André Guilherme Vieira e Letícia Casado – Valor Econômico
O relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki, destacou haver indícios "de possível envolvimento de várias autoridades detentoras de prerrogativa de foro perante tribunais superiores, inclusive de parlamentares federais" no esquema de corrupção da Petrobras. A referência consta da homologação do acordo de delação premiada do doleiro Alberto Youssef, acusado de ser o principal operador financeiro do esquema, que pode ter movimentado mais de R$ 20 bilhões, segundo revelou o Valor PRO, teria alcançado cerca de 750 obras em todo o país e já é investigado em São Paulo no âmbito estadual.
Em sua delação premiada, Youssef mencionou nomes de cerca de 60 políticos entre deputados federais, senadores e governadores. O doleiro é acusado de operar financeiramente para o PP na diretoria de Abastecimento da Petrobras, durante o período em que foi dirigida pelo também colaborador Paulo Roberto Costa, entre 2004 e 2012.
No documento Youssef permite que autoridades nacionais e estrangeiras tenham acesso a "todos os dados de sua movimentação financeira no exterior, mesmo que as contas não estejam em seu nome, por exemplo, em nome de offshores ou interpostas pessoas, inclusive familiares, o que inclui (...) todos os documentos cadastrais, extratos, cartões de assinaturas, dados relativos a cartões de crédito, aplicações e identificação de depositantes e beneficiários de transações financeiras".
A força-tarefa da Operação Lava-Jato utilizou informações e documentos repassados por Youssef para rastrear extratos bancários que podem identificar os sacadores e beneficiários de propinas da Petrobras que teriam sido pagas no exterior. O Ministério Público Federal (MPF) conta com a colaboração da Suíça para obter os documentos, previstos para chegar ao Brasil este ano.
O doleiro Alberto Youssef disse que 60% da propina desviada da Petrobras eram destinados a políticos e apontou o tesoureiro do PT e conselheiro de Furnas, João Vaccari, como o operador do partido na Petrobras, com atuação na diretoria de Serviços da estatal. Fernando Soares, o "Baiano", preso preventivamente e réu por corrupção e lavagem de dinheiro, foi mencionado por Youssef como o operador do PMDB na diretoria de Internacional, então dirigida por Nestor Cerveró, também encarcerado e processado pelos mesmos crimes.
Ontem os advogados dos executivos da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, e da Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca -presos pela Operação Lava-Jato desde o dia 14 de novembro do ano passado -, solicitaram ao juiz Sergio Moro, titular das ações penais do caso na primeira instância, que deixe de julgar os processos e que os autos sejam transferidos para a Justiça estadual do Rio de Janeiro. Os defensores alegam que o magistrado "manipulou" os atos processuais e que violou competência exclusiva do STF ao processar o ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010.
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