71% dos brasileiros não têm partido de preferência
• Índice era de 61% em dezembro; nas manifestações de junho, chegou a 64%
• Parcela que diz ter o PT como sigla favorita caiu de 22% para 12%; no mensalão, nível mais baixo foi de 15%
Érica Fraga – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A percepção de aumento da corrupção combinada à expectativa de piora nas condições de vida deflagrou uma crise de representação no país, evidenciada pelo aumento na rejeição aos partidos políticos.
A fatia dos brasileiros que dizem não ter um partido de preferência saltou de 61% em dezembro de 2014 para 71% em janeiro deste ano. Trata-se do maior patamar desde o início da série histórica do Datafolha para essa pergunta, em agosto de 1989.
A rejeição à representação política já tinha dado um salto em junho de 2013 --época dos protestos que pararam o país--, quando passou de 55% para 64%. Desde então, oscilou próxima a esse patamar, mesmo durante a eleição presidencial de 2014.
O aumento registrado agora foi silencioso, sem novas manifestações abrangentes de rua, mas confirma o desalento da população brasileira. Isso se refletiu nas respostas a outras perguntas do Datafolha, como as expectativas em relação ao futuro da economia e ao da própria situação financeira de cada um.
Todas indicaram um crescimento do pessimismo. O novo sentimento contrasta com o verificado até o fim do ano passado.
Três meses e meio após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o apoio da população ao PT recuou para o patamar de dezembro de 1998, pouco antes de o partido ter conseguido tirar do PMDB a preferência do eleitorado. Isso acabou pavimentando o caminho para a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, em sua terceira tentativa.
Entre dezembro de 2014 e janeiro deste ano, a parcela dos eleitores que dizem, em resposta espontânea, ter o PT como seu partido favorito caiu de 22% para 12%. Na época do mensalão, o nível mais baixo tinha sido de 15%.
Sem beneficiários
A queda de apoio ao partido não beneficiou as legendas rivais. Principal sigla de oposição, o PSDB viu sua base de apoio ir de 7% para 5%. Algumas siglas pequenas oscilaram de 0% para 1%, mas o movimento tem sido pendular.
A dificuldade da oposição em capitalizar a desidratação do PT pode se explicar em parte porque, embora generalizado, o aumento do desalento em relação à sigla foi forte entre seu eleitorado mais fiel.
Na pesquisa de dezembro de 2014, entre os simpatizantes do PT, 71% consideravam o desempenho do governo ótimo ou bom.
Agora, esse índice é de 52%. Na via oposta, a fatia dos petistas que avaliam a administração atual como ruim ou péssima quadruplicou, passando de 3% para 12%.
A queda na avaliação de Dilma foi intensa entre a população de renda baixa e pouca escolaridade.
Embora permaneça em patamar mais elevado do que nos demais estratos, o recuo da aprovação entre os brasileiros que têm o ensino fundamental despencou de 54% para 31%.
No recorte dos que têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos, a queda foi de 50% para 27%.
Regionalmente, o recuo foi mais marcante no Nordeste, com queda na aprovação de 53% para 29%.
Com isso, o Norte, onde a queda foi de 51% para 34%, ultrapassou o Nordeste como região onde o PT conta com seu maior apoio.
Os dados foram levantados pelo Datafolha em pesquisa realizada entre os dias 3 e 5 de fevereiro, com base em 4.000 entrevistas feitas em 188 municípios.
A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
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