quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Míriam Leitão - Remédio amargo

- O Globo

Não havia outra saída para o Banco Central. Os juros subiram porque a inflação está tendo uma alta forte, causada pelos aumentos de preços do começo do ano e pelos reajustes que foram represados no passado. O índice de janeiro deve ficar acima de 1%, elevando a inflação em 12 meses para perto de 7%. A alta de 0,5% na taxa de juros vai se somar ao aumento do custo de crédito pela elevação do IOF.

Em fevereiro, a alta da gasolina deve manter a inflação pressionada. O Brasil é o único país do mundo em que a gasolina está subindo, em vez de cair, apesar de o petróleo ter despencado mais de 50%. No mundo inteiro, o combustível está tendo queda de preço, diminuindo fortemente a inflação e aumentando a renda disponível dos consumidores e o caixa das empresas.

Se não tivesse subsidiado o combustível fóssil por quatro anos, o governo poderia agora determinar a redução do preço da gasolina. Mas a Petrobras está recuperando o caixa das perdas acumuladas, até porque a empresa não tem muito como se financiar no mercado, já que enfrenta uma crise de confiança no mercado local e internacional.

A inflação subirá também como resultado da irresponsabilidade elétrica dos últimos anos. O alerta feito pelo especialista Mário Veiga, da PSR Consultoria, há um ano, é que se fosse feita uma campanha de redução de consumo no ano passado o País poderia usar menos térmicas agora, e essa redução diminuiria o custo que será jogado sobre os consumidores.

O BC tem que olhar primeiro para a inflação, e o sinal é muito ruim. O dado de janeiro vai provocar novamente o estouro do teto da meta, o que tem acontecido com cada vez mais frequência, e há projeções indicando que, se nada for alterado, o país tem o risco de terminar o ano acima do limite permitido. Se a inflação estivesse em nível mais baixo, o BC deveria reduzir os juros para tentar elevar o ritmo de atividade que está cada vez mais frio.

Não há nada mais difícil de ser enfrentado por uma equipe econômica do que a dupla inflação alta e ambiente recessivo. O remédio para um piora o outro. Nesse dilema, o BC tem que olhar para a sua meta, que é a de levar a inflação para 4,5%, mas, do ponto de vista do ritmo da economia, esse é o pior momento para aumentar juros.

A Confederação Nacional da Indústria fez uma pesquisa que mostra a preocupação da população com a alta dos preços. Em 2012, a inflação aparecia em 17º lugar como problema considerado extremamente grave no país. Em 2014, havia subido para a 5ª posição no ranking. Isso fez com que o combate à alta dos preços saltasse de 10º para 2º lugar na lista de prioridades que deveriam ser enfrentadas pelo governo. Os sinais, de fato, são preços em alta por pelo menos mais um ano.

Todos já esperavam a alta da taxa de juros na reunião de ontem. Há divergências sobre o que vai acontecer nas próximas. Um grupo de economistas acha que haverá apenas mais uma alta de 0,25%, elevando a taxa para 12,5%. Há quem aposte que pode subir mais e chegar a 13%. Mas, depois do pacote que elevou o custo de crédito através do IOF, aumentaram as dúvidas sobre o comportamento do Banco Central nos próximos encontros do Copom.

Em resumo: o BC está elevando os juros quando a economia está em ambiente recessivo, o que é péssimo que aconteça, mas faz isso para evitar o mal maior que é o descontrole inflacionário. Vários dos aumentos de 2015 foram contratados pelos erros da gestão passada, mas não há outro jeito a não ser lutar para derrubar a inflação. A boa notícia é que agora o Banco Central não briga sozinho, e a equipe econômica faz força na mesma direção.

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