Todos os presidentes vitoriosos nas urnas após o fim da ditadura militar cometeram estelionatos eleitorais. Trata-se de regra, portanto, não de exceção.
Collor confiscou o dinheiro das cadernetas de poupança, medida que na campanha havia acusado o adversário Lula de planejar. FHC conquistou seu segundo mandato com a promessa de preservar os fundamentos originais do Plano Real, que já faziam água por todos os lados e foram abandonados em semanas.
Do lado petista, Lula abraçou em seu primeiro governo as diretrizes neoliberais demonizadas pelo partido, incluindo o Bolsa Família na área social (seu programa era um tal Fome Zero, algumas vezes mais caro). Dilma Rousseff repete a dose agora, com o agravante de ter associado tal agenda à fome e ao desemprego, à base de argumentação rudimentar.
Uns se saíram melhor do que outros de seus embustes. O mais bem-sucedido, claro, foi Lula, que manteve a aprovação do eleitorado e contou com a boa vontade da classe política, além do entusiasmo dos mercados; FHC jogou fora sua popularidade, mas preservou apoios entre os partidos e a elite econômica; Collor ficou sem nada e deu no que deu.
Dilma não é Collor. Dispõe de um partido poderoso e de militantes fiéis na academia, na imprensa e na internet. A vasta base de sindicatos, movimentos e associações ligadas ao PT pode resmungar contra o corte de gastos sociais, mas não tem alternativas na oposição.
No entanto, os consertos necessários nas contas do governo, na inflação e no dólar estão se mostrando mais dolorosos e menos frutíferos que o previsto. O custo da escalada da rejeição da presidente ainda está longe de trazer o benefício da restauração da credibilidade no mercado.
Nesse cenário, a governabilidade dependerá crescentemente da boa vontade do Legislativo, ou do que restar dele após o caso Petrobras. Uma mina para PMDBs, PSDs ou PLs.
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