• Dificuldade de articular chapa alternativa
- Valor Econômico
Um grupo de parlamentares ainda busca alternativa à candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) à Presidência do Senado. Foram várias conversas nos últimos dias, cercadas de cautela e desconfiança. A falta de mobilização durante o recesso e o receio de traições dificultam a articulação, mas há lideranças dispostas a insistir na próxima semana, a última até a eleição. E não falta torcida para que a operação dê certo.
A ideia não é lançar um concorrente avulso - espécie de aventureiro-, apenas para marcar posição contra a candidatura oficial a ser apresentada pelo PMDB, como nas últimas eleições. Em 2011, Randolfe Rodrigues (Psol-AP) concorreu com José Sarney (PMDB-AP), que venceu por 70 votos a 8. Dois anos depois, Pedro Taques (PDT-MT) disputou contra Renan, eleito com 56 votos. Taques teve 18.
Desta vez, o ideal desse grupo (pequeno, mas suprapartidário) é montar chapa completa para a Mesa Diretora, com diferentes partidos, num "projeto consistente" para recuperar a credibilidade do Senado. À frente das conversas, estão senadores do PMDB. Mas estão envolvidos parlamentares de outras siglas, como PP e PSDB. O presidente do DEM, José Agripino (RN), defende candidato de oposição, mas discorda da formação de chapa completa. Defende a praxe de eleger o presidente e, depois, discutir os demais cargos.
Os senadores mantêm reserva sobre as tentativas de acordo. Alguns temem que sejam prejudicados na divisão dos cargos da Mesa, das presidências das comissões e demais posições da Casa, caso a negociação não prospere e Renan mantenha os espaços de poder entre os seus aliados.
A manifestação de Aécio Neves (PSDB-MG) de apoio a Ricardo Ferraço (PMDB-ES), sem entendimento prévio com outros partidos, foi recebida com desconfiança. Em 2013, o PSDB apoiou publicamente a candidatura de Taques, mas a bancada tucana foi acusada de não dar os votos prometidos, para manter um cargo importante (1ª Secretaria).
A tentativa atual de costura política parte da premissa de que o candidato a presidente tem de ser do PMDB, em respeito à regra da proporcionalidade partidária. Portanto, o primeiro passo seria convencer um pemedebista a se lançar na bancada -não como candidato avulso.
Houve investidas pelo menos sobre o líder, Eunício Oliveira (CE), Waldemir Moka (MS), Luiz Henrique (SC) e Ferraço. Por enquanto, nenhum deles se lançou. Ex-governador e ex-presidente nacional do PMDB, Luiz Henrique é considerado o mais viável. Um grupo busca respaldo político para convencê-lo. O argumento não é confrontar Renan, mas buscar fortalecimento do Senado. Há quem admita desistência dele, diante de uma articulação forte - hipótese descartada por aliados dele.
Os senadores mais cotados para a tarefa de concorrer à presidência da Casa integravam o grupo do PMDB considerado "independente" ao chegar ao Senado, em 2011. Também faziam parte Eduardo Braga (AM) e Vital do Rêgo (PB), hoje ministro de Minas e Energia e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), respectivamente. Para manter o controle sobre a bancada, Renan, então líder, acomodou todos em posições importantes no Senado. Mas não conquistou lealdade incondicional.
Na avaliação do grupo suprapartidário, o preço político da reeleição de Renan na Presidência do Senado pode ser alto demais - para cada um e para a instituição. O alagoano já sofreu processo disciplinar por quebra de decoro parlamentar, renunciou ao mesmo cargo antes, foi absolvido no plenário. Foi reeleito na presidência. O receio espalhado pelos corredores do Senado é de suposto envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato.
A preocupação com a situação de Renan aumentou com a notícia, recentemente publicada, da ação civil movida pelo Ministério Público Federal por improbidade administrativa, por uso de aeronaves da FAB em 2013 para fins particulares. A história é antiga e o presidente do Senado até devolveu aos cofres públicos valores que corresponderiam aos gastos com os voos (R$ 32 mil e R$ 27 mil).
Renan também tem contra ele a vontade de setores do governo de ver no comando do Senado alguém que deixe a presidente Dilma Rousseff menos "refém". Governistas dizem que Renan é habilidoso na condução do Congresso e costuma entregar a mercadoria desejada pelo governo - mas "a seu tempo e a seu preço".
O grupo de Renan tem hegemonia na bancada, mas o perfil vem mudando. Dos 18 senadores do partido que estarão no exercício do mandato a partir de fevereiro -sem contar Kátia Abreu (TO), que está no Ministério da Agricultura e cuja cadeira será ocupada por um suplente do PT-, cerca de metade não seguirá fielmente a cartilha do alagoano, segundo avaliações internas. Alguns até estimulam a busca de outro nome para presidir o Senado.
Quem tende a se fortalecer é Eunício Oliveira. Como líder, cabe a ele distribuir entre os colegas de bancada as posições destinadas ao partido. O cearense apoia a reeleição de Renan e se coloca abertamente como candidato natural à sucessão na presidência da Casa, em 2016. Amigos de Eunício avisam que, se Renan não disputar a reeleição, ele antecipa sua pretensão e não abre mão da vaga.
Renan deixou a bancada insatisfeita na interlocução com o governo para a composição do ministério. Criou arestas com siglas aliadas do Planalto ao criticar articulação para prejudicar o PMDB, envolvendo PSD e PR, entre outros. Internamente, o PMDB partido não formará mais bloco com o PP, cujo líder, Benedito de Lira (AL), é seu adversário no Estado.
Enquanto Eduardo Cunha (PMDB-RJ), enfrenta forte campanha na disputa pela Presidência da Câmara, Renan se preserva, adiando o anúncio da candidatura. A aliados, diz não ter receio de denúncias. Mantido o cenário atual até 1º de fevereiro, Renan ficará mais dois anos no comando do Congresso. Porém, com mais adversários internos e externos.
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