segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Renato Andrade - Jogo limpo

- Folha de S. Paulo

Ser criticado por adversários faz parte do jogo político e muitos sabem transformar, com maestria, uma pancada no fígado em apoio popular.

Dilma Rousseff conseguiu isso durante o segundo turno das eleições presidenciais do ano passado. Aécio Neves perdeu votos preciosos, especialmente entre o eleitorado feminino, depois que chamou a presidente de leviana, durante um debate na TV.

Em questão de horas, o bom moço das Minas Gerais virou um sujeito que não sabe tratar de maneira correta uma mulher. E a guerrilheira que enfrentou a ditadura militar virou mais uma vítima do machismo que segue forte na sociedade brasileira.

Mas o que fazer quando a crítica é expressa não por um adversário com nome e sobrenome, mas por uma massa composta por homens e mulheres de camadas sociais distintas?

Esse é um dos desafios que a mais recente pesquisa do Datafolha indica que o Palácio do Planalto terá que enfrentar. A escala do problema é considerável. Quase metade dos brasileiros considera a presidente desonesta, além de falsa e indecisa.

Reverter essa avaliação sobre a pessoa da presidente é fundamental para que o Planalto consiga o respaldo mínimo da população para enfrentar questões concretas como a inflação alta, a economia em marcha lenta, além da possível falta de água e energia no país.

O enfrentamento de tal quadro de dificuldades por parte de um governo bem visto pelos seus governados não é tarefa simples. A mesma situação sendo administrada por um "desonesto" é receita certa de fracasso.

Para mudar essa visão, Dilma e sua equipe terão que fazer o que até agora não fizeram: dizer com todas as palavras o que está acontecendo, o que terá que ser feito e quais as reais consequências.

Altas doses de sinceridade tendem a derrubar avaliações de desempenho de governantes. Mas considerando os atuais números de Dilma, não há muito a perder.

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