Vera Magalhães – Folha de S. Paulo
Acusadas de formar um "clube" para dividir obras da Petrobras, as empreiteiras reagem e apontam a própria empresa como a responsável por ditar as regras dos acertos que levaram aos desvios.
As primeiras iniciativas para reagir ao que as empreiteiras veem como uma estratégia do governo para poupar a Petrobras de processos internacionais e seus dirigentes atuais de envolvimento nas investigações foram tomadas pelos advogados da UTC.
Em artigo publicado nesta semana e em peças anexadas ao processo, a defesa da construtora sustenta que a prova de que era a Petrobras quem detinha o total controle das regras é o comunicado em que a estatal proibiu, no fim de 2014, 23 construtoras de participarem de licitações.
A tese, que será abraçada por outras empresas com executivos presos, é que as empreiteiras não podem ser responsabilizadas "na pessoa jurídica" pelos desvios, enquanto a diretores da Petrobras são imputados crimes "na pessoa física", preservando a estatal.
Os advogados acham que o Ministério Público e o juiz Sergio Moro ajudam, ainda que involuntariamente, a estratégia do governo de poupar a Petrobras e a atual direção, ao apontarem o cartel.
Avaliam que esse caminho poupa os políticos que indicaram os diretores flagrados em negociatas, pois circunscreve os crimes a funcionários que teriam se unido a empreiteiros para "pilhar" a Petrobras, como enunciou Dilma Rousseff durante sua posse.
Para o governo, a reação das empreiteiras é mais uma prova do cartel, além de uma tentativa dos corruptores de escaparem incólumes à primeira investigação que os colocou atrás das grades. Resta saber se, para tirar seus dirigentes da cadeia, as empresas terão coragem de apontar como funcionavam, segundo sua versão, as engrenagens do esquema comandado pela Petrobras e pelos políticos.
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