- O Globo
Tratado como uma espécie de salvador da pátria, mas sem deixar que isso o faça esquecer os problemas que tem pela frente, o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, encontrou em Davos, no Fórum Econômico Mundial, o ambiente ideal para vender a imagem de um novo modelo econômico que ele — cuidadoso, mas mostrando determinação — fez questão de ressaltar, sem, no entanto, definir como antagônico ao que estava em uso nos quatro anos do primeiro mandato da presidente Dilma.
O ministro da Fazenda teve ontem em Davos encontros com investidores em que não se furtou a comentar até mesmo aspectos políticos, como a crise da Petrobras e o apoio do Congresso às medidas de austeridade que o governo vem anunciando. Ele foi alertado de que o apoio político que hoje tem será sempre limitado, e por isso precisa agir rápido. Joaquim Levy acredita que a base aliada do governo vai acabar aprovando as novas medidas, mas mostrou-se cauteloso sobre o novo Congresso, que toma posse em fevereiro. Até abril nós vamos ter uma boa ideia de como as coisas andarão, avaliou Levy, e depois comentou que acredita na aprovação, porque todos sabem, tanto governo quanto oposição, que as medidas que estão sendo tomadas são necessárias.
Com relação à Petrobras, o ministro da Fazenda disse que é preciso separar a competência técnica da estatal, que continua de altíssimo nível, da crise na empresa. Esta será resolvida dentro dos parâmetros legais, e a empresa continuará se destacando na sua função principal, superando os problemas que hoje enfrenta, garantiu. O ministro fez questão de salientar que no Brasil questões como essas são resolvidas pelo Judiciário, sem interferências políticas. E salientou que a imprensa livre tem papel fundamental na democracia brasileira. Mostrar um quadro institucional estável, aliás, fez parte do discurso de Levy nesse primeiro contato com investidores estrangeiros, fazendo uma ligação entre a estabilidade das regras econômicas com a maturidade das instituições brasileiras.
O ministro escolheu o caminho mais direto para falar aos investidores aqui em Davos: foi objetivo, sem subterfúgios. A garantia de que as regras serão conhecidas e respeitadas foi ponto central de sua fala, e levou os investidores a elogiá-lo sempre que salientou que o governo respeita contratos e quer a participação do setor privado no crescimento do país. O ministro admitiu que a economia brasileira este ano será "flat" , uma maneira suave de dizer que o PIB não crescerá, fazendo um contraponto à postura de seu antecessor , que sempre rejeitava as previsões dos organismos internacionais. Mas salientou que já no segundo semestre teremos sinais de recuperação que permitirão antever um ano de 2016 melhor.
Assim como tem feito no Brasil, o ministro Levy tratou aqui das mudanças que estão sendo implementadas no país com um tom puramente técnico, como se fossem as medidas normais que um governo deve tomar para transmitir credibilidade de sua política. O fim dos subsídios do BNDES, por exemplo, foi tratado como uma necessidade para dar mais competitividade às empresas nacionais, e não como uma crítica à política anterior . Para Levy, o país está entrando em uma segunda fase de sua política econômica, não como uma mudança de rumo, mas como uma continuidade de gestão.
O que o governo está fazendo é retomar anormalidade depois de ter usado políticas anticíclicas para enfrentar os efeitos da crise financeira de 2009. Políticas anticíclicas, por definição, não podem durar para sempre, e agora nós estamos colocando a economia na normalidade, cortando certos excessos e reajustando os preços dentro da realidade do momento, disse Levy, sem caracterizar uma crítica à equipe anterior .
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