- Folha de S. Paulo
Diz uma velha anedota que, ao criar o mundo, Deus reservou para o Brasil um lugar paradisíaco, farto em riquezas naturais e livre de terremotos e vulcões. Um anjo reclamou que seria injustiça destinar tantas dádivas a um só povo. Ele respondeu: "Espere para ver os políticos que eu vou botar lá".
Parecia impossível que o país voltasse a viver uma crise energética depois do trauma do racionamento de 2001, no governo FHC. Não parece mais. Na segunda-feira, as luzes se apagaram em 11 Estados e no Distrito Federal. O consumo de energia bate recordes, e a falta de planejamento e de investimentos do governo começa a apresentar sua conta.
A escassez de chuvas, que torna cada vez mais desesperadora a crise da água em São Paulo, agora também ameaça a operação das hidrelétricas. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, sugeriu à população que reze por uma ajuda superior.
"Deus é brasileiro. Temos que contar que ele vai trazer um pouco de umidade e chuva para que possamos ter mais tranquilidade", disse, na noite de terça-feira.
Em uma cena digna de pastelão, as luzes do auditório se apagaram no meio da entrevista, deixando no breu ministro e repórteres que o questionavam sobre o apagão. "Essa intercorrência foi do escurinho do cinema", arriscou Braga, revelando um talento insuspeitado para o humor.
O governo tem se esforçado para mascarar as más notícias com eufemismos. A equipe econômica justificou o aumento de impostos como "busca do equilíbrio fiscal". O diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Hermes Chipp, tentou negar a existência do blecaute. "Não houve apagão. O que houve foi um corte preventivo", declarou.
A presidente Dilma Rousseff vem do setor elétrico, mas não parece ter solução à vista para a crise. Ontem soube-se que o Brasil importou energia da Argentina. Depois do apelo do ministro aos céus, ficou mais difícil ver alguma luz no fim do túnel.
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