos mais votados parlamentares de 2010, ambos tinham postos de relevância no governado de Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, e preferiram não disputar à reeleição. O mesmo aconteceu com os deputados José de Filippi (PT) e Jilmar Tatto (PT), que optaram por ficar na Prefeitura de São Paulo com o prefeito Fernando Haddad (PT).
Em alguns Estados houve também maior preocupação em nomear um secretariado de perfil "técnico". Foi a opção, por exemplo, de Waldez Góes (PDT) no Amapá. O pedetista foi preso em 2010, em plena campanha para o Senado, por suposta participação em um esquema de desvio de dinheiro durante sua gestão no governo. Eleito novamente em 2014, o governador buscou nomear funcionários de carreira e gestores com pós-graduação em resposta as críticas de adversários e a desconfiança da população
O líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), diz que o partido ainda não fez as contas do saldo de nomeações para os governos estaduais, mas que pode superar a diferença em aliança com outras bancadas. "Estamos discutindo a formação de um bloco para a disputa da Mesa Diretora e que pode ser mantido após a eleição", diz.
A formação de blocos virou uma alternativa de fortalecimento para todas as bancadas diante da eleição de deputados de 28 diferentes partidos, 11 deles com menos de cinco representantes. Os nanicos, contudo, discutem formar um grupo próprio (que batizaram de G10), e ainda é incerto se os blocos terão atuação parlamentar ou se serão formados apenas para a disputa da Mesa.
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