Reportagem do Estado revela que, em defesa apresentada ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre sua participação no episódio da compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli procura se eximir, e à Diretoria Executiva que comandava, de qualquer responsabilidade pelos azares da transação e argumenta que o Conselho de Administração da estatal, então presidido pela ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, que autorizou a aquisição em 2006, deve ser responsabilizado pelos prejuízos decorrentes do contrato.
Gabrielli sugere ainda que todos os integrantes do Conselho em 2006 sejam ouvidos no processo e, a exemplo do que já ocorre com os membros da Diretoria Executiva, tenham seus patrimônios congelados. Trocando em miúdos, o ex-presidente da Petrobrás entende que Dilma Rousseff, na posição que então ocupava, foi a principal responsável pela compra sobrefaturada e pelo prejuízo de quase R$ 1 bilhão sofrido pela estatal apenas nessa ocasião.
Esse novo episódio do escândalo da Petrobrás é apenas mais um da intensa troca de fogo amigo dentro do lulopetismo, desde que se tornou inevitável que, a exemplo do que ocorreu com o mensalão, as investigações sobre a corrupção na maior estatal brasileira levem à barra dos tribunais, e certamente às grades, novo e seleto time de figurões do partido de Lula. Começou, portanto, a fase do salve-se quem puder.
O envolvimento da presidente da República no rumoroso escândalo da Petrobrás é mais do que provável. Não significa que Dilma Rousseff tenha entrado na partilha que beneficiou os sócios do enorme esquema de corrupção que a Operação Lava Jato do Ministério Público Federal (MPF), com apoio da Polícia Federal (PF), vem desvendando desde março do ano passado. A chefe do governo, infelizmente mais por palavras do que por atos, tem demonstrado repulsa pela ação de delinquentes travestidos de homens públicos que se dedicam à rapinagem do erário. Jamais seguiu o exemplo de seu antecessor e criador no tratamento complacente de notórios larápios, inclusive alguns investigados e presos pela Lava Jato.
Mas o fato é que a participação de Dilma na gestão da Petrobrás, pelo menos desde sua investidura no Ministério de Minas e Energia, nos primeiros dois anos e meio da era Lula, e depois na chefia da Casa Civil e na concomitante presidência do Conselho de Administração da estatal, até assumir seu primeiro mandato presidencial - toda essa experiência junto ao comando da petroleira, principalmente para uma "gerentona" considerada centralizadora, exigente e detalhista -, torna evidente duas coisas.
A primeira é que é inconcebível que Dilma Rousseff não tivesse alguma noção do amplo, geral e irrestrito esquema de corrupção que atuava com desassombrado desembaraço nas entranhas da empresa tomada de assalto pelo PT e aliados. A segunda é que Dilma Rousseff, à luz fria da lei, é responsável pelos atos praticados sob sua gestão e supervisão.
É por isso que Dilma está envolvida no escândalo. Para fugir dessa evidência só lhe restaria o recurso - que a lei não acataria, por ser ela responsável por seus atos - de admitir publicamente que, como ministra, presidente do Conselho de Administração e presidente da República, jamais teve contato com a administração da maior estatal brasileira.
Não é apenas a chefe do governo que gostaria de ser acometida de miopia seletiva. Uma comissão interna de apuração da Petrobrás que se dedicou a investigar o episódio da suspeitíssima compra da Refinaria de Pasadena apresentou relatório, em março do ano passado (na mesma época em que a Lava Jato iniciava suas investigações), divulgado agora pela revista Veja, no qual apresenta uma lista de ações que resultaram em prejuízo para a empresa, mas limita-se a apontar "falhas" de gestão, sem jamais se referir a "irregularidades". São mencionados no relatório os diretores hoje presos no curso das investigações da Lava Jato, como Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, mas em momento algum os auditores internos levantam qualquer suspeita sobre a motivação das "falhas". É munição para o fogo amigo.
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